Ficou triste. Mais do que isso, sentia-se irritada. Gostava do emprego, tinha-se esforçado por ser uma boa empregada e não tinha tido culpa de ter adoecido.
- Não fiques triste. Não é nada pessoal, acontece a qualquer um. E é melhor assim, precisas pôr-te boa e ainda vai levar um tempinho até que voltes a sentir-te como antes, - animou-a Quim.
-Sei. Mas não consigo evitar. Gostava do trabalho e as colegas eram uma simpatia. Também estou preocupada contigo, passas os dias comigo, não tens ido trabalhar…
-Não te preocupes. Nesta época a afluência ao restaurante baixa sempre de forma drástica. Por isso costumamos fechar oito dias antes do Natal, e reabrimos dois dias antes da passagem de ano. Natal é tempo de recolhimento, de família, mas no ano novo é diferente, é sempre dia de muito movimento. Faltam poucos dias para o Natal. Gostaria de cear com os tios. Achas que estarás bem até lá?
- Espero que sim. Estou cansada desta imobilidade.
Uma sombra de tristeza ensombrou o seu rosto. Ele reparou. Estava sempre atento.
- É a proximidade do Natal? Sentes saudades? - Perguntou
- Sim. É o primeiro Natal que passo longe dos meus pais. Da nossa terra.
Sentia vontade de chorar, mas não o queria fazer na frente dele. Já lhe bastava o sentir-se feita um trapo velho, o rosto macilento, o cabelo sem brilho, o corpo sem forças pela doença.
O carinho com que a tratava, fazia com que cada dia gostasse mais dele. Mas com aquele aspeto era impossível provocar algum sentimento nele que não fosse compaixão.
O carinho com que a tratava, fazia com que cada dia gostasse mais dele. Mas com aquele aspeto era impossível provocar algum sentimento nele que não fosse compaixão.
Será que ele ainda pensava na Joana-Boneca? Ela sempre pensava na outra, como um boneca, não conseguia imaginá-la como uma mulher a sério.
No dia
seguinte, escreveu uma longa carta para a mãe. Falou da cidade, da casa, do marido. Disse-lhe que não estivesse preocupada, ela era muito feliz. Mas não disse que estava doente, nem falou das saudades que tinha de casa.