Não, não me enganei nas datas. A verdade é que os maiores festejos - exceto os religiosos - ocorrem na véspera do dia do Santo.
Em Lisboa vésperas de Santo Antônio, feriado municipal, são tradição os casamentos e as marchas populares. Santo Antônio é o santo casamenteiro por excelência. Dizem que mulher que recorra ao santo não fica solteira. Para a fama do santo contribuíram algumas lendas. Recordo uma das mais conhecidas.
"Conta-se que uma linda jovem, sem esperanças de se casar, sempre esperando por um noivo que nunca chegava, apegou-se com Santo Antonio, o santo casamenteiro. Comprou uma imagem do santo, levou para benzer, fez-lhe um altar em sua casa.Todos os dias prestava fervorosa devoção, dando-lhe um tostão de promessa. Passaram-se semanas, meses, anos e... nada de casamento. O noivo tão sonhado não aparecera, nem corria voz de que algum mancebo, ou mesmo algum velhote teria por ela se interessado. Depois de muita lamentação com sua velha mãe sobre o poder "miraculoso" de Santo Antonio, agora posto em dúvida, pegou a imagem e no auge do desespero, atirou-o pela janela. Porém, na rua, embaixo de sua janela, estava passando um belo cavalheiro, que recebeu em sua cabeça a pequena imagem do santo. Pegou-a, intacta, vendo de onde tinha saído, resolveu bater à porta e fez a devolução para a bela e geniosa senhorita.Trocam-se os olhares, apaixonam-se e dentro de alguns dias, acontece o tão sonhado casamento."
No Porto pelo S. João, também dia de feriado municipal, são tradição os martelinhos, os alhos-porros e sobretudo o fogo de artifício lançado da ponte D. Luís, que é espetacular.
Há uns cinquenta anos atrás não se faziam as festas como agora. As pessoas da aldeia ou do bairro juntavam-se nas ruas. Faziam grandes fogueiras que os rapazes e raparigas saltavam. Pelo S. João, o meu pai que sempre foi muito habilidoso, fazia grandes balões de papel colorido. Lembro-me que levavam umas tochas embebidas em petróleo, que enquanto ardiam mantinham os balões no ar. Quando se apagavam o balão começava a perder o ar quente que o mantinha lá em cima e acabava por cair atraído pela gravidade. E os mais velhos contavam histórias, conviviam. Eu tenho saudades desse tempo. Hoje as pessoas juntam-se às centenas, às vezes milhares, todas no mesmo espaço e são desconhecidas, estão juntas e simultaneamente estão sozinhas. Não há convívio. É como se as pessoas se tivessem transformado em ilhas. Pode ser uma isolada, ou milhares delas que não se tocam. O mundo evoluiu e a humanidade retraiu-se, encasulou-se de tal modo que chega a não conhecer o seu vizinho do lado.
Por último S. Pedro. O Apóstolo a quem Cristo escolheu para fundador da sua Igreja. Por isso o povo o representa com as chaves na mão. As chaves que nos abrirão as portas do Céu? Talvez. Ou que nos abrirão o caminho para uma nova vida através da fé.
Conta-se que um dia S. Pedro perdeu as chaves do Céu. Do lado de fora onde se encontrava a receber as almas eleitas. Passou-se um tempo, a fila de almas era cada vez maior, e S. Pedro sem conseguir abrir a porta. Então uma velhinha, meteu a mão no bolso da bata e retirando um terço, pegou na Cruz e dando a S. Pedro disse-lhe. "Senhor experimentai com esta chave" S. Pedro meteu o crucifixo na fechadura e a porta abriu-se. Na verdade para os cristãos, a Cruz é a chave que abre todas as portas.
O S. Pedro fecha as festas populares
E como diz a canção:
Santo Antônio já se acabou
O S. Pedro está-se acabar…
E cá em casa o filhote faz hoje 33 anos. Nascido na noite de S. Pedro, adivinhem como se chama.
Pedro claro.