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19.1.18

A VIDA É... UM COMBOIO - PARTE IX







Carlos saudou a esposa com um beijo breve.
- Boa tarde, querida. Olha quem trouxe para almoçar connosco.
- Espero que não te importes, - disse Amélia.
- De modo algum, fico feliz de que o Carlos tenha conseguido arrancar-te à tua vida de reclusão. Vamos sentar-nos?
Escolheram uma mesa um pouco afastada e sentaram-se.
- E como vai o teu pequeno Príncipe? Não o vejo desde que há dois anos esteve na festa da minha sobrinha-neta. Deve estar bem crescido, as crianças agora parecem crescer mais depressa do que no nosso tempo.
- Está realmente crescidinho. É um bom menino, muito inteligente, é o melhor aluno da turma e quase não abre os livros.
- Sabes, com a minha reforma, a Amélia vai finalmente ser promovida. Vai ficar com a minha quota, e o meu lugar.
- Aleluia! Só por isso já valeu a pena pedires a reforma antecipada.
-Penso que foi mesmo por isso, - disse Amélia. A ideia do chefe devia ser preparar o Pedro para ocupar o lugar do teu marido. Com esta antecipação ficou como o povo diz, no mato sem cachorro. Não pensas o mesmo, Carlos?
- É claro que sim. Ele sempre pensou que ao deixar-te para trás nas promoções, tu pedirias a demissão. Mas tu aguentaste firme, és uma excelente profissional, bem melhor do que alguns que te ultrapassaram, e ele não pôde despedir-te. Palavra que nunca entendi como um homem tão sensato e liberal como era o seu pai, pode ter tido um filho com ideias tão retrógradas e discriminatórias.
Calaram-se com a aproximação do empregado. Fizeram os pedidos e só depois que ele se afastou, Teresa perguntou:
- Nunca mais vais tirar essa aliança, Amélia? Desculpa a pergunta, mas conheço-te há mais de dez anos. Deves lembrar-te que eu era a secretária do senhor Sousa e que estava a teu lado quando soubeste da morte do teu marido. Despedi-me e mudei de emprego quando o Carlos foi promovido, mas ainda acompanhei a tua gravidez. Ambos temos um grande carinho por ti, e não gostamos de ver que te fechaste para a vida e para o amor.
- Sei. Também gosto muito de vocês e espero que a reforma do teu marido, não signifique um afastamento total. Tenho a certeza de que vou precisar dos conselhos do Carlos. Quanto à aliança ela defende-me de alguns atrevidos. O amor não se fez para mim, Teresa. Casei tão apaixonada que teria dado a minha vida pelo meu marido. E o que é que ele me deu em troca? Traição. Nunca mais quero passar por esse sofrimento.
- Credo, mulher, pareces uma velha a falar. Sabes o que a minha avó costumava dizer? A nódoa de uma amora verde, com outra amora, se tira, que é como quem diz, o sofrimento de um mau amor, com outro amor se esquece.
O empregado aproximou-se com os pratos, e o resto da refeição decorreu de forma amena, como se os três desejassem pôr ponto final nos assuntos pessoais.