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28.2.14
AS MINHAS DESCULPAS
Amigos peço desculpa pela ausência. Tenho estado muito doente. Esta semana tenho ido para as urgências quase dia sim dia não. Estou muito fraca. Espero voltar logo que esteja melhor.
21.2.14
A ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES - FINAL
Foto DAQUI
- Sente-se mal, senhor?
Era a mulher jovem que vira ao entrar. A outra também se aproximou. Olhou
para ele, olhou para a morta e soltou uma exclamação abafada.
- Santo Deus!
Havia tal espanto na sua voz que a jovem olhou. O homem também o fez. E o
que viu encheu a sua alma de espanto. Os olhos da Esperança, tinham voltado a
ser castanhos, tal como ele os recordava. Um castanho quente e doce, a que nem a frieza
da morte retirava encanto. Assustado, fugiu dali como se fosse perseguido,
enquanto a jovem cerrava suavemente os olhos da defunta, dizendo:
- O Chico! Só podia ser o Chico! Meu Deus por que não me ocorreu logo?
***********
- Ciiiincoooo caaartassss, deeezzzzz
toooostõeeees!
Quedei-me surpreendida ao ouvir aquele pregão numa voz masculina. Procurei,
com o olhar, o dono da voz e deparei com o Chico que, de cartas na mão, andava
de um lado para o outro apregoando:
- Ciiiiincoooo caaartassss, deeezzzzz
toooostõeees!
Durante os dias que se seguiram ao funeral da "Esperança dos olhos
verdes”, e aproveitando o resto das minhas férias, tinha conseguido saber que o
Chico tinha voltado do Brasil, viúvo e muito rico. Vinha com a intenção de se
fazer perdoar e viver enfim um amor que tinha ficado perdido no passado. Devo
acrescentar que me foi fácil descobrir isto. Bastou seguir o Chico no próprio
dia do funeral e apresentar-me como amiga da Esperança. Como tinha sido vista
por ele, em casa dela, não foram difíceis as confidências.
Mas então que história era aquela? Porque estava ali a vender cartas no
Terreiro do Paço, junto à gare fluvial da travessia Lisboa /Barreiro? E que
roupas eram aquelas tão simples e semelhantes aos outros vendedores?
Correndo o risco de chegar atrasada ao emprego, interroguei-o. Ele então
contou-me, que os remorsos não o deixavam em paz, depois de saber da sofrida
espera da amada.
Assim resolvera doar em nome da falecida a sua fortuna para instituições de
caridade.
E, agora ,ali estava no sítio onde ela vivera e fazendo o que ela fizera.
Procedendo assim,sentia-se mais perto da mulher a quem tanto amara e que
desgraçara por ambição.
- Talvez, quem sabe, seja mais fácil obter o seu perdão e viver este amor
numa outra dimensão.
Apertei-lhe o braço, tentando dar-lhe algum consolo e afastei-me,
acompanhada pelo pregão tão conhecido:
- Ciiiincoooo caaartassss, deeezzzzz
toooostõeees!
Fim
Maria Elvira Carvalho
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viúvo
16.2.14
ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES PARTE VI
NOTA
AMIGOS, NÃO SEI O QUE ACONTECEU QUE PERDI TODOS OS VOSSOS LINKS.
TENHO ANDADO A RECUPERÁ-LOS MAS É DEMORADO. POR ISSO NÃO TENHO FEITO AS VISITAS HABITUAIS. AS MINHAS DESCULPAS.
Tanto que a pobrezinha sofreu por amor do Chico. Quando percebeu quão
falsas tinham sido as suas promessas, desinteressou-se da vida. Era costureira.
Deixou a costura. E olhe que tinha muita freguesia. E foi para o Terreiro do
Paço vender cartas. Mas passava horas e horas a olhar o mar, e de tanto o
olhar, os seus olhos castanhos foram ficando da cor do próprio mar. Como se os olhos quisessem manter viva a esperança que o seu coração já
sepultara.
