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10.11.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE LIII

 



Anabela recolheu-se no seu quarto incomodada. A atitude de Tiago para com ela, vinha mudando nas duas últimas semanas. Estava mais cooperante nos exercícios, é certo, mas ultimamente parecia tão interessado na vida dela, como na sua recuperação. E aquele abraço, mexera com ela. 

Muitos doentes já tinham tido um gesto semelhante, quando se desequilibravam, era apenas uma tentativa de não caírem. O abraço de Tiago foi diferente. Podia dizer-se que era apenas o júbilo, de quem, ao fim de longos meses em que pensara, que nunca mais poderia andar, verificava que afinal o podia fazer. E certamente ela acreditaria que era apenas isso, não fora a paixão que vira brilhar nos olhos dele.

Sem dúvida que Tiago era um belo homem. Especialmente agora que o seu corpo tinha ganhado peso e massa muscular devido ao intenso tratamento no ginásio. Mas que podia ele querer com ela? Profissionalmente era seu superior e no momento era um doente e ela a sua fisioterapeuta. Nada podia haver entre eles, mesmo que ela estivesse interessada numa nova relação, coisa que depois de Óscar e do que sofrera com ele, não sabia se algum dia voltaria a desejar.

 Anabela reconhecia que desde o primeiro momento em que conhecera Tiago e soubera das suas ideias em relação ao mundo que o rodeava, sentira uma grande admiração por ele, mas quem não sentiria o mesmo perante os ideais do homem e a maneira como se tinha entregado a eles?

O que tinha a fazer, era intensificar os exercícios de marcha de modo a poder sair, logo após o Ano Novo. Depois talvez ainda conseguisse uma vaga para o Hospital inglês, ou quem sabe, o doutor Azevedo lhe oferecesse um contrato de trabalho na sua clinica. De uma coisa estava certa, de momento não estava preparada para voltar ao hospital, onde todos a conheciam e sabiam do seu passado. Não queria a piedade de ninguém.

Postos os seus pensamentos em ordem, desceu e entreteve-se na cozinha ajudando Isilda, com o jantar e ouvindo as muitas e engraçadas histórias sobre os “velhos tempos”, na quinta e na vila.

 Em dezembro os dias acabam depressa e as noites são longas. Anabela, preferia a companhia da cozinheira e do marido, à televisão que tinha no seu quarto. Na verdade, nunca ligara muito à TV. Gostava de ler um bom livro, ou de uma ida ao cinema. E sobretudo gostava de conviver com a sua amiga Paula e família. De resto, ela sempre tivera por companhia habitual a solidão. Primeiro com a mãe a quem o álcool tirara toda a capacidade de ser verdadeiramente uma mãe, depois com a velha senhora que a recolhera, que fora sem dúvida, melhor do que o orfanato, ou mesmo do que a sua mãe, mas a quem os muitos anos, e o seu grande desgosto com a morte do companheiro de toda a vida, não permitiam dar à pequena Anabela, mais do que o conforto dum teto e do alimento físico. A alma de Anabela, sempre fora descuidada e desde muito cedo aprendera a viver na solidão.

 

8 comentários:

J.P. Alexander disse...

A veces es mejor estar sola otras no. Te mando un beso.

Pedro Coimbra disse...

Uma solitária prestes a encontrar uma companhia.
Bfds

chica disse...

Retomando as leituras para novamente acompanhar tua linda e inspirada história! beijos, ótimo fds! chica

Tintinaine disse...

A Anabela está apaixonada, mas ainda não deu ordem ao seu subconsciente para aceitar isso. Lá virá com o tempo, ou com a insistência do Dr. Tiago.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Acompanhando com interesse .

JR

" R y k @ r d o " disse...

Gostei de ler
.
Feliz fim de semana.
.
Poema: “ A Mélica Frase. “
.

noname disse...

Cá vamos nós, encantados, com a evolução da história que promete muita emoção

Beijinho Elvira

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um capítulo que muito apreciei, como sempre muito criativo e bem escrito.
Beijinhos e boas melhoras.
Ailime