A partir de Julho começam a sair para a Metrópole os barcos
e aviões, com aqueles que seriam depois conhecidos como os retornados. A grande
maioria, brancos, que viviam há muitos anos em Angola, com toda a sua vida organizada
por lá, agricultores e comerciantes. Outros mais jovens pertenciam a uma
geração já nascida em Angola. E ainda muitos negros designados por africanos
que fugiam, porque temiam tanto a guerra, como os conflitos étnicos instalados, que só se sentiam protegidos junto dos militares brancos, e que se instalaram nos jardins e praças de Luanda.
Os angolanos designados na Metrópole, por africanos, não eram um povo uno, nas suas etnias, tribos e crenças.
Não foi por acaso, nem pelo tamanho de Angola que existiram três movimentos de libertação. Entre outras etnias, de menor influência, existiam os quimbundos, que predominavam de Luanda a Malange, e que apoiavam o MPLA. Os bacongo, noroeste de Angola, apoiavam a FNLA e os ovimbundo, Leste e sul de Angola, apoiantes da UNITA.
O que iria mais tarde dar
lugar a uma guerra civil que duraria até ao fim do século. O General Silvino
Silvério Marques, cedo constata que não tem condições de travar o caos que se
avizinha.
Assim para tirar de Luanda toda esta gente, foi necessário uma enorme ponte aérea, entre Luanda e Lisboa.
Como médicos os pais de Maria Paula, sabem melhor do que ninguém das
atrocidades que se cometem nos musseques e até mesmo na cidade. Assim trataram
de falar com o filho e com alguns amigos em Coimbra para que recebessem Maria
Paula. E mesmo sabendo que a filha não queria sair de Luanda, trataram de impor
a sua autoridade para a obrigarem a partir para a Metrópole, pouco depois dos acordos de Alvor em Janeiro de 1975.
Por essa altura Maria Paula e Diogo já tinham terminado o
namoro. A ruptura aconteceu depois de um dia em que vários vizinhos de
Maria Paula se juntaram para baterem em Diogo, o que só não aconteceu porque o
pai de Maria Paula, chegou no momento exacto , e ele era um homem respeitado por
todos, devido não só à sua profissão, mas também ao seu carácter. E foi assim que dois dias antes do Carnaval, Maria Paula chegou ao
aeroporto de Lisboa, onde o irmão a esperava para a levar para Coimbra.
Foi com imensa alegria e muito amor que os dois se abraçaram, embora nos dois permanecesse a preocupação pelos pais e avó que tinham ficado em Luanda.
23 comentários:
Dias terríveis esses, do último Império Colonial a desaparecer
O inevitável é o que tem de ser
O grande êxodo. Tempos difíceis. Muito bom texto, Elvira.
Bjs
Olinda
Uma autêntica aula de História, desses tempos tão difíceis.
Maria Paula irá para Coimbra com o irmão...E depois se verá o que acontecerá seguir...
xx
Oi Elvira,
Quanta tristezas nos seus relatos.
Eu não sei o que é uma guerra, apenas os anos de chumbo, mas no interior, os meninos do exércitos( os quais chamávamos de periquitos devido a farda verde). A gente paquera com eles.
Muito bom guardar a história do seu país.
Beijos
Acontecimentos do passado, aqui recordados por amiga Elvira. Foram por vezes momentos atribulados, vividos em Angola, por causa de uma guerra que nunca deveria ter existido!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Imagino que tenha sido difícil. De repente sair do país que nos acolhe ou que nos viu nascer não é fácil mas a vida é feita de desafios!
Beijos
Que tristes acontecimentos.
E uma triste recordação para quem vivenciou...
Muito bom Elvira!
Beijos, e uma linda tarde!
Mariangela
Pouco depois, os meus pais, a minha irmã mais velha e eu (com apenas uma semana) chegaríamos também, como tantos outros milhares de retornados, a Portugal.
Aqui a torcer para que o desfecho da Maria Paula seja feliz.
Beijinhos, uma linda semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
P.S. E a Páscoa como correu?
Que história incrível, Elvira! De causar admiração...
Elvira teus relatos é muito bem tecido. Guerra é acontecimento muito triste. Quanto sofrimento.
Uma ótima semana!
Um ótimo mês
Um abraço, e um sorriso!
Blog da Smareis
Oi, Elvira!
O que a guerra mais fez, foi separar corações...
Ainda torço por um reencontro!
Boa semana!!
Beijus,
tempos conturbados, uma guerra sem sentido, mas as guerras nunca fazem sentido.
uma história triste mas que pode sofrer alguma reviravolta, vamos ler e aguardar o seu desfecho.
bem escrita, como sempre!
um beijinho
:)
Tempos duros e recordações dolorosas para quem viveu essa realidade.
Cumps
Belo texto...Espectacular....
Cumprimentos
Todo desarraigo por problemas de insensibilidad etnica, racial o política, son siempre deplorables Elvira. Los sucesos de entonces no lo fueron menos.
Saludos australes.
Oi Elvira
Passando para agradecer o carinho
Ótima noite
Beijos
Muitos amigos e familiares se viram envoltos nesse processo.
Conheço bem as suas histórias, as suas agruras
A Maria Paula veio para Coimbra, ou para a praia da Figueira da Foz?
Continuo a acompanhar esta bela história!
Deixando como sempre o meu abraço.
Como não havia lido os capítulos anteriores, fui me inteirar dos fatos. Percebo a tristeza, que por ter a realidade de então, como fundamento, sensibiliza. Tempos que, certamente, não serão esquecidos por quem os vivenciaram.
Espero que você faça a Maria Paula feliz. Bjs.
Boa tarde, calculo que foram momentos de sofrimento, todas as pessoas foram vitimas de uma politica errada do estado novo "Diatdor"e dos grandes exploradores, com o Henrique Tenreiro, Espírito Santo, CUF, TAP e muitos outros mais, foram os únicos que beneficiaram com uma guerra perdida e injusta, mais vitimas foram aqueles que morreram e ficaram deficientes para toda a vida a lutarem por uma causa que ignoravam.
AG
OI ELVIRA!
MUITA HISTÓRIA SE APRENDE AQUI.
PARABÉNS AMIGA, ESTÁ DEMAIS TEU CONTO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Excelente!!!
Que capacidade narrativa!
Passei por situações que, durante três anos, foram um calvário, por isso valoro os teus argumentos, aliás tão bem narrados: são duma realidade TOTAL.
Abraços
Um pouco triste o fim do romance de Maria Paula com Diogo, mas ainda acredito num final feliz.
Abraços,
Furtado.
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