A voz de Rita era apenas um murmúrio, enquanto velávamos o cadáver da infeliz. Desde
aquele dia em que a vira doente, aproveitando as minhas férias, tinha ido todos
os dias visitá-la e fizera amizade com a Rita, talvez a sua única amiga e
vizinha.
Mas só hoje, depois da sua morte, e ali na presença do seu corpo, Rita me
contara a história da pobre Esperança.
Não pude evitar as lágrimas. E pensei que se há amores que são a nossa
razão de viver, outros pelo contrário tiram-nos a vida….
Depois de muito procurar o Chico conseguira finalmente saber onde vivia
agora a Esperança e, ansioso, seguiu num táxi a caminho de sua casa. Estava
nervoso e emocionado. Ia finalmente rever a “sua” Esperança, depois de quase 30
anos. Dava-se conta que apesar do seu casamento, do abandono a que a votara,
ele sempre sentira a doce e meiga rapariga como uma “coisa” sua. Durante todos
os anos em que remoeu o seu remorso, sempre o fez convicto de que ela estava à
sua espera. Jamais passara pela sua cabeça, que a jovem podia ter casado, ter
filhos, uma família, enfim… E se por momentos essa ideia o assaltava, ele logo
a afastava como quem tira um obstáculo do seu caminho.
O carro acabara de parar junto a uma modesta habitação. Pagou a corrida e
bateu à porta. Depois, reparou que estava só encostada e, como ninguém vinha
abrir, empurrou a porta e entrou. Quedou-se na ombreira, paralisado pela
surpresa, o rosto lívido.
A primeira coisa que os seus olhos viram, foi a urna, iluminada por duas
lamparinas. No chão, uma coroa de flores. A um canto, duas mulheres conversavam
baixinho enquanto velavam a aquela que ele reconhecera imediatamente como sendo
a “sua” Esperança. As duas mulheres olharam-no e depois trocaram um olhar entre
si como quem pergunta:
-“Quem será?”.
Não lhes ligou. Com passos vacilantes, aproximou-se da urna. Olhando a
imensidão de rugas no rosto feminino, bem como a pobreza à volta, deu-se conta
que a vida não tinha sido nada fácil para a mulher. Sentiu uma punhalada no
peito e um nó na garganta.
Quem sabe não fora ele o causador daquele infortúnio?
E pensava nos sonhos que arquitectara no caminho até ali. Tinha chegado
tarde para pedir perdão, tarde para tentar compensá-la dos anos de espera,
tarde para viver, enfim, o sonho da juventude. Havia chegado atrasado! Era como
que um castigo do céu. Já era tarde quando se arrependeu do casamento e era
tarde para chegar ali.
Como num filme, passou-lhe pela memória a recordação de todos aqueles anos
desde que a conhecera. Uma lágrima rolou pelas suas faces. Nem sequer podia ter
o consolo do seu perdão.
Os olhos da morta, intensamente verdes, pareciam dois lagos de água.
Verdes? Mas não eram castanhos os olhos da Esperança? Ele tinha a certeza de
que eram castanhos, um quente e belo castanho dourado. E, no entanto, agora
eram verdes. Como podia ser? Seria que até a cor dos olhos da mulher que tanto
amou, ele não recordava direito? Até ele chegou o murmúrio da mulher mais
velha.
- Faz-me aflição ver assim a pobrezinha. Mas não consegui fechar-lhe os
olhos.
- Eu também tentei e não o consegui. É como se ela esperasse por
alguma coisa ou alguém – respondeu a outra mulher, bem mais jovem.
Chico estremeceu. Afinal ele não se enganara. Ela esperara-o toda a vida e
continuava à sua espera mesmo na eternidade.
A dor foi tão grande que cambaleou.
Continua
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9.2.14
ESPERANÇA DOS OLHOS VERDES - PARTE V
foto daqui
Esperança, a doce namorada, estava muito longe de si, e da sua nova
situação de homem rico. E casando com Laura podia juntar à sua a imensa fortuna
do sogro.
