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21.6.16

MANEL DA LENHA - PARTE XCI






No final de Setembro, o neto do Manuel entra na escola oficial, e a  19 de Outubro, num desastre de avião, morre Samora Machel. o presidente de Moçambique. No resto do ano não aconteceu nada que tivesse muita importância para o Manuel, cuja mulher continuava a fazer fisioterapia diária, mas que aparentemente não adiantava muito.  E chegou de novo o Natal, a festa em família teve também a presença dos compadres, sogros da segunda filha, mas a Gravelina continuou a comer na sala com o marido e a não ir à mesa.
E o ano chegou ao fim e como sempre outro lhe sucedeu, sem que a Gravelina mostrasse melhoras que se vissem.A 23 de Fevereiro de 1987, morre um grande cantor, da música de intervenção, Zeca Afonso,  de quem o Manuel era um admirador. No início de Abril a Assembleia da República, aprova uma moção de censura ao governo de Cavaco Silva, e no dia 28 do mesmo mês, Mário Soares, dissolve a Assembleia e marca eleições antecipadas.
Quase um mês depois, a 27 de Maio o Futebol Clube do Porto, sagrou-se Campeão Europeu de Futebol, em Viena. Uma grande alegria para o Manuel, cuja vida nos últimos tempos, não tinha razões para alegrias. 
No dia 1 de Junho desse mesmo ano, o Creoula era oficialmente entregue ao Ministério de Defesa Nacional, mediante despacho, adquirindo o estatuto  de Unidade Auxiliar da Marinha. O antigo porão,fora redimensionado,  dando origem à zona que se estende da casa das máquinas, à coberta de praças, foram instalados camarotes e câmara dos sargentos, a enfermaria foi alargada, criou-se um refeitório, ampliaram-se as instalações sanitárias, mudara-se o lastro da embarcação.
Recebia a classificação de "navio de treino de mar", que ainda mantém, iniciando assim uma nova etapa da sua história pessoal de navegação à vela. 
Em Julho as eleições legislativas dão um vitória estrondosa ao PSD que viria a formar governo em Agosto, com maioria absoluta e Cavaco Silva como primeiro ministro.
Em Outubro, a Gravelina, dá os primeiros passos. Apoiada na terapeuta, vai do quarto à sala. A terapeuta manda comprar uma bengala com base em tripé a fim de que apoiando-se nela possa recomeçar a andar. O filho vai comprar a bengala, e nos próximos dias a terapeuta, dedica-se a que a Gravelina, aprenda a controlar o esforço sobre a bengala e ganhe confiança. 
A casa onde viviam, abria directa para uma sala quadrada, onde existiam seis portas, dando cada uma para uma divisão da casa, a saber, de um lado, a cozinha, dois quartos de dormir,  e uma casa de banho.  Na outra parede em frente, a sala de estar e a casa de jantar.  O quarto onde o casal dormia, era o que ficava ao lado da casa de banho. A Gravelina aprendeu a seguir "colada" à parede, do quarto à sala, de modo que o braço direito, que levava a bengala, (o esquerdo continuava morto) fosse sempre encostado à parede. Na volta para o quarto ia pela parede do outro lado para que sentisse igualmente o braço junto à parede. Assim ela sentia-se mais confiante. De outro modo o medo era maior que ela e não dava um passo. 
A 8 de  Dezembro, quando em Portugal se comemora o dia da Padroeira, os E.U. e a U:R:S:S. assinam em Washington, o primeiro tratado de desarmamento da história, eliminando os misseis de alcance intermédio estacionados na Europa, os famosos SS20 e os Pershing II
E antes do ano acabar, a terapeuta que tinha acompanhado a Gravelina, dá por findos os seus tratamentos ao domicílio, devendo a doente a partir daí dirigir-se à clínica para continuar os tratamentos. 
Acabara de fazer 3 anos que os médicos a tinham mandado para casa, para morrer junto dos seus, pois a sua vida estava por horas.

2.6.16

MANEL DA LENHA - PARTE LXXXI


O Argus, em Lisboa, numa cerimónia  da  bênção,  que ocorria sempre antes da partida para a campanha


Manuel tem 60 anos e passa mais tempo, trabalhando na manutenção das instalações,  ou trabalhando no jardim do gerente, do que no armazém da lenha, pois apenas um dos grandes fogões das maltas está em actividade, e durante pouco tempo por ano.
Resta-lhe a recordação de outras épocas, e a memória de outros dias de trabalho na manutenção de navios como o Argus, que a precisar de grande modernização, quando já se adivinhava o fim da pesca à linha, não voltou à campanha em 1970, tendo sido vendido quatro anos mais tarde, a uma empresa canadiana, que o revendeu à norte-americana Windjammer com sede em Miami.
Agora em 1978, ancorado ali no rio, resta o Creoula, onde o Manuel e outros camaradas trabalhavam em pequenas reparações. Diz-se que vai ser vendido para o estado. A Secretaria de Estado das Pescas, apoiada pela Secretaria de Estado da Cultura, estão em negociações com o armador, para a sua compra, para transformá-lo em museu. Se for vendido logo partirá para o estaleiro onde se fará a transformação, e a visão dos quatro lugres fundeados no rio Coina, entre a Siderurgia e a Seca, será apenas uma recordação, guardada na memória de quem se habituou a vê-los ali durante décadas.
E a venda acontece efectivamente, dois anos depois em 1980. Porém ao ver o bom estado de conservação do navio, e analisar o espaço do mesmo, conclui que recuperado e modificado, será um óptimo navio para treino de mar. A meio desse mesmo ano, um dia à noite, a filha mais velha e o 
marido aparecem-lhe em casa com um bebé nos braços. 
Ele sabia que o casal se tinha inscrito para adoptar uma criança. Mas isso fora já alguns anos, e ele quase se tinha esquecido disso. Dizia-se que era muito difícil, e que era preciso esperar muito tempo. E agora ali estava o casal radiante com um bebé nos braços. Manuel ficou encantado, era um novo neto e este estava ali ao pé da porta. Não fazia esquecer a neta, mas preenchia um pouco a lacuna que ela  deixara quando fora viver para Lisboa.
Depois, quando souberam que o bebé poderia não ficar com eles, pois durante o ano de adaptação, o pai, poderia reorganizar a sua vida, e voltar a buscá-lo, ficaram temerosos. Era um medo que aumentava com o passar do tempo, à medida que se iam apaixonando cada vez mais pelo bebé.