Ao Hospital chegam todos os dias muitos feridos. Alguns em estado tão grave que poucas horas resistem. Nos Musseques os militares contabilizam os mortos. Por essa altura Maria Paula já quase não vê o namorado. Por um lado Diogo tem cada vez a vida mais difícil no quartel. Por outro a vida de Maria Paula alterou-se completamente. A avó Zaila, perde todos os seus haveres no incêndio do Cazenga,e refugia-se em casa da filha. O seu tio Vemba, irmão de Luena, estava desaparecido e a avó passava os dias a chorar. Por outro lado Maria Paula tornou-se voluntária para ajudar a cuidar dos refugiados acampados nos terrenos do Colégio. Os militares levavam todos os dias as refeições para o colégio, mas era necessário fazer a sua distribuição, era preciso ajudar na hora da utilização das instalações para a higiene e para outras necessidades. Os Irmãos faziam o que podiam, mas toda a ajuda era pouca. Porque todo o edifício das aulas tinha que estar operacional de modo a que as aulas prosseguissem sem problemas. Maria Paula chegava muitas vezes a casa perto da meia-noite. Sempre acompanhada pelo Irmão Bento, ou pelo Irmão Carlos, que tinham uma licença especial dos militares para o fazerem, apesar do recolher obrigatório. Ficavam os fins-de-semana para namorar, mas para onde ir? Na ilha estavam aqueles que foram os primeiros retornados, os trabalhadores negros, maioritariamente de Cabo Verde, mas também angolanos, quase todos vindos das obras, completamente paradas depois do 25 de Abril. Cinemas à noite estavam encerrados. Na baixa eram olhados de revés. Os brancos viam em Diogo, um traidor pelo seu namoro com Maria Paula, os negros desprezavam Maria Paula pelo namoro com um branco. Nunca em toda a sua vida Maria Paula tinha sentido descriminação racial até aquela data. Ficar em casa, também não era solução, a presença da velha Zaila, deixava-os sem a privacidade que a sua condição de jovens apaixonados pedia. Também não se queriam afastar da cidade pois temiam algum ataque. Tudo isso, aliado ao cansaço, e ao medo, ia matando aos poucos o amor que os unira até aí. E assim aos poucos o namoro foi esfriando, separados por uma barricada invisível, mas sempre presente.
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29.3.15
MARIA PAULA - PARTE XII
Ao Hospital chegam todos os dias muitos feridos. Alguns em estado tão grave que poucas horas resistem. Nos Musseques os militares contabilizam os mortos. Por essa altura Maria Paula já quase não vê o namorado. Por um lado Diogo tem cada vez a vida mais difícil no quartel. Por outro a vida de Maria Paula alterou-se completamente. A avó Zaila, perde todos os seus haveres no incêndio do Cazenga,e refugia-se em casa da filha. O seu tio Vemba, irmão de Luena, estava desaparecido e a avó passava os dias a chorar. Por outro lado Maria Paula tornou-se voluntária para ajudar a cuidar dos refugiados acampados nos terrenos do Colégio. Os militares levavam todos os dias as refeições para o colégio, mas era necessário fazer a sua distribuição, era preciso ajudar na hora da utilização das instalações para a higiene e para outras necessidades. Os Irmãos faziam o que podiam, mas toda a ajuda era pouca. Porque todo o edifício das aulas tinha que estar operacional de modo a que as aulas prosseguissem sem problemas. Maria Paula chegava muitas vezes a casa perto da meia-noite. Sempre acompanhada pelo Irmão Bento, ou pelo Irmão Carlos, que tinham uma licença especial dos militares para o fazerem, apesar do recolher obrigatório. Ficavam os fins-de-semana para namorar, mas para onde ir? Na ilha estavam aqueles que foram os primeiros retornados, os trabalhadores negros, maioritariamente de Cabo Verde, mas também angolanos, quase todos vindos das obras, completamente paradas depois do 25 de Abril. Cinemas à noite estavam encerrados. Na baixa eram olhados de revés. Os brancos viam em Diogo, um traidor pelo seu namoro com Maria Paula, os negros desprezavam Maria Paula pelo namoro com um branco. Nunca em toda a sua vida Maria Paula tinha sentido descriminação racial até aquela data. Ficar em casa, também não era solução, a presença da velha Zaila, deixava-os sem a privacidade que a sua condição de jovens apaixonados pedia. Também não se queriam afastar da cidade pois temiam algum ataque. Tudo isso, aliado ao cansaço, e ao medo, ia matando aos poucos o amor que os unira até aí. E assim aos poucos o namoro foi esfriando, separados por uma barricada invisível, mas sempre presente.
