Olhavas, e fingias que não vias
os órfãos e viúvas de guerras inglórias
o desespero dos emigrantes clandestinos
as terras abandonadas pelo terror da fome
a força sacrifício dos ideais feitos homens
encerrados e torturados nas prisões do meu país.
Acordaste numa manhã de Abril e ficaste admirado
porque nas nossas mãos o sangue era cravo rubro
nas nossas gargantas o medo era hino à Liberdade
os nossos braços enlaçavam-se na esperança do momento.
Acordaste... e como quem muda de camisa
puseste-te ao nosso lado.
Era o tempo
de fingires ser democrata.
Hoje
olhas, e finges que não vês
os campos perdidos sem sementes
as fábricas de máquinas paradas
o desespero e desencanto acampado à porta
do desemprego.
Olhas, e finges que não vês
as crianças que vão para a escola engolindo a fome.
Os idosos abandonados à dor da miséria.
Os idosos abandonados à dor da miséria.
E a juventude sem esperança, que naufraga
no mar da emigração, fugindo dum país sem futuro,
deixando atrás de si, o desespero e a saudade
de mulheres e filhos.
E continuas a fingir ser democrata !
Elvira Carvalho
O ano passado, escrevi um texto sobre o 25 de Abril. Como não mudei uma linha no meu pensamento, e para não me repetir assinalo a data com este poema. Se alguém estiver interessado no texto pode lê-lo AQUI
12 comentários:
Tens razão
Continuam
a ostentarem-se cravos
nos peitos errados
A mim não me enganam,
conheço-lhes o ranço
que lhes povoa a alma...
Poema lindo, expressas bem o que sentes! beijos, lindo feriado! chica
Gostei tanto desta verdade que vou partilhá-la no "Figueira Minha", com sua permissão, se não permitir será eliminado de imediato!
Com o meu abraço.
Se tivesse permitido, teria ido comigo, como não permitiu ficou no mesmo lugar que está muito bem, concordo 200%.
Obrigada, cara Elvira, por este poema que retrata realidades que caracterizam os tempos que correm. Fui ler o seu texto e também gostei muito.
Abraço
Olinda
Belo poema , muito sentido, sobre esta data que tanto nos diz , mas que alguns nada diz.
xx
Olá, Elvira.
Fui ler seu relato, na 1ª pessoa, que mais força dá às palavras!, e sei bem o quanto a vida era dura, como sei o quanto ainda é para muitos de nós.
À liberdade conquistada, ninguém, mesmo os que nunca passaram por uma cela nem viveram a opressão, pode negar a real importância. Ter a voz presa ao medo e sofrer na pele a tortura, não é para ninguém. A liberdade é incontestável.
Mas, para além dela, há outras necessidades igualmente incontestáveis!
Como tão bem diz, o pão é fundamental, e não se coze pão com palavras, nem vivemos os tempos de milagres, em que caía "maná do céu".
É impossível um povo sobreviver sem trabalho - sua dignidade! - para se sustentar e à sua família.
Alguém, neste processo de "recuperação do caos em que nos deixaram" esqueceu-se desse detalhe e está a criar um caos paralelo, e não estamos a conseguir ver a luz no fim do túnel.
O seu poema está belíssimo.
bj amg
25 de Abril sempre,
não nos roubem a liberdade
que outrora esteve ausente
como a saúde falta faz à gente
para sorrirmos com vontade!
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Oi Elvira
Aqui não tem guerra, mas nos tiram quase todo o nosso suor e pouco sobra para a nossa sobrevivência. É o país da impunidade e desigualdade é só conhecer o Rio de Janeiro, em livros para ver o que virou o Brasil
A violência chegou aqui no meu recanto há tempos e agora está uma epidemia de dengue e ninguém faz nada.
Se eu pegar dengue eu morro, estou saindo de uma enorme infecção hospitalar.
Beijos
Gosto do poema e do texto que escreveu no ano passado também-
É triste Portugal ter chegado a este estado, em que nos impossibilitam de planear o futuro.
Apesar de tudo acho que valeu a pena o 25 de Abril, pelo menos, ainda temos a liberdade de expressão.
Abç e resto de bom domingo.
Excelente poema com o qual concordo plenamente.
Cumps
Só pela liberdade de opinar e criticar já teria valido a pena.
Boa semana
Enviar um comentário