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7.11.23

POESIA ÀS TERÇAS - MIA COUTO - SEM DEPOIS

 


SEM DEPOIS


Todas as vidas gastei

para morrer contigo.

E agora
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.

Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só meus olhos
se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.

Todas as mortes gastei
para viver contigo.


Mia Couto

10 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Bem escolhido.
Boa Noite.
Um abraço.

Pedro Coimbra disse...

Genial na prosa e na poesia.
E com uma escrita única.

Citu disse...

Bello poema me dejo sin palabras. Te mando un beso. https://enamoradadelasletras.blogspot.com/

Olinda Melo disse...


Grande Mia Couto.
Gostei muito deste seu poema.
Expressivo tal como na prosa.
Abraço e saúde.
Olinda

Isa Sá disse...

Bonito poema!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de Paz, querida amiga Elvira!
Uma intensidade que cabe bem no Amor.
Que roupa caberia se não há para quem se vestir?
Muito bonito.
Tenha uma nova semana abençoada!
Brijinhos com carinho fraterno

Tintinaine disse...

Não sei bem porquê, mas embirro com o Mia Couto. Talvez por ele ser branco e ter escolhido viver num país de negros!
Os versos não comento, não me dizem nada.

" R y k @ r d o " disse...

Poema muito bonito. Gostei de ler.
.
Um dia feliz. Saudações cordiais.
.
Poema: “ Apenas amar-te “
.

São disse...

Já li muito de Mia Couto, mas desconhecia este texto.


Abraço e tudo d ebom

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Bela esta poesia de Mia Couto.
Obrigada por partilhá-la.
Beijinhos e votos de que esteja bem melhor.
Ailime