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PARABÉNS A MIM
Pois é. Nasci a 3 de Setembro de 1947. Faz precisamente hoje 60 anos. E porque é que estou triste?
- Porque hoje deixo de pertencer ao vosso mundo. Ao mundo das pessoas com identidade. A partir de hoje, sou para o mundo, apenas mais uma idosa. Senão reparem nas notícias dos jornais. Se temos 59 anos, somos o sr. ou sra. João ou Maria. Se passamos os 59, somos o ou a idosa de tantos anos de idade.
Aqui há anos, li um texto, não recordo de que escritora, que dizia, que uma mulher perde várias vezes a identidade na vida. Ou é a mulher de alguém, ou a filha, ou a mãe.
E é verdade. Nasci num meio pequeno, onde toda a gente se conhecia, e era a filha mais velha do Manel da Lenha. Anos mais tarde fui trabalhar para Lisboa. Aí eu era simplesmente a Elvira. Sem apelidos. Só eu. Depois casei. O meu marido era militar, e foi para Moçambique em comissão. Eu era muito jovem estava perdidamente apaixonada. Deixei o emprego, no laboratório e fui para Lourenço Marques. Aí chegada, não conhecia ninguém, a terra era estranha,sentia-me muito só. Porque o marido saía em patrulhas, e levava vários dias para voltar.
Fiz amizade com as mulheres dos amigos do meu marido. E deixei de ser outra vez a Elvira, para ser simplesmente a mulher do Carvalho. E assim foi durante uns anos.
Quando em 73, acompanhei o meu marido para Angola, decidi que ia ser diferente. E foi. Procurei emprego, juntei-me à Cáritas, e recuperei a minha identidade.
Em 81, o filhote era um bebé lindo, e muito amoroso. E eis que perdi outra vez o nome. Durante os 20 anos seguintes, passei a ser a mãe do Pedro. Há uns 5 anos voltei a ter nome. Passei a ser a Elvira Carvalho. Era tudo o que eu queria. Ser a Elvira.
Agora vou perder o nome de novo. E desta vez para sempre. E é por isso que estou triste. Não me preocupa a idade. Apenas o rótulo.
Detesto essa coisa impessoal, fria e discriminatória de idosa.
Escrevi este texto faz hoje 7 anos. De então para cá, muita coisa aconteceu. Perdi meus pais, mas ganhei uma neta, que é o meu encanto, recuperei a convivência com um ramo da família de quem por vicissitudes da vida andava afastada, passei um mau bocado quando o maridão adoeceu gravemente, viajei, ganhei novos amigos, fiz algumas cirurgias, matriculei-me na Universidade da Terceira Idade, aprendi uma série de coisas, e melhor que tudo, estou viva. E a consciência disso, é tão grande que me estou nas tintas para que me chamem ou não idosa. Estou viva e sou feliz. E vivam os 67 anos.
- Porque hoje deixo de pertencer ao vosso mundo. Ao mundo das pessoas com identidade. A partir de hoje, sou para o mundo, apenas mais uma idosa. Senão reparem nas notícias dos jornais. Se temos 59 anos, somos o sr. ou sra. João ou Maria. Se passamos os 59, somos o ou a idosa de tantos anos de idade.
Aqui há anos, li um texto, não recordo de que escritora, que dizia, que uma mulher perde várias vezes a identidade na vida. Ou é a mulher de alguém, ou a filha, ou a mãe.
E é verdade. Nasci num meio pequeno, onde toda a gente se conhecia, e era a filha mais velha do Manel da Lenha. Anos mais tarde fui trabalhar para Lisboa. Aí eu era simplesmente a Elvira. Sem apelidos. Só eu. Depois casei. O meu marido era militar, e foi para Moçambique em comissão. Eu era muito jovem estava perdidamente apaixonada. Deixei o emprego, no laboratório e fui para Lourenço Marques. Aí chegada, não conhecia ninguém, a terra era estranha,sentia-me muito só. Porque o marido saía em patrulhas, e levava vários dias para voltar.
Fiz amizade com as mulheres dos amigos do meu marido. E deixei de ser outra vez a Elvira, para ser simplesmente a mulher do Carvalho. E assim foi durante uns anos.
Quando em 73, acompanhei o meu marido para Angola, decidi que ia ser diferente. E foi. Procurei emprego, juntei-me à Cáritas, e recuperei a minha identidade.
Em 81, o filhote era um bebé lindo, e muito amoroso. E eis que perdi outra vez o nome. Durante os 20 anos seguintes, passei a ser a mãe do Pedro. Há uns 5 anos voltei a ter nome. Passei a ser a Elvira Carvalho. Era tudo o que eu queria. Ser a Elvira.
Agora vou perder o nome de novo. E desta vez para sempre. E é por isso que estou triste. Não me preocupa a idade. Apenas o rótulo.
Detesto essa coisa impessoal, fria e discriminatória de idosa.
Escrevi este texto faz hoje 7 anos. De então para cá, muita coisa aconteceu. Perdi meus pais, mas ganhei uma neta, que é o meu encanto, recuperei a convivência com um ramo da família de quem por vicissitudes da vida andava afastada, passei um mau bocado quando o maridão adoeceu gravemente, viajei, ganhei novos amigos, fiz algumas cirurgias, matriculei-me na Universidade da Terceira Idade, aprendi uma série de coisas, e melhor que tudo, estou viva. E a consciência disso, é tão grande que me estou nas tintas para que me chamem ou não idosa. Estou viva e sou feliz. E vivam os 67 anos.
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