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25 comentários:
Que pena quando os fatos da vida começam, pouco a pouco a atrapalhar o romance e vida de casal! Lindo a vamos esperando! bjs, chica
Muito triste um romance tão bonito ir se acabando assim, devido à tantos problemas...
Mas vamos esperar pra ver!
Abraços de uma boa noite!
Mariangela
Um amigo meu recebeu na passada semana a medalha que lhe foi atribuída.....há 40 anos!!
Boa semana
Son tremendas esas vivencias de amor entre tanta angustia y peligros, Elvira.
Um amor a ser seriamente testado, no meio de tantas dificuldades.
Veremos se resistirá aos contratempos...
xx
Se souberem ter paciência quem sabe esse amor resista ao distanciamento?
_em tempos difíceis é que se vê a medida do amor.
Abraços Elvira
boa semaninha pra Ti
Oi Alzira
Que revolta triste.
A discriminação existe em qualquer lugar.
Muita pressão, infelizmente mata relação e não o amor, se separarem agora, um dia irão se reencontrar.
Beijos
Pelo que dito aqui: que vida a Maria Paula, hein? Ter que conviver com os dissabores causados por uma guerra sangrenta e horrenda como devo imaginar que tenha sido.
Infelizlente, tudo isso que relata em mais um capitulo da história, referente a Maria Paula, aconteceu em Angola, devido à exemplar desloconização de Mário Soares, só não se lembra disso quem a não viveu!
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.
Corrijo: a palavra, DESCOLONIZAÇAO.
Situação complicada que só um grande amor poderá fazer ultrapassar.
Aguardemos o seguimento do enredo...
Está tudo bem, muito obrigada Elvira pela sua amizade. Tenho tido uns dias atarefados, é verdade... :)
Beijinhos
Olinda
Bom dia
Peço desculpa pela minha ausência. Tinha saudade de me sentar aqui e ler.
Hoje aconteceu e foi bom recordar aqueles anos com tantas dúvidas e incertezas, tantas pessoas de mochila às costas sem mais nada.
Obrigado por este recordar.
A aprendizagem da vida é sempre dolorosa, mais a mais no fascínio da paixão.
Um excelente enredo, Elvira!
Um beijinho :)
Boa tarde, na vida amorosa nem tudo são rosas, sem esperar as contrariedades também vem de onde não se espera.
AG
Hola Elvira, así es el amor, a veces es como un sueño el paraíso y, otras es la tristeza personalizada, y cuando hay guerras de por medio, la cosa se ve mas negra que el manto de la noche.
Es un placer pasar a leerte. Haber como termina esta historia.
Te dejo mi cálido abrazo y mi estima.
Un beso y se muy muy feliz
Olá,Irene!
O meu obrigado pelas palavras deixadas.E como a Páscoa já está perto, aqui deixo os meus votos de que ela seja feliz para si e os seus, e com todas aquelas coisas boas com que se celebra a ocasião…
Um abraço
Vitor
Ainda hoje essa discriminação existe infelizmente. Enfim, há coisas que demoram séculos a mudar!
beijos
Adorei o texto!
Eles estão juntos, mas ao mesmo tempo separados. Isto até faz lembrar aquele dito, que eu acabei de modificar: "perto das vistas, mas longe do coração"!
Boas Festas de Páscoa.
BOA NOITE
Muito triste quando existe preconceito no amor.
Que esta seja uma páscoa cheia de bênçãos, com muita fé e alegria. Feliz Páscoa!
Oi, Elvira!
As dificuldades quando não fortalecem, estremecem as relações.
A história de Maria Paula e Diogo terá uma segunda chance?
Feliz Páscoa!!
Beijus,
Deixei um comentário no post de aniversário do seu papito...
Os tempos de guerra, ou revoluçao, trazem sempre muitos problemas, exageros de comportamento e outras situações graves.
Vamos ver o que acontece à Maria Paula.
Amiga sigo sempre com muito interesse
o que escreve. Escreve coisas da
vida real de uma forma muito
humana.
Desejo que se encontre bem.
Bj.
Irene Alves
OI ELVIRA!
QUE PENA!
UM AMOR TÃO BONITO ESFRIANDO PELO CAOS QUE OS ESTÁ CERCANDO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Acredito que a intensidade do amor da Maria Paula e do Diogo supere as dificuldades que ora se lhes apresentam.
Abraços,
Furtado.
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