E passaram quase seis anos. Helena, viveu com os pais, até que o filho fez dois anos, trabalhando num posto médico na aldeia vizinha. Depois achando que o filho estava suficientemente crescido para entrar numa creche, começou a enviar currículos para hospitais e clínicas da capital.
Pensava que tinha chegado a hora de dar um pulo na profissão, quiçá concretizar o sonho da sua vida. Três meses depois, tinha uma proposta de trabalho muito interessante numa clínica privada, para pequenas cirurgias de ambulatório. Ela gostaria mais de um hospital estatal, mas a proposta era irrecusável, o horário deixava-lhe muito tempo livre, já que estava ocupada apenas da parte da manhã, e quem sabe mais tarde conseguia entrar para um hospital. Afinal ela tinha conhecimento de que havia tantos médicos que trabalhavam em hospitais e clínicas, ou consultórios particulares em simultâneo. Assim mudou-se de armas e bagagens para a capital, alugou um pequeno apartamento, arranjou uma creche para o filho e iniciou uma nova vida.
Com a falta de médicos no país, e com o seu curriculum, não foi difícil conseguir trabalho num dos hospitais da capital. Foram apenas seis meses de espera. Depois teve que conciliar o trabalho no hospital, com o da clínica, reduzindo as horas na Clínica e passando-as para o final da tarde, depois da saída do hospital. Teve que arranjar uma empregada de confiança para ir buscar Diogo à creche, e ficar com ele até à hora em que ela chegava. Felizmente que a lei lhe permitia não fazer turnos, por ter um filho com menos de doze anos a seu cargo.
O seu filho completara cinco anos, no próximo ano entraria para a escola oficial. Ela estava feliz com a sua profissão. Estava no chamado hospital dia, fazia apenas as pequenas cirurgias que podiam ser feitas em ambulatório, mas ainda assim era melhor que o anterior trabalho de médica de família no centro da aldeia. Na semana anterior, tinha ido a Londres assistir a um congresso. Antes disso foi à terra levar o filho, que deixou com os pais. Podia deixá-lo com a empregada, ela era competente e adorava o menino como se ele fosse seu próprio neto. Mas ela tinha a certeza, de que os pais teriam ficado aborrecidos se o fizesse. Era essa a razão, porque ela se encontrava naquela tarde de domingo, a despedir-se dos progenitores, para empreender a viagem de regresso a casa.
Uma hora depois o carro avariou, e Helena viu-se obrigada a telefonar para a Assistência em viagem e aguardar que mandassem alguém para solucionar o caso.