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21.10.14

ROSA PARTE VI


Deixou-a sozinha. Rosa estava espantada. Foi até ao outro quarto. A tina para o banho era enorme. Devia caber lá dentro uma pessoa estendida. E ela estava habituada a tomar banho num alguidar. Tirou a roupa e meteu-se dentro de água. Estava fria mas não se importou. Afinal estava-se no fim de Setembro e o tempo ainda não ia muito frio. A toalha era tão macia, que se enxugou deliciada. Depois, procurou no armário alguma coisa para vestir e, entre os vários fatos que lá estavam, escolheu um vestido azul. Olhou-se no espelho e achou-se estranha, com o grande decote e a saia quase pelo joelho. Mas enfim se era assim que se vestiam na cidade…
Tinha acabado de se vestir quando a mulher a veio buscar para jantar. Na casa de jantar, já estavam quatro jovens a quem a mulher a apresentou dizendo que eram companheiras de trabalho. Ficou espantada. Devia ser uma casa muito rica para ter tanta criada.
Durante o jantar, enquanto a mulher foi atender o telefone, uma das raparigas perguntou-lhe se ia para a sala nessa noite.
-Fazer o quê? – Perguntou
- Esperar os clientes. A maioria vem de dia, mas alguns vêm sempre à noite.
- Clientes? Do quê?
A outra viu que ela não sabia do que se tratava e apressou-se a calar-se não fora a “madame” zangar-se.
Quando a mulher voltou, Rosa perguntou-lhe quando começava a trabalhar. Ela não se importava de começar já. Podia lavar a loiça e arrumar a cozinha. As outras raparigas olharam-se entre si espantadas.
- Falamos quando acabarem de jantar - disse a mulher
No fim do jantar, chamou-a a uma pequena sala e aí disse-lhe:
 -Aqui não terás que fazer trabalhos domésticos. Só terás que atender alguns clientes e seres simpática com eles. Em troca, terás comida, roupa e até algum dinheiro no fim do mês. Só não poderás sair à rua sozinha.
- Mas simpática porquê? Tenho que vender alguma coisa?
- Ó rapariga, mas de onde diabo vens tu? Ainda não percebeste? Isto é uma casa onde os homens vêm em busca de umas horas de prazer, ou de alguma fantasia que as mulheres não lhes fazem em casa. A “mercadoria são vocês”.
- Mulher da vida? – Perguntou a medo lembrando-se de quando ouvira a palavra lá na aldeia e perguntou à avó o que era.
- Ah! Afinal sempre sabes alguma coisa.
- Não quero. Quero ir- me embora – gritou.
- Podes ir! - Disse a mulher com estranha calma. Vai dormir para o jardim onde te encontrei. A meio da noite, terás que aguentar os homens que por lá passem e sem que te paguem. Bem podes gritar, que se alguém aparecer e chamar a polícia ainda vais presa. Aqui, podes descansar hoje e amanhã começas a trabalhar. És muito bonita. Não vão faltar interessados.
Rosa, completamente destroçada, muda de espanto e medo, recolheu ao quarto e atirou-se para a cama a chorar desconsoladamente.


Continua

26 comentários:

lourdes disse...

A Rosa era mesmo ingénua, coitada.
Nem achou estranho que uma pessoa que nunca a tinha visto "mais gorda" lhe proporcionasse tanto conforto.....

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Em grande arapuca, foi se meter a inexperiente e ingênua Rosa. Com certeza, vai ficar e chorar vales de lágrimas! Aguardemos, a próxima parte...
Produtiva semana, Elvira! Meu abraço!

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, boa noite!
Quantas Rosas existem por ai, que acreditaram na bondade de certas pessoas...
Uma pena! Seria tão bom se todos estendessem suas mão desinteressadamente!
Muito bom Elvira!
Beijos,
Mariangela

Unknown disse...

Quadros reais que se repetem em todos os tempos e cidades.
A fragilidade humana e a exploração feita por outros que se aproveitam dessas situações.

Senti o mundo a desmoronar-se nas lágrimas dessa jovem.

Maria disse...

Eu bem dizia :)))! Quando a esmola é muita o pobre desconfia, lá diz o ditado !!! Estou a gostar muito!
Beijinhos
Maria

chica disse...

Era uma bruxa muito má a senhora, aparentemente boazinha! Pena, pobre Rosa! bjs, chica

Teresa Brum disse...

Coitadinha da Rosa, vamos ver como se sairá.
Estou gostando muito, um abraço.

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

A Rosa aterrou noutro mundo que ela nem sequer imaginava existir...
Como lá diz o ditado:um mal quando vem, nunca vem só...Vida difícil a da Rosa.Veremos o que lhe vai acontecer...

Um abraço
Vitor

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

Embora tivesse desconfiado do "anjo" no capítulo anterior, não pensei que se tivesse transformado em "diabo" para a Rosa. Coitada da senhora, teve tanta pena da Rosa, que só a acolheu por ela ser jovem e bonita. Não creio que a Rosa tenha saído da aldeia para a cidade pensando em se prostituir!

