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22.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XXII




O verão terminou, as folhas das árvores trocaram o verde pelos tons alaranjados e depois começaram a cair, o céu deslumbrava com ocasos que pareciam paletas de cores, apareceram as primeiras chuvas e o sol deixou de aquecer. Era o outono em todo o seu esplendor. O ano aproximava-se do fim a passos largos. Miguel adaptou-se muito bem à creche, todavia começou a fazer perguntas incómodas, como porque é que ele não tinha pai. Laura achava que ele ainda era muito pequenino para uma explicação correta sobre a vida e a morte, então disse-lhe que o pai estava no céu, era uma daquelas estrelinhas que ele via à noite a brilhar lá em cima no espaço. Mas então o menino perguntou porque é que ele não era filho de um homem, e sim de uma estrela. E quanto mais a mãe explicava mais o menino queria saber.

Então Sara, pegou na fotografia do pai e disse-lhe:

- Este é o nosso pai. Lembras do Bobi? Ele adoeceu e morreu. Lembras-te que a mãe abriu uma cova no jardim e o enterrou? Pois bem, o pai também ficou doente, e morreu. Mas como era um homem e não um cão em vez de ser enterrado no jardim foi para o céu e lá transformou-se numa estrela.

 Claro que Sara sabia o que tinha acontecido. Já tinha nove anos quando o pai morrera, estivera no funeral, ia ao cemitério com a mãe de vez em quando, levar flores à campa do pai.

Felizmente o menino pareceu ficar satisfeito com a explicação da irmã e acabou com as perguntas. Até quando ninguém sabia.  

Sara continuava a boa aluna de sempre, e cada vez tinha uma ligação maior à prima. 

Laura também se adaptou muito bem ao trabalho na clínica, estabeleceu uma boa relação de amizade com Diana com quem conversava todos os dias pelo telefone, e gostava de trabalhar com Fernando cuja faceta profissional lhe agradava bastante.

A meio de outubro, Rita a sócia da sua cunhada Helena, deu à luz uma bela menina, e no início de novembro foi a vez de Diana ter um lindo rapagão de quase quatro quilos e meio. Sara e a prima estavam doidas de alegria, queriam ir ver os bebés todos os fins de semana, mas Miguel não mostrava grande interesse, e dizia com uma certa graça:

“Que interesse tem ir ver os bebés? Estão quase sempre a dormir, não falam, não brincam, quando abrem a boca ou é para chorar ou para comer.”

-És tonto, Miguel, -dizia-lhe a irmã a rir. Falas como se já tivesses nascido assim. Há bem pouco tempo eras como eles.

A família também adquirira um novo hábito. Todos os sábados, Laura e os filhos jantavam com o irmão e a família dele. Uma semana na sua casa, outra em casa de Gonçalo. Um sábado, Gonçalo convidou Fernando, e a partir daí a presença dele tornou-se habitual nos jantares de sábado, fortalecendo assim os laços de amizade com as crianças que aliás o adoravam. 

Também ganhara o hábito de ficar um pouco mais com Laura depois das crianças irem para a cama, aproveitando para se despedir com beijos que se iam tornando cada vez mais intensos e apaixonados, a que Laura correspondia cada vez com mais intensidade. Porém apesar de reconhecer que se tinha apaixonado por Fernando, continuava a não querer ouvir falar de casamento.

 Uma semana antes do Natal, que seria celebrado na quinta dos pais de Helena, na aldeia, não só porque a casa era grande e podiam juntar as duas famílias, bem como Rita o marido e a filha, que tanto a cunhada como os seus pais e irmão, consideravam como mais um membro da família. Matilde e Sara estavam radiantes, porque teriam a companhia dos primos, o que lhes permitiria organizar jogos e outros programas sem os mais velhos.

Naquela noite, Laura e a cunhada arrumavam a cozinha enquanto na sala, Gonçalo e Fernando discutiam os problemas da escassez de médicos de determinadas especialidades no SNS.

12 comentários:

Pedro Coimbra disse...

O Pai Natal vai trazer alguma prenda?

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história. É o medo, muitas vezes infundado, que nos impede de seguir em frente.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Adivinho que este episódio foi escrito há pouco tempo, a referência ao SNS é uma pista!
É verão e continua a chover, só é pena que chova mais onde ela faz menos falta. No Alentejo e Algarve é que seria uma benção, mesmo que os turistas não gostassem muito da coisa!
Toca a viver com saúde e alegria!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Gostei.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Acompanhando e gostando de cada capítulo e tomara o papai noel resolva esse medo,rs... beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Laura já assumiu que redescobriu o amor, mas o medo ainda é mais forte...

Forte abraço. minha amiga!

noname disse...

Adivinha-se reviravolta na história :)

Bom dia, Elvira

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um episódio que muito apreciei.
Parece-me que nos estamos a encaminhar para o final;))!!
Será que Laura vai perder o medo?
Beijinhos e saúde.
Ailime

Isabel disse...

maravilhosa mensagem deamor minha queria Elvira

Cidália Ferreira disse...

Muito bom episódio. Essa de falta de médicos á comum ao nosso dia a dia :))

-
Pode chover sobre o tapete elegante

Beijos, e uma excelente semana.

Teresa Isabel Silva disse...

Uma situação bem atual!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

lourdes disse...

E agora, com o Natal à porta, algo me diz que os filhos da Laura vão ter uma grande prenda.Será que vão ficar com a família completa?
Esperemos.