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21.3.14

MARIA - VI - A REVIRAVOLTA





A reviravolta

Cedo Maria percebeu que o marido não era o homem que ela imaginara antes do casamento. Depois de uma semana de lua-de-mel em Braga, regressaram para um quarto na casa dos sogros. Tudo bem que eles se esforçaram e durante essa semana transformaram o quarto de solteiro do filho num bonito e confortável quarto de casal. Mas não era a sua casa. Paulo tinha-lhe prometido que assim que chegassem ia começar a procurar casa para eles, mas agora parecia não estar muito interessado nisso.
-Quando o bebé nascer, juro que trato de alugar casa. Agora é melhor ficarmos aqui, a minha mãe está atenta a qualquer coisa e eu vou trabalhar mais descansado – dizia ele quando Maria o pressionava.
Ela calava-se  mas não era feliz. A sogra era simpática, mas sempre dava um jeito de lhe fazer ver que a casa era dela.
Em Junho, na véspera de S. João, Maria sofreu um aborto espontâneo e perdeu o bebé.
Foi um grande desgosto. Que se tornou numa dor sem tamanho quando a mãe a visitou e lhe disse:
-Foi melhor agora que mais tarde. Tinha-te avisado. Não vais poder ter filhos. E por teimosia estragaste o teu futuro.
Nesse momento Maria sentiu um ódio intenso pela mãe. E não se conteve.
- Pois eu te juro que vou ter os filhos que quiser. Porque é que tu foste mãe e eu não posso ser? Quem julgas tu que és? Um ser superior? Odeio-te. Põe-te na rua e esquece que me conheces. Nunca mais te quero ver.
Elisa saiu acabrunhada. Ela era assim parecia uma mulher seca, nunca a ensinaram a ser de outro jeito. Talvez se o marido tivesse vivido mais uns anos, quem sabe até mais uns meses ela seria hoje uma mulher diferente. Mas Alberto inicialmente só se preocupou com o ser ar de aldeã. E depois a sua morte prematura, e a necessidade de sobreviver sem ele tornou-a ainda mais seca. Porém ela amava a filha e o que queria era vê-la feliz. Talvez os métodos estivessem errados, mas Elisa não se dava conta disso.
Longe da mãe, e depois do desgosto inicial, Maria decide retomar os estudos. Mas o marido não deixa. Isso, e o facto de continuar a viver com os sogros, que apoiavam o filho e achavam que lugar de mulher casada era em casa, fez com que a jovem "abrisse os olhos" e começasse a pensar que se tinha visto livre da "tirania" da mãe para cair num lugar onde não tinha liberdade, nem intimidade. Sentia-se enjaulada. E o sonho que tinha alimentado de um casamento feliz foi desaparecendo aos poucos até que o casamento não era mais do que uma enorme desilusão, à qual ela deu fim com o divórcio logo que fez 18 anos.
Sozinha, Maria resolveu dar um novo rumo à vida. Não queria ir para casa da mãe. Nem ficar a viver na zona para não se encontrarem. Não lhe perdoava o não ter tido uma palavra de consolo quando ela perdeu o bebé.
Empregou-se em Lisboa, alugou um pequeno apartamento com mais duas jovens, voltou a estudar à noite e sentiu-se enfim uma mulher livre e feliz.
Um ano depois essa felicidade já não era tanta assim. Maria tinha muitas saudades da mãe. Disse-me um dia em que me procurou para saber dela, que sem a mãe se sentia incompleta. Como se lhe tivessem amputado uma parte do corpo.
"Não sei explicar que diabo de sentimento é este. Sinto raiva, amor, saudade. E sinto ódio. Por ela, pelo carinho que nunca lhe senti, e por mim, que nunca fui capaz de lhe cobrar esse carinho, que sempre vi nela a mulher sem erros, e sempre me senti inferior"


Continua


(direitos reservados)

Bom amigos, relativamente à minha saúde já retomei a minha vida normal, embora ainda tenha um pouco da tosse alérgica.  Mas enfim outros males não apareçam que este mais dia menos dia também acaba.
Obrigada a todos pelo vosso carinho e cuidado. Que Deus vos abençôe.

16 comentários:

Unknown disse...

Olá bom dia
Gostei de ler e não é fácil nós arranjarmos algumas comparações pessoais. Alguém mais perto de nós a quem muito amamos.
A vida será sem dúvida um mestre que devemos escutar e entender mais cuidadosamente.

RENATA CORDEIRO disse...

