Nos dois dias que se seguiram, Tiago
entregou-se de corpo e alma, aos exercícios, silenciando todo e qualquer
comentário de origem pessoal. A sua recuperação era cada vez mais nítida, de tal
modo que no final do segundo dia, Anabela comentou com Isilda que
provavelmente no início do ano, iria embora, pois embora Tiago pudesse ter de
continuar a fisioterapia por mais algum tempo, poderia fazê-lo em qualquer
clínica sem precisar de ter uma fisioterapeuta em casa.
Na manhã, da antevéspera do Ano Novo, Anabela acabara a sessão de fisioterapia a Tiago quando após uma leve batida na porta, esta se abriu para dar passagem a um homem alto e magro, que devia andar perto dos quarenta anos, ruivo e de olhos cor de âmbar provável legado de algum antepassado escocês.
-Peter! - exclamou Tiago abrindo um
alegre sorriso e descendo da marquesa de tratamento, para se dirigir ao amigo.
-Desculpe enfermeira, interromper a
sessão, mas tinha um enorme desejo de ver este morto-vivo, - disse o recém-chegado.
-Ora, já tínhamos acabado, -
respondeu Anabela, estendendo o par das canadianas a Tiago
Os dois homens trocaram um apertado
abraço que emocionou a jovem. Ela sabia que o visitante era esperado pelo seu
paciente, com alguma ansiedade, e que os dois eram amigos, todavia não pensou
que houvesse uma tal ligação entre os dois. Não era apenas uma simples amizade,
era mais como se fossem dois irmãos, que se amavam e se reencontravam após longa separação.
E a verdade é que os dois tinham
desenvolvido esse sentimento único, que une duas pessoas solitárias e com os
mesmos ideais.
- Foi com uma enorme emoção que
soube que estavas vivo. Quando o helicóptero levantou voo, do acampamento, ninguém
tinha esperança de que chegasses ao hospital de Bangui, vivo. Mais tarde,
soubemos que não só tinhas resistido, como após dois dias em que se fez tudo o
que era possível para te manter vivo, te tinham enviado para um hospital alemão. A partir daí nunca mais tivemos notícias e só soube que estavas vivo quando acabamos a comissão, e telefonei aos teus pais. Rapaz, isso é que foi
dar um pontapé na morte.
Nesse momento, tendo arrumado a sala
de tratamento, e querendo dar privacidade aos dois amigos, Anabela, despediu-se
dizendo a Tiago que levasse o seu amigo até à salinha, onde Isilda lhes iria
servir o lanche.
Com as alterações que a casa
sofrera, para que Tiago tivesse o seu quarto no rés -do-chão e a sala de
tratamentos, a antiga sala de estar, tinha sido transferida para o piso de cima, o que era
difícil para Tiago, apesar dele já se movimentar com uma certa facilidade com
as canadianas. Mas subir uma escada era ainda uma enorme dificuldade. Assim,
sabendo da próxima visita, Anabela, Isilda e Joaquim, uns dias antes esvaziaram o
quarto de arrumos, que a antiga dona tinha entre a sala e a cozinha, e trouxeram
alguns moveis e sofás, que Tiago mandara guardar na garagem, quando herdou a casa, e renovou a decoração, transformando o quarto numa pequena, mas agradável e confortável salinha.
8 comentários:
Já sentia falta deste esperar ansioso pelo próximo capítulo.
Beijinho, Elvira
Conversas de amigos costumam ser momentos de revelação de segredos...
Boa semana
Deve ter sido na realidade bem emocionante esse reencontro de amigos... Seguimos... beijos, linda semana! chica
Eu tinha amigos assim, feitos na Marinha, mas aos poucos têm desaparecido todos. A malvada aparece e leva-os sem pedir licença!
Fazem-se grandes amigos na tropa, principalmente na guerra. Quando sobrevivem, como é o caso.
Continuo a ler cada capítulo com o prazer típico da leitura de um bom livro.
Uma ótima semana.
Beijo.
Este capítulo, já reavivou em mim a antiga chama!
Gostei muito de ver entrar mais um personagem para dar ânimo ao doente e renovar o interesse na história.
Um abraço.
Passando para acompanhar! Perdi alguns capítulos, mas estou a gostar!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Boa noite Elvira,
Belíssimo capítulo descrevendo a emoção do reencontro entre os dois amigos.
Gostei muito.
Beijinhos e tudo a correr bem.
Ailime
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