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8.12.15

AMANHECER TARDIO - PARTE X


                                          Rua da Barroca - Foto minha

Ultimamente recordava demasiadas vezes o passado. Talvez que fosse um alerta do seu relógio biológico. Mas não conseguia afastar as recordações.
Lembrou aquela tarde em que disse aos pais que queria trabalhar. E pouco tempo depois estava a trabalhar numa papelaria. Mas o trabalho, não chegava para apagar na memória e no coração a angústia pelo que tinha acontecido. Decidiu estudar. Matriculou-se num curso nocturno. Era uma boa aluna. Terminou o Secundário. Seguiu-se a faculdade. Ela sempre gostara muito de publicidade e era muito criativa. Na hora da escolha decidiu-se pelo curso de Marketing, Publicidade e Relações Públicas. O fim do Curso foi o último dia em que teve os pais junto de si.
Fechou o livro. Olhou à volta e reparou no homem que um pouco mais à frente observava qualquer coisa na água. Encontrava-se de frente para a ribeira, com um pé em cima da muralha e a mão apoiada no joelho. Vestia calça de ganga e uma camisa branca. 
Isabel não conseguiu ver-lhe o rosto voltado para a marina, mas qualquer coisa nele lhe despertou a atenção e pensou que a figura não lhe era totalmente estranha.
Encolheu os ombros, levantou-se e iniciou o regresso a casa., desta vez subindo a rua da Barroca. 
Nessa noite Isabel custou a adormecer.  O que mais lhe desagradava na cidade eram as noites demasiado barulhentas para o seu gosto. Contudo ela não costumava sofrer de insónias, e quase sempre depois de dez minutos de leitura estava pronta a entregar-se nos braços de Morfeu. Porém hoje, a noite há muito entrara pela madrugada, e ela continuava a dar voltas e voltas na cama sem adormecer. As lembranças surgiam como fantasmas, avançando traiçoeiras a coberto da escuridão nocturna.
Recordou o dia em que terminou o Curso, a alegria dos seus velhos pais, apesar do ar cansado da mãe. Há dias que ela andava assim, mas quando Isabel perguntava se tinha alguma coisa, sempre respondia sorrindo. “Nada filha, não é nada. Ou melhor, é o peso dos anos”.
Bem cedo no dia seguinte, o pai bateu-lhe à porta do quarto, pedindo para ela ir ver a mãe que não acordava. 

9.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXI

Depois do almoço, foram até à baixa. Passearam um pouco pela larga avenida da cidade, e sentaram -se na muralha que separava a avenida da ribeira que ali vinha desaguar no oceano. O verão terminara há muito, mas o outono mantinha-se ameno, pelo menos durante o dia, que à noite sempre se levantava vento, e fazia frio. Havia ainda muitos turistas na cidade, e os barcos rumo à marina, ainda eram frequentes. Falaram de coisas sem importância, ou melhor, Miguel falou, a jovem limitava-se a ouvir, por vezes atenta, outras nem isso.
Por vezes  Miguel desesperava, e quase tinha vontade de desistir. Ir à sua vida e deixar a jovem ali perdida nos seus labirintos interiores. Mas logo se recriminava. Ele nunca fora homem de desistir de nada, não era agora que ia começar a sê-lo. Outras vezes recriminava-se  por não ter  naquele dia, quando saíram da falésia, acompanhado a jovem à polícia e ter dado  parte do acontecido. Mas logo se desculpabilizava, com o pensamento de que o facto de lhe ter salvo a vida, lhe dava a responsabilidade de a integrar nela. E ela só podia voltar verdadeiramente à vida quando recuperasse a memória. 
Levantou-se, e estendeu a mão à jovem.
-Vamos Teresa? São horas do lanche. E ainda precisamos fazer umas compras.
Depois do lanche, entraram numa papelaria. Miguel ia comprar um caderno de desenho e um lápis para que a jovem fizesse o que o médico lhe recomendara. Ela porém estacou à entrada, onde estavam algumas revistas expostas. Com uma breve mirada, Miguel viu que se tratava de revistas sem nada se interessante, revistas de programação televisiva, e de palermices sobre os artistas, as revistas habitualmente apelidadas de cor de rosa.
Depois de efectuada a compra, dirigiu-se à saída onde a jovem continuava na mesma contemplação.
Intrigado perguntou:
- O que há de tão interessante, nessas revistas?
- Não sei. Gosto desse, - e apontou a capa de uma pequena revista, com uma conhecida artista de novelas. Miguel olhou e leu em voz alta.
-Mariana. É isso? O nome de Mariana, diz-lhe alguma coisa?- Perguntou esperançado.
-Não sei, respondeu ela confusa. Mas gosto dele.
- Pois a partir de hoje, será Mariana. E quem sabe não é esse o seu verdadeiro nome.