foto minha
Regresso ao passado
Foi num fim de tarde de Setembro, quando o Verão caminha já ao encontro do Outono. O dia estivera bonito, um sol radioso, mas já sem aquele calor abrasador do pino do Verão.
Aí pelas seis da tarde, a saudade invadiu-me o peito e aos poucos foi-se instalando, qual erva daninha, alastrando na horta. Saudade dos meus tempos de menina, vivendo à beira-rio, do pôr-do-sol tingindo de vermelho as calmas águas, do cheiro a limo, do bater dos remos dos pescadores.
Eu não sou mulher de ficar remoendo a saudade, quando estou numa situação privilegiada para ir até lá passear um pouco na praia, molhar os pés na água, e quem sabe encetar uma viagem ao passado das minhas recordações e aos meus tempos de menina.
Peguei nas chaves, e num livro. Não porque estivesse a pensar ir ler para a beira-rio, quando o entardecer se apressava, mas porque sempre considerei um livro como um amigo, e ter um amigo por perto sempre foi um amparo para as minhas emoções.
Desci os dois lances de escada, atravessei a estrada, e entrei na quinta que me ia levar à margem do rio Coina, uns metros adiante. Enquanto caminhava pela quinta, que de quinta apenas tem o nome, pois se trata de um descampado de uns quatrocentos metros ao fundo do qual um pinhal dava inicio à descida acentuada que terminava lá bem na margem do rio, uns trezentos metros adiante.
Desci quase correndo levada pela urgência das recordações.
No fundo a todo o comprimento da quinta, uma fileira de oliveiras que as pessoas utilizavam como sombra, quando no Verão procuravam a praia. Em tempos, aquela quinta era chamada a Quinta do Xavier, e da parte de cima das oliveiras, havia imensas figueiras, com cujos frutos os meus irmãos, e todas as outras crianças pobres do sítio se deliciavam. Porque aquela quinta sempre foi pública. Uma azinhaga servia de caminho para quem descia da Telha para a praia. E no Verão aquela praia ficava tão povoada como a melhor praia da actualidade. A extensa fieira de oliveiras, e as imensas figueiras serviam de sombra para as pessoas acamparem por baixo e fazerem belos piqueniques sob a sua sombra. Claro que isto foi há muitos anos atrás, antes da Siderurgia Nacional se ter instalado no Seixal, o que empurrou o rio para a Quinta do Xavier e roubou a bela margem de areia da praia. Também o progressivo desenvolvimento do Barreiro, com o consequente aumento de esgotos para o rio, transformou a ótima qualidade de água, em qualquer coisa, imprópria para o banho.
Do outro lado da azinhaga, a cerca de marcos com arame farpado, que delimita a antiga Seca do Bacalhau da Azinheira Velha. Mesmo junto à cerca, ficava o barracão onde vivi a minha meninice, e onde nasceram meus irmãos. Parei ali por momentos, olhando para o passado, ouvindo o som da briga dos meus irmãos, o barulho da corrente do cão, correndo pelo arame, quando ele corria, dum lado ao outro do barracão.
De súbito, voltei ao presente com um leve som, e fiquei surpresa ao notar que não estava sozinha. Ali ao lado debaixo de uma oliveira, sentada no chão, uma mulher que me pareceu ainda jovem, mas que escondia a cara nos joelhos fletidos. Parecia que não tinha dado por mim e como eu também não estava interessada noutra coisa que não aquele regresso ao passado, resolvi afastar-me em direcção à água, não sem antes ter lançado um novo olhar à figura e me ter parecido achar-lhe qualquer coisa de familiar.
Foi num fim de tarde de Setembro, quando o Verão caminha já ao encontro do Outono. O dia estivera bonito, um sol radioso, mas já sem aquele calor abrasador do pino do Verão.
Aí pelas seis da tarde, a saudade invadiu-me o peito e aos poucos foi-se instalando, qual erva daninha, alastrando na horta. Saudade dos meus tempos de menina, vivendo à beira-rio, do pôr-do-sol tingindo de vermelho as calmas águas, do cheiro a limo, do bater dos remos dos pescadores.
