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I
O dia amanhecera radioso. Era um belo dia de Setembro,
quando Setembro capricha ainda por nos dar um Verão, que a pouco e pouco se vai
despedindo. Quando ela abriu os olhos, o sol iluminava já a janela, como que a
dizer-lhe:
- Acorda preguiçosa. Não sabes que dia é hoje? É um grande
dia!
Ela sorriu. Sorriu para o sol, sorriu para o passarinho,
que naquele momento passou a cantar esvoaçando pela janela do seu quarto.
Levantou-se, foi até à janela e abriu as vidraças, deixando que o sol lhe
beijasse o rosto moreno. Na sua frente, o rio, maré cheia, águas calmas, mais
parecia um espelho, onde o céu se reflectia vaidoso. Tomou banho, vestiu a sua
melhor roupa e foi acordar a irmãzita que dormia na cama ao lado da sua.
Deu-lhe banho, o pequeno-almoço, e deixou-a a brincar à porta, enquanto
arrumava os quartos. Pouco passava das dez, quando a pequenita gritou alvoraçada:
- Mana, já se vê o barco, já lá vem...
Correu à janela. Era verdade. Do outro lado da ponte já se
via o barco. Resolveu ir até ao cais de desembarque. Porque o navio que se via
ao longe era um lugre da pesca bacalhoeira, que pertencia à Seca da Azinheira.
Andando devagar, com a irmã pela mão chegou até à velha ponte de madeira, que
servia de cais de desembarque da Seca. Ali já se encontravam muitas mulheres,
velhas e novas, bem como alguns homens idosos, e muitas crianças. Eram os pais,
as mulheres, e os filhos dos pescadores, que ali tinham ido esperá-los, a fim
de anteciparem de algumas horas, a visão dos entes queridos, que há mais de
seis meses, haviam partido, para os mares distantes, da Terra Nova, e Gronelândia.
Era assim todos os anos. Mas apesar de não ser novidade, ela ia lá sempre. E
sempre se emocionava como se fora a primeira vez. Não tinha lá ninguém e tinha
toda a gente. Nascida ali, conhecia todos os pescadores e a todos admirava.
Alguns, mais novos, tinham andado com ela na escola, foram companheiros de
brincadeiras. Depois ou por gosto, ou por falta de opção juntaram-se aos pais,
ou substituíram-nos, nos navios de pesca bacalhoeira. Com custo arrastada pela
irmã, cuja curiosidade a empurrava lá para a frente, chegou mesmo lá à ponta do
cais. Olhou à volta sem curiosidade. Sabia o que ia encontrar. Alentejanas,
algarvias, nazarenas. Algumas vinham da terra, outras à muito se tinham
radicado à volta da Seca, sabendo que tinham trabalho sempre que chegavam os
barcos. Todas vinham à espera de alguém. Um filho, um pai, um irmão, um noivo,
um marido...
O problema do feed por agora foi resolvido. Já repararam que me faltam 15 comentários para os 12.000? Pois é. Vamos ver quem fica com o número redondinho...
Bom fim de semana.
16 comentários:
Entre duas datas
Foi ontem sexta-feira
Com ou sem zaragatas
É melhor a brincadeira!
Setembro mês do amor
O Outono está a chegar
Dizemos adeus ao calor
Para o ano que vem irá voltar!
A preguiçosa acordou
Sorriu de alegria
O passarinho cantou
Aplaudindo o novo dia!
Já se via o barco à vela
Lá no rio a navegar
Ela tão linda estava à janela
Para o barco à vela a olhar!
Alentejanas e algarvias
Nazarenas, todas sabiam
Com as mãos quentes ou frias
Chegam ao cais para receber o peixe que os barcos traziam!
Mais uma linda história Entre duas datas, contada por amiga Elvira.
Bom fim de semana e um abraço
para você, amiga Elvira.
Eduardo.
Boa tarde, Elvira
Regressei de férias há já uma semana, e só agora consigo vir até cá.
