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16.3.15

MARIA PAULA - PARTE IX



Largo da Mutamba  

Quem se lembra dele?


Maria Paula ia muitas vezes a pé para o emprego. Gostava de caminhar, de observar as pessoas, as moradias, os jardins. Naquele dia, não notou absolutamente nada de diferente, embora o facto de não ter ouvido o noticiário de manhã lhe causasse uma certa estranheza.
Saudou o Irmão Carlos, com quem se cruzou no átrio do Colégio e dirigiu-se à secretaria para iniciar mais um dia de trabalho. Sintonizou o pequeno transístor que tinha em cima da secretária, e logo os acordes de uma marcha militar se fizeram ouvir.
O Irmão Bento veio até à secretaria buscar uns papéis, e Maria Paula perguntou:
- Irmão, já ouviu hoje as notícias?
- Não, Maria Paula, não deram notícias, em nenhum dos emissores que sintonizei. Alguma coisa se passa. Em breve saberemos.
O Irmão saiu e Maria Paula, ligou para o comando para falar com Diogo, mas foi-lhe dito que ele tinha saído para o tribunal.
Perto do meio-dia, Diogo telefonou. Mas inquirido sobre se saberia o que se passava, disse que não podia falar, e Maria Paula ficou preocupada.
Quase a terminar o dia de trabalho, depois da saída dos alunos, o Irmão Bento disse-lhe, que segundo um ordenança, que tinha ido recolher o filho de um general, tinha acontecido uma tentativa de golpe militar, na Metrópole. Mas ele não sabia dizer mais nada, nem sabia se já tinha sido neutralizado ou não.
Pouco depois, o expediente terminou e à saída encontrou Diogo à sua espera.
- Boa tarde, amor. Não te esperava – disse entrando no carro.
Saudaram-se com um breve beijo na face, ali era o local de trabalho de Maria Paula e os Irmãos eram muito rigorosos em questões de moral.
- Tinha que falar contigo. Não pude fazê-lo depois. Houve um golpe militar na Metrópole. Não temos acesso a grande informação, a PIDE controla todas as chamadas, mas parece que é sério.
- Meu Deus! – exclamou Maria Paula.  – E nós? Que nos acontecerá?
- Sinceramente não sei. Se for tão sério como parece, e conseguirem implantar um novo governo, provavelmente vão dar a autodeterminação às províncias, pois os militares estão muito cansados, desta maldita guerra que nunca mais acaba e tem ceifado a vida a muitos jovens.
- Eu sei. Não esqueças que meu pai é médico no hospital militar. Principalmente de Cabinda e do Leste, chegam todos os dias soldados mortos ou estropiados.
-É melhor não sairmos esta noite. Podem chamar-me de repente.
- Tudo bem. Já tinha dito à mãe que jantava em casa. Queres jantar connosco?


17 comentários:

Edum@nes disse...

Largo da Mutamba, saudades dos bons momentos que passei em Angola. Aquela linda baia, aquela bela praia da ilha, das imperiais que bebi na Cervejaria Portugália e muitas outras coisas boas que haviam nas zonas onde não havia guerra. Quanto ao convite de Maria Paula, a Diogo, para jantar em sua casa, só ficaremos a saber, se ele aceitou, no próximo capítulo, talvez?

Desejo para você amiga Elvira, uma boa noite de segunda-feira, um abraço.
Eduardo.

chica disse...

Resta ainda a curiosidade, mas até o desfecho, curtimos e aproveitamos a boa leitura que encanta! bjs, chica

Rogério G.V. Pereira disse...

No texto prometido, falarei da Mutamba, claro
Como podia passar-lhe ao lado?

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Vamos lendo até o seu final
Beijos
Lua Singular

Pedro Coimbra disse...

Uma forma de evocar tempos antigos e Angola?
Estou a gostar.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, bom dia!
Dei uma sumidinha devido a uma gripe tão forte que peguei, mas já estou de volta acompanhando mais um interessante desfecho.
Abraços, e um bom dia!
Mariangela

Bell disse...

Ai ai quero um final feliz ai e sem morte rs...

bjokas =)

Majo disse...

~
~ ~ Estão a começar dias de peripécias para Maria Paula.

~ ~ Um conto enquadrado numa base verídica minuciosa...

~ ~ Vou seguindo...
~~~~~~~~~~~~

Ana disse...

Interessante como as informações teimavam em não chegar. E depois...
Beijos

António Querido disse...

Eu ponho o dedo no ar, porque era lá que apanhava o Machibombo para os bailes na Terra Nova!
Belas recordações que jamais esquecerei!
Aquele abraço de amizade e um feliz domingo de Páscoa também para o filho da escola seu marido!
Para mim mais um ano coincide no dia que nasci, (domingo de Páscoa) dia 5 de abril de 1942, vou contar 37!

Graça Pereira disse...

Parece-me que, em todos os quadrantes das ex-colónias,tudo foi falado em surdina...com medo da própria sombra...Foi assim também em Moçambique.
" Não digas nada...não há certezas"-
E fomos todos apanhados de surpresa. Acompanharei a história de Maria Paula.
Beijo
Graça

vendedor de ilusão disse...

Olá, Elvira!
Não posso negar de que esse teu Conto é de prender a atenção, pelo menos a mim, causando admiração, e já espero o desenrolar...
Abraço.

lourdes disse...

O que irá acontecer agora à Maria Paula?????

lis disse...

Foi uma época dificil que as noticias viam chegando lentamente e deixava aflitos as famílias.
Tudo se configurava para o pior .
Estou gostando de saber mais.
abraço Elvira

Lilá(s) disse...

E a curiosidade aumenta...
Bjs

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
PREOCUPADA COM O FUTURO DE MARIA PAULA E DIOGO.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Rosemildo Sales Furtado disse...

Até o momento, a Maria Paula e o Diogo se mostram bastante sensatos. Aguardemos os acontecimentos.

Abraços,

Furtado.