Além disso, Esperança era uma moça simples que talvez nem soubesse mover-se
no mundo em que ele agora se movimentava. Laura era uma mulher elegante, habituada a frequentar qualquer
lugar por muito chique que fosse. Movia-se na sociedade como peixe dentro de
água.
A ambição de Chico era maior do que ele, e a pouco e pouco foi encurtando as cartas para Portugal. No dia em que retirou do pescoço a medalhinha de ouro e a guardou numa caixinha,
sentiu-se um canalha e por momentos teve vergonha de si próprio, mas logo calou os ultimos resquícios de honra, escondendo a caixinha no fundo de uma gaveta no seu escritório. E casou com Laura. Graças à influência do sogro, o prestígio do
Chico cresceu tanto como os seus negócios.
Curioso foi que crescera também um sabor amargo, uma desilusão que não o
deixava ser feliz.
Tarde demais, dera conta de duas coisas. A primeira era que se vendera
miseravelmente por dinheiro, a segunda, era que Laura era egoísta, caprichosa e prepotente. Muito diferente da
meiga Esperança. Enquanto o pai era vivo, ainda se fora comportando. Porém com a sua
morte, foi como se se rompessem todas as cadeias que ainda a prendiam á
decência. Saía de casa a qualquer hora sem dar satisfações ao marido e quando
este lhe chamava a atenção para o facto de que não era correcto uma mulher
casada sair com outro homem que não o marido, ela ria-se dele dizendo que era
apologista do amor livre.
Pensou divorciar-se mas, naquela época, não era permitido o divórcio no
Brasil. E assim, naquele inferno, viveu dezoito anos.
Quantas vezes ao longo desses anos pensou em Esperança. E quantas vezes
pensou que estava a pagar o pecado de ter desprezado a mulher que tudo lhe
dera, física e moralmente.
Uma manhã, a polícia telefonou-lhe para o escritório a anunciar a morte de
Laura. Tivera um desastre quando conduzia a grande velocidade. Ela e o
companheiro tiveram morte imediata.
Não sentiu pena. Que Deus lhe perdoasse mas até sentiu um certo alívio. E
passaram-se mais três anos. Três anos em que travou árdua luta entre o desejo de voltar a Lisboa, e procurar a "sua" doce Esperança, e o pensamento de que ela estaria casada e feliz sem ele. Por fim, venceu a vontade de voltar a Portugal. Vendeu tudo,
transferiu o dinheiro – uma fabulosa fortuna – para um banco português e
comprou a viagem de regresso.
Não quisera vir de avião. A viagem seria demasiado rápida e ele precisava
de tempo para pensar. E agora, a poucos minutos do desembarque, só pensava numa
coisa. Rever Esperança, saber como estava, o que fazia.
Assim que desembarcou, apanhou um táxi e dirigiu-se a casa dela. Pelo
caminho foi olhando tudo. Quase não reconhecia Lisboa, tão diferente estava de
quando ele a deixou.
E pensava. Por certo Esperança teria casado, talvez tivesse filhos. Era o
mais lógico. Quem sabe nem mais lembraria dele. Ainda assim, ele queria
pedir-lhe perdão.
A primeira decepção, apanhou-a quando ao chegar ao lugar onde outrora fora
a casa da jovem, encontrou um moderno edifício. Ali ninguém sabia quem ela era
nem onde vivia.
-Foi melhor assim! – pensou. Que poderia eu dar-lhe agora? Dinheiro? E pode com dinheiro comprar -se o perdão, e a paz de consciência?
Logo, porém, afastou os seus pensamentos e murmurou:
- Tenho de encontrá-la…
Á margem:
Aos amigos que por aqui passam, as minhas desculpas pela minha ausência nos vossos cantinhos, na última semana. Mas uma semana que começou alegre com o aniversário da netinha que fez 5 anos terminou com o funeral da penúltima irmã de minha mãe, que faleceu dia 6, precisamente um dia depois do aniversário da morte de minha mãe.
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