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9.2.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE VIII



O ano de 1935 foi para Manuel o ano da sua libertação da aldeia, do conhecer de outras terras, outras gentes, pois foi nesse ano que veio pela primeira vez para o sul, para trabalhar na Seca do Bacalhau. Tinha 17 anos e há três que pedia à mãe para lhe deixar ir trabalhar para junto dos irmãos. Era um jovem franzino mas de muita genica. Brincalhão, sempre pronto para uma brincadeira, bem diferente dos seus irmãos. Manuel nada sabia do que ia pelo mundo, mas este estava dando uma grande volta. Foi nesse ano que o perfeito do Rio de Janeiro legalizou as escolas de samba, e os desfiles de rua pelo Carnaval. A Portela foi a escola campeã, no desfile oficial desse ano. Ainda em 1935 apareceu a primeira fibra sintética, o Nylon, que veio revolucionar a indústria têxtil, o primeiro Volkswagen, - o fusca – a lâmpada fluorescente, o radar, o primeiro filme a cores, e até a primeira cerveja em lata. Mas enquanto uns procuravam melhorar o mundo com as suas invenções, outros procuravam destruí-lo com sua ganância e prepotência. A Itália invade a Etiópia. O parlamento alemão aprova as leis de Nuremberg, defendidas e propostas por Hitler. Em Portugal, mais uma vez se tenta derrubar Salazar, através da revolta de Rolão Preto, mas esta também não teve o êxito esperado, desta vez graças à acção da PIDE. Num cabaret é descoberta a Cantora Edith Piaf, que viria a ser apelidada de “O rouxinol de Paris” No cinema, o “Sonho de uma noite de Verão” rivaliza com “A pequena Órfã” onde Shirley Temple, uma menina de lindos caracóis e muito talento, encanta o mundo. Hemingway publica, “O velho e o mar” com grande sucesso. A nossa vizinha Espanha, está cada vez mais perto da Guerra Civil. Morre o grande poeta, Fernando Pessoa e desaparece também num desastre de avião Carlos Gardel, o maior cantor de tangos de sempre. Quase no final do ano, dois trabalhadores da Seca, O Mário, e o Aires, bem mais velhos que o Manuel, levam-no a Lisboa, a um bordel. “Um rapaz só passa a homem quando vai à desobriga” disseram. E, pelos seus costumes, Manuel passou a homem nesse Dezembro de 1935.


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18 comentários:

José Lopes disse...

Agora já é um homem num mundo à beira de nova guerra...
Cumps

Paulo Cesar PC disse...

Minha querida Elvira, me desculpe a demora, mas tenho explicado em outros blogs, talvez por falha minha, esqueci de explicar para você. Continuo acompanhando o blog dos amigos, só que sem a mesma frequência de antes, pois 2012 começou e graças a Deus estou mergulhado na vida profissional e em muitos projetos. Mal tenho conseguido publicar. Mas por favor, assim como disse para outros amigos, sempre nas oportunidades que tiver, aqui estarei, sempre com muito prazer. Sobre a história, você aborda junto com a sua narrativa, o detalhe dela. A própria maneira como fala de fatos, onde cita a Portela, a famosa escola de samba do Rio. Elvira, nota-se evidentemente que seu talento e habilidade em contos como esse, é nato. Um beijo no seu coração.

Rafeiro Perfumado disse...

No meio de um turbilhão de acontecimentos, estou em crer que para o Manuel o mais importante foi a primeira trancada, mesmo sendo paga.

Beijoca!

BlueShell disse...

Como sempre excelente...a história entrecortada com acontecimentos históricos. E cativa....

Elvira, tenho andado esquiva...ontem fomoa a Coimba...exames de rotina mas só dia 24 se sabem os resultados...esperemos que esteja tudo bem.
Fez ontem 1 ano que ele teve alta depois da operação....

Um beijo, minha querida, BS

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Sem a menor dúvida, 1935 foi um ano marcante para o mundo, determinante para Manuel... Começa aí sua jornada pela vida, propriamente dita...

Um grande abraço, Elvira.

Unknown disse...

Parece-me que perdi este blogue e hoje estive a ler toda a história do Manuel.
A vida nas aldeias nesses anos e até 1975 foi bastante dura. Não passamos fome aqui em casa porque sempre havia uma panela de sopa e broa de milho. Mesmo no final de uma semana quando já apresentava sinais de bolor , davam-lhe um jeito e também se comia. Muitos dias sem nada «era broa com dentes»

Os acontecimentos históricos são na verdade o ponto principal. As guerras e a utopia humana. Um mundo do avesso.

Mar Arável disse...

Tantos são os apeadeiros na vida

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

O Mundo - ou o conhecimento dele - tem passado ao lado do Manuel. Será atrevimento imaginar que, não tarda, a sua história vai sofrer uma reviravolta?

Beijos

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Excelente narração de uma incrível saga, a de Manuel. Gosto desse gênero de texto, real, contextualizado ao momento histórico.
Parabéns à grande escritora que você é...

Um abraço,
da Lúcia

Pascoalita disse...

Pois claro, tradição é tradição e o Manel lá foi levado "castigo" eheheh

Excelente trabalho, Elvira! A sério, dará um bom LIVRO.

um beijo

Duarte disse...

Acabo de ler as Memórias de Humberto Delgado, o único que realmente se enfrentou a Salazar, mas de frente, e teve que pagar caro, com a própria vida.

O meu agradecimento por trazer-me parte da minha historia, o que fez parte da minha vida, na infância.

Um agrande abraço

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Sempre impressionada com a aliança parte histórica e o romance.

Muito bem, amiga Elvira.

Tudo o que um sonho precisa para ser realizado
é alguém que acredite que ele possa ser realizado.

Bom fim de semana
Beijo

São disse...

Continuando a ler...

Um forte abraço

tulipa disse...

Olá Elvira

Excelente a história que conta.

Há algum tempo que não vinha cá.

Hoje estive a ler toda a história do Manuel.
A vida nas aldeias!
Tudo estranho para mim porque quando cheguei a Portugal,
já eram outros tempos e eu já tinha 21 anos, mulher adulta.

Eu continuo à espera que me visite no novo blog:
"Os meus pensamentos"
onde mostro a bela poesia de LYA LUFT que descobri recentemente e estou rendida.
Aqui vai um excerto:
Lembro-me de ti
Nesse instante absoluto,
A vida conduzida por um fio de música.
Intenso e delicado, ele vai-nos fechando num casulo
Onde tudo será permitido

Bom fim de semana.
Beijos

vendedor de ilusão disse...

Olá, sou um autor; estive por aqui lhe visitando e, digo-lhe de passagem, gostei muito do blog, tanto que já sou seu seguidor. Dê-me a honra e visitei o meu! Quem sabe, minhas obras lhe agradem!
Um abraço,
J.R.Viviani
http://vendedordeilusao.blogspot.com

Agulheta disse...

Amiga Elvira.Basta olharmos um pouco e reparamos que o Mundo gira vertiginosamente,este texto é um pouco assim em movimento,não é do meu tempo mas ouvia a mãe e avó contar tanta coisa!
Abraço de amizade e boa semana.

Olinda Melo disse...

Elvira

Tanta coisa aconteceu nesse ano de 1935.Através da história de Manuel recordamos e aprendemos História.

Gostei muito.

Bj

Olinda

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Quantas coisas se passaram que agora estou a recordar, graças a sua tão linda narrativa e a história de manuel!
Beijos de bom dia!
Mariangela