Aeroporto de Lisboa em 75. Foto da net
Era o último dia de trabalho de Paulo, já com viagem marcada para o dia seguinte quando se deu o ataque ao Hospital de S. Paulo. Quando este terminou, ao som das armas sucederam-se o som dos gritos das pessoas, em pânico, desejando sair do hospital o mais rápido possível, tropeçando nos cadáveres, espalhados pelas alas mais atacadas.
Foi necessário acalmar estas
pessoas e ao mesmo tempo socorrer os feridos. Mais tarde pela calada da noite,
levar-se-iam pelas traseiras para o Hospital Maria Pia, todos os feridos graves.
Já passava da meia-noite,
quando Paulo chegou a casa, completamente exausto, e embora tivesse a viagem no
avião marcada para as oito da manhã, não conseguiu dormir, a mente desperta
pelo horror vivido nesse dia.
Pela manhã conseguiram
embarcar, com a roupa do corpo, e uma pequena mala, com algumas peças de roupa,
o seu estojo de médico e um livro de medicina, cada um. Foi tudo o que eles
conseguiram trazer, de tudo o que tinham juntado em toda a vida.
Aqueles que resolveram vir
para Lisboa, logo após o 25 de Abril, ainda tinham conseguido mandar parte dos
seus haveres por barco.
Paulo nunca tinha pensado
abandonar Angola. Era a sua terra, aquela onde pela primeira vez vira a luz do
dia, onde crescera e aprendera a amar, onde seus filhos nasceram, e onde
repousavam os restos mortais de seus pais. A terra que ele julgava amar acima
de tudo. E digo, julgava, porque quando a luta pela sobrevivência se torna
presente, ela impõe-se a tudo o resto, até mesmo ao amor pela terra que nos viu
nascer.
Ao desembarcarem na Portela,
foram surpreendidos por um cenário dantesco. Quase todo o edifício estava lotado
de pessoas que como eles tinham fugido de Angola e não tinham para onde ir, nem
a quem se dirigir. Na altura chegavam a Lisboa em ponte aérea mais de 500
pessoas por dia. Viviam e dormiam no aeroporto, amontoados no chão, cobertos
pelo desespero.
Felizmente para Paulo e Luena,
o filho, viera busca-los ao aeroporto, eles tinham lugar para os pais, na
pequena casa alugada em Coimbra, pelo que não tiveram de passar por mais uma
provação, embora muitas estivessem ainda para vir.
Uma boa semana para todos.
20 comentários:
Não há determinismo histórico... mas o colonialismo estava (está) condenado... Se foi doloroso? É sempre dolorosa uma ruptura...
~
~ ~ ~ Querida Elvira, fiquei comovida. ~ ~ ~
~ ~ Uma semana primaveril muito agradável. ~ ~
~~~~Abraço amigo.~~~~~~~~~~~~~~~~
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O que você amiga Elvira, escreveu não é uma história inventa. Passou-se na realidade. A imagem é testemunha disso mesmo,era assim que muitas pessoas passaram dias e noites nos aeroportos de Luanda e Nova Lisboa, em Angola, esperando, desesperadamente, pela sua vez de embarque com destino a Lisboa-Portugal. Na noite do dia 13/14 de Setembro do ano de 1975, deitadas no chão como se vê na imagem ficaram no aeroporto de Nova Lisboa-Angola, quando eu e a minha família, embarcamos no voo 32 do Quadro Geral de Adidos, com destino a Lisboa, por volta da meia noite!
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
OI ELVIRA!
SEM NADA, MAS VIVOS E PERTO DOS FILHOS, POR MAIS QUE VENHAM SOFRIMENTOS E DEVEM VIR, ESTÃO JUNTOS.
BOM DEMAIS AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Tão recente e, ao mesmo tempo, a parecer tão longínquo.
Boa semana
Foram tempos conturbados duma geração que fugia duma guerra que nunca deveria ter início, não fora a teimosia duma ditadura e a independência amigável teria dado resultados menos catastróficos!
Hoje em dia internacional do beijo, permita-me que substitua o meu habitual abraço por um beijo de amizade.
Tristes tempos tão bem escritos e contados aqui! Linda semana,bjs, chica
Tempos muito difíceis para toda a gente, e como deve ser difícil ter de abandonar o país onde se nasceu, em circunstâncias destas, tendo de deixar tudo para trás.
Veremos o que mais acontecerá em Coimbra...
Muito bem contado, Elvira.
xx
Ratifico o que disse: que história incrível. Posso imaginar o sofrimento das pessoas convivendo com uma situação dessas.
Abraço.
Ratifico o que disse: que história incrível. Posso imaginar o sofrimento das pessoas convivendo com uma situação dessas.
Abraço.
Tudo é marcado com muitas dificuldades, o segredo da vida é transpor a isso.
bjokas =)
Cara Elvira
Foi grande o drama de cada uma dessas famílias. Contudo, poucos anos depois, já toda a gente estava integrada, o que, em termos históricos, foi uma realização notável. É um dos grandes motivos de orgulho da nossa revolução de Abril.
É sempre um prazer lê-la.
Uma boa semana.
Grazas a estes relatos coñezo algo da historia recente de Portugal e as súas colonias.
Sofreram muito...mas graças à Deus estão juntos dos filhos, isto que vale!
Que bela história Elvira!
Beijos e boa semana,
Mariangela
Belo post...Espectacular....
Cumprimentos
Mais uma bela postagem!
Meus cumprimentos por todos!
Beijos e beijos
http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/
O tempo passa só não passa o carinho que
sinto por você.
Fico triste por minha ausência nesse mundo
onde fiz as mais belas amizades.
Estou passando para deixar um carinho
coisa , q sempre fiz a mais de dez anos.
De repente terei ainda oportunidades
de um retorno triunfal de feliz.
Hoje estou aqui para desejar
uma abençoada semana.
Muita paz saúde e alegria em seu viver.
Beijos no seu doce coração.
Evanir .
Oi, Elvira!
Uma nova fase na vida dessa família se inicia apesar de todo o amor dedicado à pátria, quando essa não nos tem amor, melhor abandoná-la e procurar por outro amor!
Boa semana!
Beijus,
Oi Evira,
Sofrimentos abala o mundo inteiro, é a ganância de alguns homens que pensam que são eternos.
Beijo
Sofrimento mais sofrimento, fruto da ambição do homem que ainda não se conscientizou que somos todos irmãos.
Abraços,
Furtado.
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