A segunda
gravidez
Os dois anos
seguintes foram sem dúvida os mais felizes da vida de Maria. Era jovem
amava intensamente o marido e sentia-se igualmente amada. Compraram casa, com
recurso ao crédito é certo, mas não é assim que quase todos fazemos? Compraram
carro, em segunda mão que o dinheiro que a madrinha do marido lhes dera pelo
casamento não chegou para um carro novo. Maria tinha enfim a sua casa não
vivia com a mãe, sempre aturando as reprimendas nem tão pouco com a sogra
como acontecera com o primeiro casamento.
Sentia-se
tão feliz, que nem "os carinhos" que a mãe dispensava ao genro sempre
que eles a visitavam lhe faziam mossa.
Elisa nunca
fora uma mulher de demonstrar carinho, de um afago. Mas com a doença e a
idade o seu feitio seco acentuara-se. E a pouco e pouco Maria ia espaçando as
visitas à mãe.
Dois anos
após o casamento, a cunhada de Maria ficou grávida, e simultaneamente a sua
colega de trabalho também. A alegria das duas, o entusiasmo e o carinho com que
preparavam o enxoval dos bebés, foi-se a pouco e pouco entranhando-lhe no corpo
e no espírito, e a sua vontade de ser mãe reapareceu com tanta força que Maria
não soube ou não quis resistir-lhe. O marido feliz apoiou mas aconselhou
irem primeiro ao médico dado os antecedentes. Assim fizeram e Maria submeteu-se
a todos os exames que o seu médico de família e o ginecologista exigiram. A
opinião dos médicos era de que estava tudo bem e nada impedia Maria de vir a
ser mãe.
Quando seis
meses mais tarde Maria contou à mãe que estava grávida a reação de Elisa foi
muito pior do que ela imaginava.
Disse que a
filha era uma irresponsável, que bem sabia que não podia ter filhos e que
"o retornado lhe dera a volta à cabeça. "Só ele será responsável pelo que
acontecer vai tornar-se num assassino."
Maria não se
conteve. Gritou que a mãe estava doida e que nunca mais queria vê-la e saiu
disposta a não voltar a casa da mãe.
Os meses
passaram a gravidez decorria normalmente, a primeira ecografia mostrou
uma menina e o casal estava muito feliz.
Pouco antes dos sete meses, Maria sentiu-se mal e foi para o Hospital. Feitos os exames,
descobriram que o bebé tinha desenvolvido uma hidrocefalia, não aguentou a
pressão craniana e estava a morrer.
Foi feita
uma cesariana de urgência, mas nada puderam fazer pelo bebé.
Primeiro
Maria ficou em choque. Todos os seus sonhos, a esperança de vir a ser mãe, o desejo de dar ao marido o filho que ele nunca lhe pediu, mas que ela lhe
queria dar como complemento do seu amor, foram por água abaixo. E depois do
choque inicial veio a depressão.
Na cabecinha
doente de Maria uma ideia tornou-se obsessão. A sua mãe fora a culpada do
que aconteceu. Fora praga da mãe que nunca quisera que ela tivesse um filho. A
relação amor ódio que sempre tivera pela mãe transformou-se num ódio feroz.
Convenceu o marido a vender a casa e a ir morar para longe da mãe. E jurou que
nunca mais ia ver a mãe.
Um dia a
empregada doméstica da Elisa chegou às 8 da manhã como costume e estranhou
ouvir a Televisão da sala. Dirigiu-se lá e encontrou Elisa sentada no sofá a
dormir. Pelo menos era o que parecia. Dirigiu-se à cozinha preparou o
pequeno-almoço e só quando foi dizer-lhe que estava pronto é que se apercebeu
de que Elisa estava morta.
Foi a
sepultar num chuvoso dia de Dezembro. Sem a presença da filha que ninguém sabia
onde encontrar.
continua
(direitos reservados)
continua
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13 comentários:
Muitas vezes só necessitamos de uma palavra de conforto, de ânimo,
de alguém que dedique um pouco do seu tempo para nós.
E são nessas muitas vezes que encontramos nossos amigos virtuais!
Hoje venho te abraçar pelo dia do amigo virtual.
Você é benção na minha vida.
Quero estar em sintonia contigo
por muitos anos .
Como muito carinho deixei um mimo na postagem,
simples mais de todo coração.
beijos te agradeço pela nossa amizade.
Evanir.
Um envolvente relato amiga.
Olá, estimada Elvira!
Como está? Já se encontra mesmo bem?
O conto está com muito interesse e cheio de "voltas", o que só enriquece a nossa imaginação e interesse pelo mesmo.
O casal transbordava de felicidade, mas a morte do bebé, veio ensombrar o ambiente. Morre, entretanto, Elisa, e agora, esperemos as voltas e reviravoltas, que este conto, pode ainda ter.
Beijinhos para todos.
Elvira, que reviravolta em sua história! Triste a personagem perder o bebê e, logo em seguida, a mãe, ainda mais estando brigadas. Vou aguardar com curiosidade os próximos capítulos. bjs,
A imprevisibilidade ganha cena, tornando a acção viva e cheia de nuances.
Venha outro capítulo, Elvira!
Beijo :)
Acho triste morte de parentes, por mais desavenças que tenhamos com eles, mas faz parte da vida. Chorei ao ler que o bebê tinha morrido. Qto à Elisa, não.
Espero que esteja bem de saúde.
Um beijo,
Renata
Bom dia Evira,
O desenrolar do conto está lindo.
Adoro escrever contos.
Beijos
Lua Singular
Eu quero ler um final feliz a esta Maria!
Também fico feliz por deixar aqui o meu abraço.
Incrível como a felicidade, se transforma, tão rapidamente, em infelicidade. Quando a Maria pensava que era feliz, afinal estava enganada! Talvez a mãe dela tivesse razão! Todavia, a Maria, não entendia assim! Ao ponto de a culpar
do que lhe aconteceu!
Bom fim de semana para você, amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.
Oi, Elvira!
O que acontecerá quando Maria descobrir que sua mãe faleceu? Imagino que o ódio se transformará em culpa, como sempre acontece com aqueles que tarde demais reconhecem um erro.
Também quero morrer dormindo!! (rs*)
Bom fim de semana!!
Beijus,
Buen domingo Elvira:
Son cerca de las seis de la madrugada en Santiago. Entro con mucho interés a leerte y a ...practicar mi incipiente portugués.
Muchos cariños.
A gente vai sofrendo, junto à Maria, pela tragédia que ocorre: perder o filho, depois de tantos sonhos, esperança. E morre Elisa, mãe de Maria. Estou curiosa, para ler o capítulo que se segue. Vou clicando e chego lá, na postagem..Fui...
Chegou o momento de interessar-me pelo teu estado de saúde, como estás? Desejo que já te encontres recuperada.
Até os dramas sabes bordar. Tens-me maravilhado.
Um grande abraço
Coitada de Maria, perder o bebé. Apesar da relação amor-ódio com a mãe acho que ela sentir bastante a sua morte...
Bj
Olinda
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