O verão terminou, as folhas das árvores trocaram o verde
pelos tons alaranjados e depois começaram a cair, o céu deslumbrava com ocasos
que pareciam paletas de cores, apareceram as primeiras chuvas e o sol deixou de
aquecer. Era o outono em todo o seu esplendor. O ano aproximava-se do fim a
passos largos. Miguel adaptou-se muito bem à creche, todavia começou a fazer
perguntas incómodas, como porque é que ele não tinha pai. Laura achava que ele
ainda era muito pequenino para uma explicação correta sobre a vida e a morte,
então disse-lhe que o pai estava no céu, era uma daquelas estrelinhas que ele
via à noite a brilhar lá em cima no espaço. Mas então o menino perguntou porque
é que ele não era filho de um homem, e sim de uma estrela. E quanto mais a mãe
explicava mais o menino queria saber.
Então Sara, pegou na fotografia do pai e disse-lhe:
- Este é o nosso pai. Lembras do Bobi? Ele adoeceu e morreu. Lembras-te que a mãe abriu uma cova no jardim e o enterrou? Pois bem, o pai também ficou doente, e morreu. Mas como era um homem e não um cão em vez de ser enterrado no jardim foi para o céu e lá transformou-se numa estrela.
Claro que
Sara sabia o que tinha acontecido. Já tinha nove anos quando o pai morrera,
estivera no funeral, ia ao cemitério com a mãe de vez em quando, levar flores à
campa do pai.
Felizmente o menino pareceu ficar satisfeito com a
explicação da irmã e acabou com as perguntas. Até quando ninguém sabia.
Sara continuava a boa aluna de sempre, e cada vez tinha uma
ligação maior à prima.
Laura também se adaptou muito bem ao trabalho na clínica,
estabeleceu uma boa relação de amizade com Diana com quem conversava todos os
dias pelo telefone, e gostava de trabalhar com Fernando cuja faceta
profissional lhe agradava bastante.
A meio de outubro, Rita a sócia da sua cunhada Helena, deu à
luz uma bela menina, e no início de novembro foi a vez de Diana ter um lindo
rapagão de quase quatro quilos e meio. Sara e a prima estavam doidas de
alegria, queriam ir ver os bebés todos os fins de semana, mas Miguel não
mostrava grande interesse, e dizia com uma certa graça:
“Que interesse tem ir ver os bebés? Estão quase sempre a
dormir, não falam, não brincam, quando abrem a boca ou é para chorar ou para comer.”
-És tonto, Miguel, -dizia-lhe a irmã a rir. Falas como se já
tivesses nascido assim. Há bem pouco tempo eras como eles.
A família também adquirira um novo hábito. Todos os sábados, Laura e os filhos jantavam com o irmão e a família dele. Uma semana na sua casa, outra em casa de Gonçalo. Um sábado, Gonçalo convidou Fernando, e a partir daí a presença dele tornou-se habitual nos jantares de sábado, fortalecendo assim os laços de amizade com as crianças que aliás o adoravam.
Também ganhara
o hábito de ficar um pouco mais com Laura depois das crianças irem para a cama,
aproveitando para se despedir com beijos que se iam tornando cada vez mais
intensos e apaixonados, a que Laura correspondia cada vez com mais intensidade.
Porém apesar de reconhecer que se tinha apaixonado por Fernando, continuava a
não querer ouvir falar de casamento.
Uma semana antes do
Natal, que seria celebrado na quinta dos pais de Helena, na aldeia, não só
porque a casa era grande e podiam juntar as duas famílias, bem como Rita o
marido e a filha, que tanto a cunhada como os seus pais e irmão, consideravam como
mais um membro da família. Matilde e Sara estavam radiantes, porque teriam a
companhia dos primos, o que lhes permitiria organizar jogos e outros programas
sem os mais velhos.
Naquela noite, Laura e a cunhada arrumavam a cozinha
enquanto na sala, Gonçalo e Fernando discutiam os problemas da escassez de
médicos de determinadas especialidades no SNS.
12 comentários:
O Pai Natal vai trazer alguma prenda?
a passar por cá para acompanhar a história. É o medo, muitas vezes infundado, que nos impede de seguir em frente.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Adivinho que este episódio foi escrito há pouco tempo, a referência ao SNS é uma pista!
É verão e continua a chover, só é pena que chova mais onde ela faz menos falta. No Alentejo e Algarve é que seria uma benção, mesmo que os turistas não gostassem muito da coisa!
Toca a viver com saúde e alegria!
Mais um excelente capitulo.
Gostei.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Acompanhando e gostando de cada capítulo e tomara o papai noel resolva esse medo,rs... beijos, chica
Laura já assumiu que redescobriu o amor, mas o medo ainda é mais forte...
Forte abraço. minha amiga!
Adivinha-se reviravolta na história :)
Bom dia, Elvira
Boa tarde Elvira,
Um episódio que muito apreciei.
Parece-me que nos estamos a encaminhar para o final;))!!
Será que Laura vai perder o medo?
Beijinhos e saúde.
Ailime
maravilhosa mensagem deamor minha queria Elvira
Muito bom episódio. Essa de falta de médicos á comum ao nosso dia a dia :))
-
Pode chover sobre o tapete elegante
Beijos, e uma excelente semana.
Uma situação bem atual!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
E agora, com o Natal à porta, algo me diz que os filhos da Laura vão ter uma grande prenda.Será que vão ficar com a família completa?
Esperemos.
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