Tenho vindo a agradecer, aos poucos, as visitas recebidas, procurando respeitar a ordem cronológica. Mas quando se regressa de férias há sempre tanta coisa para fazer...
Tive a sorte de vir encontrar o 1º.episódio de um novo conto (calculo), e que vou procurar acompanhar a passo e passo. Gosto muito de histórias passadas em tempos idos.
Um bom Domingo para si.
Um abraço
Mariazita
Boa noite, Elvira!
Ora mais um conto, que promete!
Gosto muito do início, da introdução do mesmo.
Depois, o "corpo" do conto, propriamente dito, está muito bem escrito e muito real. Parece que estamos a ver tudo: pessoas, gestos, paisagens.
Bem, alguma paixão irá acontecer?
Beijos, pra todos.
PS: Elvira, publiquei um poema, no "afetos e Cumplicidades", que creio que ainda não comentou, porque talvez não tenha recebido a atualização do meu blogue.
Olá amiga Elvira, mais um começo de um conto que promete. Adorei e fico em pulgas para ler o resto. Beijos com carinho
Bom começo hein minha amiga!
Sou obrigado a reconhecer que vc é a melhor contista que conheço na blogosfera!
Parabens Elvira!
Olá, Elvira!
O Andre Mansim tem razão, você é uma excelente contista. Mal cheguei(pois estive afastada da blogosfera por um longo tempo), já me deparo com este conto que me deixa curiosa, hehehe
Estarei por aqui, pra conhecer o desenrolar da história, e pra prestigiar o seu belo trabalho.
Beijos
Socorro Melo
Todos vinham com algum tipo de esperança, isso é certo. Beijoca!
Saudades destes contos pormenorizados e com vivências tão humanas.
Estive ausente dos amigos mas voltei com vontade de ler coisas bonitas como as que aqui sempre encontro. Bj e boa semana.
Graça
Bom dia
As suas histórias que nos encantam pela realidade da vida naquele tempo.
Os dias eram pintados de privações e em cada pessoa morava uma resistência de aço. Acreditavam sempre num amanhã ... quem sabe...? será certamente melhor...?
...e lutavam sempre ...
Olá, Elvira!
História passada num tempo que era bem difícil, quer para quem ia quer para quem ficava - durante longos seis meses.E que como todas as outras já aqui lidas, estou certo será muito bem contada...De modo que fico à espera.
Um abraço, e boa semana.
Vitor
Oi, Elvira!
Que bom que o feed resolveu!!
Mais um conto para nós!! Oba!!
O cenário já me é cativante!
Beijus,
Hola Elvira:
Con mucho gusto colaboro para que llegues luego a los 12.000 comentarios.
¿Partiremos una torta?
Cariños.
Elvira
O comentário n.º 12000 será, pelos vistos, aquele que se seguir ao meu.
Ofereceu-nos o início de uma nova história. Lerei tudo com prazer, porque a Elvira sabe cativar muito bem.
Beijos
Em tempos que já lá vão, assisti a 2 ou 3 chegadas de navios do bacalhau, que regressavam da Terra Nova depois de 6 meses de faina.
O ambiente era o que tão bem descreves neste texto.
Como sempre, gostei da narrativa e sei que vou gostar da história toda. Continua...
Elvira, querida amiga, tem um bom resto de semana.
Beijo.
Uma imagem que me fascinava quando ia até Massarelos para ver os bacalhoeiros... bons tempos!
Escreves que é um primor. É como se estivesse a vê-lo, quanta transparência na narração. Parabéns.
Isto começou bem, só falta que lhe ponhas lenha ao lume...
Gosto.
Um abraço bem grande
Oi Elvira
Os cais são sempre frequentados por quem tem alguém no mar seja parente ou amigo_ é bom de ver as embarcações atracando trazendo no rosto a alegria da volta.
Bonito texto,
Uma linda 'sexta=feira',tá?
abraços
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