Eu não sou mulher de ficar remoendo a saudade, quando estou numa situação privilegiada para ir até lá passear um pouco na praia, molhar os pés na água, e quem sabe encetar uma viagem ao passado das minhas recordações e aos meus tempos de menina.
Peguei nas chaves, e num livro. Não porque estivesse a pensar ir ler para a beira-rio, quando o entardecer se apressava, mas porque sempre considerei um livro como um amigo, e ter um amigo por perto sempre foi um amparo para as minhas emoções.
Desci os dois lances de escada, atravessei a estrada, e entrei na quinta que me ia levar à margem do rio Coina, uns metros adiante. Enquanto caminhava pela quinta, que de quinta apenas tem o nome, pois se trata de um descampado de uns quatrocentos metros ao fundo do qual um pinhal dava inicio à descida acentuada que terminava lá bem na margem do rio, uns trezentos metros adiante.
Desci quase correndo levada pela urgência das recordações.
No fundo a todo o comprimento da quinta, uma fileira de oliveiras que as pessoas utilizavam como sombra, quando no Verão procuravam a praia. Em tempos, aquela quinta era chamada a Quinta do Xavier, e da parte de cima das oliveiras, havia imensas figueiras, com cujos frutos os meus irmãos, e todas as outras crianças pobres do sítio se deliciavam. Porque aquela quinta sempre foi pública. Uma azinhaga servia de caminho para quem descia da Telha para a praia. E no Verão aquela praia ficava tão povoada como a melhor praia da actualidade. A extensa fieira de oliveiras, e as imensas figueiras serviam de sombra para as pessoas acamparem por baixo e fazerem belos piqueniques sob a sua sombra. Claro que isto foi há muitos anos atrás, antes da Siderurgia Nacional se ter instalado no Seixal, o que empurrou o rio para a Quinta do Xavier e roubou a bela margem de areia da praia. Também o progressivo desenvolvimento do Barreiro, com o consequente aumento de esgotos para o rio, transformou a ótima qualidade de água, em qualquer coisa, imprópria para o banho.
Do outro lado da azinhaga, a cerca de marcos com arame farpado, que delimita a antiga Seca do Bacalhau da Azinheira Velha. Mesmo junto à cerca, ficava o barracão onde vivi a minha meninice, e onde nasceram meus irmãos. Parei ali por momentos, olhando para o passado, ouvindo o som da briga dos meus irmãos, o barulho da corrente do cão, correndo pelo arame, quando ele corria, dum lado ao outro do barracão.
De súbito, voltei ao presente com um leve som, e fiquei surpresa ao notar que não estava sozinha. Ali ao lado debaixo de uma oliveira, sentada no chão, uma mulher que me pareceu ainda jovem, mas que escondia a cara nos joelhos fletidos. Parecia que não tinha dado por mim e como eu também não estava interessada noutra coisa que não aquele regresso ao passado, resolvi afastar-me em direcção à água, não sem antes ter lançado um novo olhar à figura e me ter parecido achar-lhe qualquer coisa de familiar.
Continua
AVISO AOS LEITORES:
Nesta história, tudo o que escrevo na primeira pessoa, é verdade, faz parte da história da minha vida.
A Maria não existe , é a parte de ficção da história.
O engraçado é que quando publiquei a história, há quase quatro anos, recebi um e-mail de alguém que me perguntava se eu a conhecia, porque me garantia que a sua história era igualzinha à que eu descrevera. Espero que essa pessoa esteja bem.
AVISO AOS LEITORES:
Nesta história, tudo o que escrevo na primeira pessoa, é verdade, faz parte da história da minha vida.
A Maria não existe , é a parte de ficção da história.
O engraçado é que quando publiquei a história, há quase quatro anos, recebi um e-mail de alguém que me perguntava se eu a conhecia, porque me garantia que a sua história era igualzinha à que eu descrevera. Espero que essa pessoa esteja bem.