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17.11.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE LVI

 



 Enquanto Anabela passeava pela quinta, na pequena salinha os dois amigos punham a conversa em dia.

-Bonita a tua enfermeira. Com uma enfermeira assim, também não me importava estar doente - disse Peter dando uma amigável palmada no ombro do amigo.

- Não digas asneiras. Ser ferido de uma forma tão brutal, não é uma doença, é um acidente, que pode ferir mais do que o corpo. Pode fazer-nos descrer da humanidade, de Deus, dos nossos ideais. 

Estive entre a vida e a morte e quando saí do estado comatoso, tinha sofrido várias cirurgias e estava com os membros inferiores paralisados. Todavia, mais do que as chagas físicas, são as da alma, aquelas que mais custam a cicatrizar.

-Sei. Mantive correspondência com os teus pais. Sei que a tua noiva, rompeu contigo no hospital e isso deve ter sido um golpe terrível. Lembro dos teus projetos de casamento para quando regressasses da missão.

-Curiosamente, não foi o rompimento dela o que mais me doeu. Sabes que a explosão me atingiu a bacia até à virilha?

-Não! Pensava que tinhas sido atingido só nas costas.

-Bom, não sei o que aconteceu, não me recordo, mas ao ouvir o estrondo devo ter tentado virar o corpo, talvez para ver o que tinha acontecido, e a explosão apanhou-me não só as costas mas parte do lado esquerdo até à coxa. O braço protegeu o tórax, mas não a bacia. 

Calou-se por momentos como se ainda lhe custasse falar do que lhe acontecera. 

-Os médicos disseram-me que estavam convencidos que eu voltaria a andar, mas não podiam garantir que eu pudesse voltar a funcionar como homem pois parte do ventre do lado esquerdo foi bastante atingido e a minha parte genital e reprodutora podia ter sido afetada.  Com esta informação, eu sabia antes mesmo da visita da Sandra, que não podia manter o noivado.

-Mas de qualquer modo foi cruel da parte dela, não esperar sequer que tivesses alta para terminar o noivado.

-Talvez, mas ao contrário do que os meus pais pensam, não foi isso que me fez entrar em depressão e desejar a morte, mas a informação médica, e o facto de que mesmo após ter tido alta hospitalar nunca mais ter sentido desejo, nem conseguido uma ereção; (e olha que meu tio se esforçou bastante, em escolher as mais belas enfermeiras que conhecia).

-Meu Deus, amigo, mas isso é terrível.

- Foi. De tal modo que desisti de viver. Corri com todas as enfermeiras, que meu tio enviou, vivia num quarto às escuras, não queria falar com ninguém, e quase não comia. Simplesmente tinha desistido de viver. E então meu tio enviou a Anabela.

 

7 comentários:

Citu disse...

A veces uno se da por vencido y desea la muerte pero siempre sale el sol y nos da esperanza. Genial relato. Te mando un beso. https://enamoradadelasletras.blogspot.com/

Pedro Coimbra disse...

E a Anabela reacendeu o desejo e vai ser a cura de um mal que era só psicológico e não físico.
Bfds

chica disse...

Graças à Anabela,Pedro sairá bem desse quadro! beijos, chica

Tintinaine disse...

Anabela, o anjo salvador! Vamos ter casamento, meninos e tudo! E viveram felizes para sempre!

Janita disse...

Ainda não sei se gostei assim tanto de saber que o médico enfermo, deu mais importância à ausência de sexo do que à carência de afecto. Penso que, quando o desejo sexual vem primeiro que o sentimento amoroso, nunca resulta numa relação duradoura. Mas isto sou eu a dar largas ao meu romantismo fora de moda...

Abraço, bom fds.

noname disse...

Comungo da opinião da Janita mas, como ela, também eu, devaneio, pois não faço ideia do que se pode sentir numa situação dessas, onde tudo é já tão mau, ter que lidar com mais essa deficiências.

Bom dia, Elvira
Bom fim de semana, beijinhos para os dois

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Felizmente que chegou Anabela para com muita paciência ir ajudando o doente, não só física como psicológicamente.
Um beijinho e saúde.
Ailime