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27.9.16

VIDAS CRUZADAS - PARTE VII




Pedro saiu do consultório como se fosse perseguido por mil demónios. Quatro meses. Quatro meses eram tudo o que lhe restava. E a mãe? Tinha que pensar na mãe. Entrou num café e pediu uma água. Precisava acalmar-se. A mãe não podia vê-lo assim. De uma coisa tinha a certeza. A mãe não ia saber o que se passava. Ele não ia fazer a mãe passar por esse sofrimento. Uma boa ideia seria uma viagem. Queria que a mãe o recordasse assim como era hoje e não que o visse no sofrimento final. Morrer jovem já era mau suficiente para não querer ver o sofrimento da sua velha e amada mãe.

Finalmente, mais calmo, pagou a água e dirigiu-se a casa.

- Olá mãe, que tal o seu dia? - Perguntou com estudada naturalidade, enquanto se inclinava para a beijar.

- Que disse o médico das análises filho? Foste lá, não foste? - Perguntou ela ansiosa.

- Claro que fui, mãe. E não te preocupes está tudo normal. Disse que ando nervoso, preciso de me distrair, talvez mudar de ares durante uns tempos. Nada que já não me tivesse dito antes.

Sentia remorsos da maneira como estava a enganar a mãe, mas consolava-o o pensamento de que assim ela não sofreria tanto.

- Estive a pensar que vou tirar umas férias e vou para qualquer lado, descansar.

- Acho bem, filho. Claro que me custa estar longe de ti, mas se é pela tua saúde, acho bem.

- Mas a mãe não fica longe. Vai comigo - disse antevendo a resposta da mãe.

- Isso não, filho. Eu só seria um estorvo para ti. Nunca estarias descansado, e acabarias por levar a mesma vida que aqui. Vou escrever à minha irmã Rosa, para que venha passar um tempo comigo. E tu poderias ir para a casa da Palmira, a irmã do teu pai. A casa é grande e ela está sempre a convidar-nos. E aqueles ares de lá são muito bons para a saúde.

De repente Pedro pensou que nunca tinha ouvido a mãe dizer a palavra falecido, quando se referia a seu pai. Dizia sempre o teu pai, ou o meu homem, como se nunca tivesse aceitado a sua morte e continuasse à espera que ele chegasse a qualquer momento. Lembrou da tia Palmira, da sua simpatia e pensou que talvez fosse boa ideia ir para lá. Depois se não se desse bem poderia sempre recorrer a um hotel.

- Seja minha mãe. Amanhã falo com o patrão e peço férias.




17 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Perseguido por mil demónios e não era para menos depois do resultado trágico dos exames.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar

chica disse...

Vamos aguardando o desenrolar.Pobre Pedro...beijos,chica

Anete disse...

Situação bem complicada e que requer concentração...
Hum, grande suspense...
Vamos adiante, poderemos encontrar um final surpreendente...

Boa 3ª feira, Elvira... Bj

António Querido disse...

Pedro fez bem, viajar ajuda a esquecer!
O meu abraço amiga Elvira.

Os olhares da Gracinha! disse...

Aprendendo a lidar com o problema e em busca de forças para os enfrentar!!!
Bj

E quando puder espreite...pois vai gostar:
http://mgpl1957.blogspot.pt/2016/09/maos-e-pes.html

Fátima Pereira Stocker disse...

Boa tarde, Elvira

Creio que já a acompanhei, e ao Pedro, nesta história terna.

Percebi que algo não está bem com a sua família. Do fundo do coração, espero que tudo se resolva em bem.

Beijos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Elvira

estive a ler os postes anteriores para seguir a estória.

leucemia é complicado, mas pode ter cura se houver dador da medula, mas não sei bem como isto vai acabar.

a vida é ingrata e o Pedro é muito novo para morrer.

irei lendo à medida que ir publicando.

boa semana.

beijos

:)

O meu pensamento viaja disse...

Pobre Pedro!

Edum@nes disse...

Se a pudesse deixar
fechada na despensa
para mais leve viajar,
sem o peso da doença.

Pode ser que ela por lá fique,
sem o mais apoquentar
de que o remédio existe
para a cura, é preciso acreditar!

Boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Gaja Maria disse...

Esta história diz-me muito. Tenho um amigo que sobreviveu a essa doença e ainda teve um filho, hoje com 16 anos. Vivem muito felizes. Espero que o mesmo aconteça nesta história :) Abraço Elvira

Prata da casa disse...

Olá Elvira: gostei da história, bem interessante.
Obrigada pela simpática visita. Também já cá estou a segui-la.
Bjn
Márcia

Anónimo disse...

Olá Elvira
Como não sei se viu a resposta à sua pergunta, venho dizer-lhe que fiquei muito feliz por saber que pretende participar no passatempo dos Bilhetes Postal.
Pode enviar os seus para
diabilhetepostal@yahoo.com
Obrigado

Pedro Coimbra disse...

Uma mentira piedosa que ainda ter como resultado uma cura milagrosa.
Um abraço

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um relato surpreendente sobre um tema que graças a Deus deverá ter um desfecho bom.
Os médicos, como humanos que são, também se enganam!
Tenho essa esperança.
Beijinhos;))!
Ailime

Smareis disse...

Lendo e aguardando os próximos capítulos.
Bom fim de semana!
Bjs Elvira!

Lua Singular disse...

Oi Elvira
Quem sou eu eu para ir contra os desígnios de Deus, mas na minha opinião, as mortes deveriam vir em ordem decrescente, ou se tivesse alguma doença sem cura.
Beijos
Lua Singular

Rosemildo Sales Furtado disse...

Está ficando cada vez mais emocionante.

Abraços,

Furtado