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25.2.16

MANEL DA LENHA - PARTE XIV


                                    foto do google

Um mês depois, da bomba atómica ter deflagrado em Hiroxima, num domingo, de Setembro, o Manuel encontrou no Terreiro do Paço o seu amigo Varandas. Foi uma festa, e ele ficou a saber que o amigo estava a trabalhar na Seca de bacalhau do Seixal, com duas das suas cinco irmãs. E logo combinaram um encontro lá no Seixal, no próximo Domingo, para conversarem sobre as suas vidas, desde que deixaram de se ver quando Varandas fora para os Açores.
Assim no domingo seguinte, Manuel foi como combinado, até à Seca do Picado no Seixal para se encontrar com o Varandas. E aí conheceu duas das irmãs do amigo. E embora elas fossem tão semelhantes fisicamente, que quase pareciam gémeas, o seu coração logo se enfeitiçou por uma delas e não houve parecenças que o baralhassem.
Logo nesse dia falou ao amigo que gostaria de namorar a Gravelina.
O Manuel, não era um homem bonito. De estatura média, era magro, o rosto moreno, testa alta, olhos pequenos e vivazes, e usava um pequeno bigode, muito à moda na época, que mais tarde ficaria associado ao ditador alemão.
Contudo, não foi por isso que ela não ficou nada entusiasmada com a ideia. Naquele tempo não havia o culto à beleza que hoje temos, e depois sempre se ouviu dizer que "quem o feio ama bonito lhe parece". E se Manuel não era um homem bonito, também não se podia dizer que fosse feio.
Algumas das colegas de trabalho, da jovem, que já conheciam o Manuel das safras no outro lado do rio, na Azinheira, falavam do rapaz como sendo dado à borga e às saias. E depois era mais velho, tinha quase 9 anos a mais que ela. Foram esses os factos, que contribuíram para que não lhe agradasse a ideia, de um possível namoro.
O rapaz porém era teimoso, e contava com a amizade do Varandas, que era o irmão mais velho da jovem. E naquela época, as jovens ouviam o irmão mais velho com o mesmo respeito que dedicavam ao pai. E assim depois de alguma insistência, o Manuel começou a namorar a Gravelina, no Natal de 1945.
Ele estava perdidamente apaixonado. Tinha esquecido as idas a Lisboa, e tudo o que isso implicava. Todos os tempos livres, lhe serviam para ir ver a amada. Na verdade a Seca da Azinheira, (era conhecida por este nome, por ter nascido numa localidade chamada Azinheira Velha, embora o verdadeiro nome fosse Parceria Geral de Pescarias,) e a Sociedade Lisbonense de Pesca de Bacalhau, conhecida por Seca do Picado, situada na Ponta dos Corvos, ficavam praticamente em frente uma da outra, apenas separadas pelo rio Coina. Para ir ver a jovem, Manuel tinha que atravessar o rio e na Seca havia sempre um bote e um par de remos disponíveis para o fazer. Mas às vezes o mau tempo fazia perigar as visitas. Como naquele dia, 20 de Janeiro de 1946, noite de chuva forte, e ventos intensos, em que ao regressar com o Aires, que também tinha ido ver a namorada, perderam os remos, e Manuel mergulhou várias vezes, perante o terror do amigo, até os conseguir apanhar e regressarem assim com dificuldade, mas sãos e salvos. 
E a Primavera chegou, e partiu, e o Verão, seguiu-lhe os passos, e na Azinheira, Manuel achava que o tempo tinha parado. Faltavam menos de dois meses para o casamento e ele só pensava nesse dia. O bote e os remos não tinham descanso um só dia, e todos os dias faziam a travessia entre a Seca da Azinheira e a Seca do Seixal.