Gosto muito da maneira como descreve a sorte da Maria e estou gostando muito do seu conto. Venho com prazer e folgo em saber que vc está melhor.
Até breve.
Um beijo,
Renata

Luma Rosa disse...

Oi, Elvira!
As relações de mãe e filha, podem ser complexas, afinal, amor e ódio são dois sentimentos bem próximos.
Que bom que está melhor! Com menos frio ficará mais forte.
Beijus,

António Querido disse...

Vou continuar a seguir a história da Maria, embora seja um pouco triste até agora.
Bom fim de semana e as melhoras

Silenciosamente ouvindo... disse...

Muito interessante esta história
que nos está contando.
Às vezes as relações entre mãe
e filha não é muito fácil.Eu
sempre gostei muito da m/mãe
mas relacionava-me melhor com o
meu pai.
Sei o que é viver com a sogra,
pois quando eu me casei niquei
a viver com a m/sogra e nem
imagina as coisas incríveis por
que passei. Até que um dia me
libertei.
Ainda bem que está melhor de
saúde, isso é muito importante.
Beijinhos
Irene Alves

Edum@nes disse...

Maria, a reviravolta,
Não a fez feliz o casamento
Fora talvez promessa enganosa
Que lhe causou sofrimento!

O passarinho quando aprende a voar!
A voar sai do ninho onde nasceu
Para viver em liberdade noutro lugar
Mas com a Maria assim não aconteceu!

Bom fim de semana para você amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Infelizmente mãe tem olhos de raios x, sabe quando um casamento de um filho não vai durar, talvez intuição de mãe, mas ela também pecou por não ser uma mãe que visse na filha a sua infelicidade.
Tô esperando um final feliz; pois ninguém merece uma vida assim
Beijos
Lua Singular

São disse...

A relação entre mim e a senhora que me colocou na Terra foi muito má, porque ela queria um rapaz...e porque, para cúmulo, estou nos antípodas da sua maneira de ser e todas as afinidades eram com meu Pai.

Viver com sogra nunca vivi,mas tive problemas muito sérios com cunhadas (eram logo quatro), mas culpo mais o tipo que estava casado comigo do que elas.

Continuação das melhoras de toda a gente aí em casa,amiga, e bom fim de semana

Anne Lieri disse...

Oi Elvira! Estou gostando muito do seu conto e me prende a atenção do inicio ao fim. Aguardo a próxima postagem! Desejo que melhore sua saude! bjs e bom final de semana,

Lilá(s) disse...

Olá, tenho acompanhado as noticias sobre a sua saúde no face, e não me apercebi que havia postagens novas. Vim ler tudo hoje e estou gostando bastante deste novo conto.
Bjs

Anónimo disse...

Olá, estimada elvira!

Graças a Deus e à medicina, que está quase bem de saúde.

Pois, a vida dá muitas voltas, e as teimosias de certos/as filhos dão sempre maus resultados.

Afinal mãe e filha, vão reencontrar-se e depois, é a Elvira, que continua.

Beijinhos para todos, com amizade.

Anónimo disse...

Retificando: Elvira, o seu nome, é com letra maiúscula.

As minhas desculpas, pela distração.

Beijinhos.

lis disse...

Oi Elvira
Voltando depois de alguns dias de saída forçada , fiz uma leitura dinâmica sobre os textos pra entender um pouco e gosto dos seus contos.
A vida dos casais sempre dá boas historias devido a estrada longa que é o tal relacionamento seja de pais e filhos namorados amantes etc,
deixo abraços e retorno sempre que der ok?
Fiquei muito focada nos boletins da sua saúde e graças a Deus já está boazinha , que assim continue.
beijos boa semana

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Atrasado na ronda, a tratar de maleita com o nome de catarata, estou voltando devagarinho.Já fiz a leitura do atrasado, e cá fico à espera do resto da história - que bem se se podia chamar de má sina daqueles que nascem sem sorte na vida.
História bem pesada, a desta Maria e sua mãe...cheia de ritmo e muito bem contada.

A continuação das melhoras e bom resto de Domingo.
Um abraço
Vitor

Olinda Melo disse...


Sentimentos e emoções complicadas.Quando não há comunicação é o que acontece. Por tudo isto vemos que é no diálogo que deve assenta o relacionamento uns com os outros.

E a verdade é que elas, mãe e filha, amavam-se, isso pressinto eu.

Bj

Olinda

Duarte disse...

Cada dia conheço algo mais da muitas possibilidades que possuis para criar situações.
Estou a gustar, e muito.
Abraços de vida, querida amiga