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14.11.11

HISTÓRIA DO BACALHAU - PARTE III

Na Seca do Bacalhau, da Parceria Geral de Pescarias, havia duas quintas, cada uma com o seu caseiro, onde se produzia tudo o que a terra dá. Das batatas ás frutas e ao feno para os animais. Numa delas, Havia um depósito de água que servia toda a Seca e vários tanques que serviam para regas e para lavagens de roupa.  Na outra um poço e uma nora movida geralmente por uma vaca, completava as exigências. Havia uma casa grande senhorial, com garagem, e quintal. Era a casa do sr. Capitão o gerente deste pequeno mundo. Ficava isolada junto dum pequeno eucaliptal. Depois mais afastadas ficavam meia dúzia de casas, habitadas por pessoas que viviam todo o ano na Seca. e que tratavam da manutenção para que tudo sempre estivesse em ordem quando começava a safra.


 Depois mais afastadas ficavam meia dúzia de casas, habitadas por pessoas que viviam todo o ano na Seca,e que tratavam da manutenção para que tudo sempre estivesse em ordem quando começava a safra.
 O electricista, os dois empregados de escritório, o ferreiro, os vigias, e o Ti'Abel.

Havia ainda uma casa em cada quinta, para os caseiros, uma casa junto ao portão principal, para a porteira e um barracão grande no portão junto à praia, para o pessoal do Barreiro que ia a pé para o trabalho pela "caldeira do alemão" O terceiro portão junto ao moinho de maré, para quem vinha de Palhais, atravessando a Quinta do Himalaia, era o próprio moleiro que abria e fechava à hora do pessoal entrar ou sair, sendo que à saída em qualquer dos portões tinham que mostrar a alcofa que traziam de manhã com o almoço, para ver se não levavam, alguma coisa que não lhes pertencesse. Havia ainda duas enormes camaratas, e o posto da guarda fiscal que ficava pegado a uma destas camaratas, que era chamada de "malta".
 
O Ti'Abel era o encarregado de ir todos os dias, levar a correspondência da firma, e também do pessoal que trabalhava nela á estação dos correios no Barreiro. Na volta, trazia o correio, que havia para a Seca, e trazia também peixe, e carne do mercado, para quem lhe tinha encomendado. Tudo isto numa carroça, puxada por um manso cavalo. Os caseiros tinham também uma carroça, que usavam para levar para o mercado, os produtos da quinta que excediam os gastos da Seca.

A actividade da seca do bacalhau, decorria de Outubro até Abril. Durante esses meses a Seca chegava a ter mais de trezentos trabalhadores residentes, a maioria dos quais vinha do Norte do país. Vinham homens e mulheres muitos dos quais casados. E então acontecia uma situação algo caricata.


É que os casais não podiam viver juntos. Os homens viviam numa das camaratas, que além dos imensos quartos colectivos, tinha um grande refeitório com mesas enormes e bancos corridos , e uma cozinha com um enorme fogão a lenha,com mais de 50 bocas e dois cozinheiros que cozinhavam para os homens. No extremo oposto, a camarata das mulheres, era igualzinha só que em vez de dois cozinheiros tinha duas cozinheiras. A única concessão que era feita aos casais era poderem comer juntos, numa ou noutra camarata. Mas antes das onze da noite todos tinham que estar recolhidos sob pena de terem que dormir ao relento.
Havia ainda  um pequeno pinhal com umas ribanceiras á volta, e um canavial que ladeava a vedação da Seca. Então quando os casais, queriam fazer amor, recorriam a estas instalações. Ou o pinhal, ou o canavial.
 Usavam um nome de código que era : "Aviar a caderneta" Parece que a pessoa que vos está a contar esta história, é filha de um "aviamento de caderneta". Corria o ano de 1946, tinha acabado a II Guerra Mundial.

Vou deixar para outro dia o trabalho de pôr o Bacalhau seco e salgado, como todos o conhecem.


Para todos uma excelente semana 

13 comentários:

abueloscrisytoño disse...

Querida Elvira, no estoy poniendo ningún comentario, no tengo mucho tiempo, Antonio tiene problemas importantes de salud y estamos luchando con la quimioterapia, lo bueno es que está respondiendo muy bien y eso nos da tranquilidad y esperanza.
Besos
Abuela Cris

Paulo Cesar PC disse...

Querida Elvira, essa sua serie em textos sobre a história do bacalhau tem sido sedutora na sua forma de leitura, que nos deixa inteirado com detalhes sobre o tema abordado. Um grande beijo no seu coração.

Isamar disse...

Esta narrativa é uma das mais interessantes que tens feito. Desconhecia completamente como era o funcionamento de uma seca de bacalhau. Vi , muitas vezes, os bacalhaus estendidos a secar, nos livros e jornais, mas tudo o resto foi uma novidade quando publicaste estes posts pela primeira vez.

Beijinhos

Bem-hajas!

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

Como diz a Isabel, ver documentários não nos ensina sobre o que era o dia-a-dia da safra, nomeadamente, sobre as contingências impostas à vida das pessoas. A Elvira é, pois, filha de quem se queria bem, e isso é tudo quanto importa.

Beijos e bem-haja pelo tanto que nos ensina

manuela barroso disse...

Olá Evira
Muito curiosa e interessante toda a história que envolve o nosso amigo.Desconhecia estes pormenores pelo que agradeço a partilha!
Boa semana
Bji

Smareis disse...

Oi Elvira, interessante essa sua narrativa sobre Seca do Bacalhau, bem curioso os detalhes, e aforma das pessoas ser trados. Acompanhando sempre as suas histórias. Beijos e ótima semana.

Mar Arável disse...

Belo e pedagógico

AC disse...

Elvira,
Não sei porquê, mas estou a sentir-me empolgado com a narrativa. Talvez porque quem a escreve lhe transmite um certo sentimento de pertença, de algo que herdou.
Fico, ansioso, à espera de mais.

Beijo :)

São disse...

rrsss ai, a minha amiga foi resultado de um aviamento de caderneta rrss então, valeu a pena!

As pessoas do Norte trabalhavam também nas ceifas do Alentejo.E também em condições deploráveis.

Desconhecia que as vacas puxassem noras.

Bons sonhos e um abraço muito grato pelas lindas flores.

BlueShell disse...

hehehhehe...o que eu me ri com o "aviar a caderneta"!(logo vou desafiar o meu homem a "aviar a caderneta") E ccoitados...ou o pinhal ou o canavial...que coisa!!!

Ficamos à espera do "bacalhau de molho"!

Bjinho

BShell

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Como sempre, Elvira, estou presa às suas narrativas, esperando a continuação até com uma certa ansiedade.
Estas suas postagens sobre a história do bacalhau são bastante interessantes, já que nos mostram o dia a dia de tanta gente, suas lutas...
Beijos e um bom dia.

Zé Povinho disse...

Vida dura esta da seca do bacalhau.
Abraço do Zé

Graça Pereira disse...

Uma crónica perfeita, elucidativa, interessante, com muitos dados que, a maior parte das pessoas ,ignora!
Vou continuar atenta!

Mil beijos.

Graça