Um bom dia para você amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

RENATA CORDEIRO disse...

Belo anjo a aproveitar-se da ingenuidade de Rosa. Espero que consiga safar-se dessa.
Beijo*

Bell disse...

Que triste, ela não merece isso =/

bjokas =)

Paulo Cesar PC disse...

Grato querida Elvira sempre por sua visita ao nosso espaço. Um beijo no seu coração.

António Querido disse...

Tina, chamavam na minha aldeia, ao depósito de madeira redondo, que transportava as uvas até à adega onde eram esmagadas, a Rosa foi esmagada por quem a acolheu com fins lucrativos, até os soldados que têm obrigação de proteger as mulheres, esmagaram as outras e roubaram, é o nosso mundo que sempre terá doentes mentais!
Com o meu abraço.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Pois mais uma história primorosa
que nos está a contar!...
Veremos como termina, aí está
o encanto de ter que esperar
pelo fim.
Desejo que esteja bem.
Bj.
Irene Alves

esteban lob disse...

Como siempre, es una excelente historia, amiga Elvira.

Primero la leí en idioma portugués y entendí bastante. Luego usé el traductor y me pareció una versión malísima, que le hace daño a la calidad de tu escrito.

Preferí volver al idioma original, que pese a que yo pudiera no entender aloguna palabra, es mucho más fiel a lo que quieres decir con calidad literaria y amenidad, que una traducción muy imprecisa y tergiversadora.

Un abrazo.

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
COITADA DA ROSA, UM GRANDE DILEMA.
ESTÁ MUITO BOM AMIGA.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

lis disse...

OI Elvira
E eu ingenuamente até acreditei na generosidade da mulher _ rs acho que sou tão ou mais ingênua que a Rosa. rs
E agora? será que vai enfrentar a vidinha 'diferente'que vai surgindo?
que encrenca hem? se vai pra rua pode se dar mal, mas pode encontrar um trabalho honesto também_ é um caso a encarar... eu ia preferir a rua... rs
abraços Elvira _ boas inspirações tá
Fique bem!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

pois, era o eu estava a pensar...

triste sorte a da Rosa...

:(

Emília Pinto disse...

Eu estava a temer que fosse este o resultado, embora bem lá no fundinho tivesse uma ténue esperança de estar enganada. Penso que a Rosa vai acreditar na mulher e vai ter medo de voltar à rua e procurar outro tipo de trabalho. Claro que corre riscos se sair de lá, mas também pode encontrar um anjo que a ajude, porque felizmente não há só bruxas. Vamos esperar para ver. Beijinhos, Elvira e até ao próximo capítulo.
Emília

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, fiquei surpreendido com o desenvolvimento da historia, estava fora do meu pensamento, penso que ela (Rosa) não vai sujeitar-se à exploração física.
NO Algarve existe o lado turístico que a maioria das pessoas conhecem e o lado não turístico que se encontra em estado selvagem ou meio selvagem, as minhas fotos de hoje mostram a ilha da fabrica, situada no conselho de Tavira no Algarve, nesta ilha, assim como outras existentes na minha região, não existe estradas, hotéis, cimento armado ou casas em madeira, nem zonas concessionadas, poucas pessoas frequentam esta enorme beleza com agua transparente e temperada entre o Oceano e a Ria Formosa.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

MARILENE disse...

Que triste sina! Pensei que ela havia encontrado alguém que a fosse ajudar, verdadeiramente. É com essa ingenuidade que muitas mulheres, já desesperadas, entram em um mundo no qual nunca desejaram estar. Bjs.

Zé Povinho disse...

"O anjo" afinal era apenas a madame que pretendia ganhar com o negócio da "mais velha profissão do mundo". A realidade por vezes é muito, muito feia....
Abraço do Zé

Isamar disse...

Rosa viu-se confrontada com uma realidade cruel e inesperada. Uma santa alma, ingénua e quase desconhecedora desta realidade, acabou por cair na armadilha que esta "madame" lhe havia preparado. Tal como, provavelmente, já fizera com as outras meninas.Vender o corpo deve ser a tarefa mais difícil para quem quer que seja. Fiquei arrepiada e, mais uma vez, emocionada com a narrativa. Continua minha querida amiga que tens talento para criar estes textos, verdadeiros quadros vivos da vida de algumas pessoas. Beijinhos

Isamar disse...

Rosa viu-se confrontada com uma realidade cruel e inesperada. Uma santa alma, ingénua e quase desconhecedora desta realidade, acabou por cair na armadilha que esta "madame" lhe havia preparado. Tal como, provavelmente, já fizera com as outras meninas.Vender o corpo deve ser a tarefa mais difícil para quem quer que seja. Fiquei arrepiada e, mais uma vez, emocionada com a narrativa. Continua minha querida amiga que tens talento para criar estes textos, verdadeiros quadros vivos da vida de algumas pessoas. Beijinhos

Berço do Mundo disse...

Bem me parecia que as coisas não iam correr bem. Espero que a rapariga consiga fugir do destino que a espera.
Beijinhos, uma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo