Graças a Deus estou em franca recuperação, embora ainda em tratamento que só termina no próximo domingo. O que eu tive foi uma crise alérgica, que desencadeou uma crise de sinusite, o tratamento para a sinusite fez piorar a alergia, o medicamento foi trocado por outro que me provocou vómitos e alucinações, o que me levou de novo às urgências e nova troca de medicamentos. Enfim foram 3 idas às urgências em menos de 10 dias mas à última acertaram e estou muito melhor. Sem nada de novo, nem grande disposição criativa por enquanto, vou republicar um conto, já antes aqui publicado, na época em que eu publicava e retirava as publicações pouco depois pelo que muitos de vós não o devem ter lido. Espero que gostem
Regresso ao
passado
Foi num fim de tarde de Setembro, quando o Verão caminha já ao encontro do Outono. O dia estivera bonito, um sol radioso, mas já sem aquele calor abrasador do pino do Verão.
Aí pelas seis da tarde, a saudade invadiu-me o peito e aos poucos foi-se instalando, qual erva daninha, alastrando na horta. Saudade dos meus tempos de menina, vivendo à beira-rio, do pôr-do-sol tingindo de vermelho as calmas águas, do cheiro a limo, do bater dos remos dos pescadores.
Eu não sou mulher de ficar remoendo a saudade, quando estou numa situação privilegiada para ir até lá passear um pouco na praia, molhar os pés na água, e quem sabe encetar uma viagem ao passado das minhas recordações e aos meus tempos de menina.
Peguei nas chaves, e num livro. Não porque estivesse a pensar ir ler para a beira-rio, quando o entardecer se apressava, mas porque sempre considerei um livro como um amigo, e ter um amigo por perto sempre foi um amparo para as minhas emoções.
Desci os dois lances de escada, atravessei a estrada, e entrei na quinta que me ia levar à margem do rio Coina, uns metros adiante. Enquanto caminhava pela quinta, que de quinta apenas tem o nome, pois se trata de um descampado de uns 300 metros ao fundo do qual um pinhal dava inicio à descida acentuada que terminava lá bem na margem do rio, uns 250 metros adiante.
Desci quase correndo levada pela urgência das recordações.
No fundo a todo o comprimento da quinta, uma fileira de oliveiras que as pessoas utilizavam como sombra, quando no Verão procuravam a praia. Em tempos aquela quinta era chamada a Quinta do Xavier, e da parte de cima das oliveiras, havia imensas figueiras, com cujos frutos os meus irmãos, e todas as outras crianças pobres do sítio se deliciavam. Porque aquela quinta sempre foi pública. Uma azinhaga servia de caminho para quem descia da Telha para a praia. E no Verão aquela praia ficava tão povoada como a melhor praia da actualidade. A extensa fieira de oliveiras, e as imensas figueiras serviam de sombra para as pessoas acamparem por baixo e fazerem belos piqueniques sob a sua sombra. Claro que isto foi há muitos anos atrás antes da Siderurgia Nacional se ter instalado no Seixal, o que empurrou o rio para a Quinta do Xavier e roubou a bela margem de areia da praia. Também o progressivo desenvolvimento do Barreiro, com o consequente aumento de esgotos para o rio, transformou a ótima qualidade de água em qualquer coisa, imprópria para o banho.
Do outro lado da azinhaga, a cerca de marcos com arame farpado, que delimita a antiga Seca do Bacalhau da Azinheira Velha. Mesmo junto à cerca, ficava o barracão onde vivi a minha meninice, e onde nasceram meus irmãos. Parei ali por momentos, olhando para o passado, ouvindo o som da briga dos meus irmãos, ou o barulho da corrente do cão no arame, por onde ele corria dum lado ao outro do barracão.
De súbito, voltei ao presente com um leve som, e fiquei surpresa ao notar que não estava sozinha. Ali ao lado debaixo de uma oliveira, sentada no chão, uma mulher que me pareceu ainda jovem, mas que escondia a cara nos joelhos fletidos. Parecia que não tinha dado por mim e como eu também não estava interessada noutra coisa que não aquele regresso ao passado, resolvi afastar-me em direcção à água, não sem antes ter lançado um novo olhar à figura e me ter parecido achar-lhe qualquer coisa de familiar.
Foi num fim de tarde de Setembro, quando o Verão caminha já ao encontro do Outono. O dia estivera bonito, um sol radioso, mas já sem aquele calor abrasador do pino do Verão.
Aí pelas seis da tarde, a saudade invadiu-me o peito e aos poucos foi-se instalando, qual erva daninha, alastrando na horta. Saudade dos meus tempos de menina, vivendo à beira-rio, do pôr-do-sol tingindo de vermelho as calmas águas, do cheiro a limo, do bater dos remos dos pescadores.
Eu não sou mulher de ficar remoendo a saudade, quando estou numa situação privilegiada para ir até lá passear um pouco na praia, molhar os pés na água, e quem sabe encetar uma viagem ao passado das minhas recordações e aos meus tempos de menina.
Peguei nas chaves, e num livro. Não porque estivesse a pensar ir ler para a beira-rio, quando o entardecer se apressava, mas porque sempre considerei um livro como um amigo, e ter um amigo por perto sempre foi um amparo para as minhas emoções.
Desci os dois lances de escada, atravessei a estrada, e entrei na quinta que me ia levar à margem do rio Coina, uns metros adiante. Enquanto caminhava pela quinta, que de quinta apenas tem o nome, pois se trata de um descampado de uns 300 metros ao fundo do qual um pinhal dava inicio à descida acentuada que terminava lá bem na margem do rio, uns 250 metros adiante.
Desci quase correndo levada pela urgência das recordações.
No fundo a todo o comprimento da quinta, uma fileira de oliveiras que as pessoas utilizavam como sombra, quando no Verão procuravam a praia. Em tempos aquela quinta era chamada a Quinta do Xavier, e da parte de cima das oliveiras, havia imensas figueiras, com cujos frutos os meus irmãos, e todas as outras crianças pobres do sítio se deliciavam. Porque aquela quinta sempre foi pública. Uma azinhaga servia de caminho para quem descia da Telha para a praia. E no Verão aquela praia ficava tão povoada como a melhor praia da actualidade. A extensa fieira de oliveiras, e as imensas figueiras serviam de sombra para as pessoas acamparem por baixo e fazerem belos piqueniques sob a sua sombra. Claro que isto foi há muitos anos atrás antes da Siderurgia Nacional se ter instalado no Seixal, o que empurrou o rio para a Quinta do Xavier e roubou a bela margem de areia da praia. Também o progressivo desenvolvimento do Barreiro, com o consequente aumento de esgotos para o rio, transformou a ótima qualidade de água em qualquer coisa, imprópria para o banho.
Do outro lado da azinhaga, a cerca de marcos com arame farpado, que delimita a antiga Seca do Bacalhau da Azinheira Velha. Mesmo junto à cerca, ficava o barracão onde vivi a minha meninice, e onde nasceram meus irmãos. Parei ali por momentos, olhando para o passado, ouvindo o som da briga dos meus irmãos, ou o barulho da corrente do cão no arame, por onde ele corria dum lado ao outro do barracão.
De súbito, voltei ao presente com um leve som, e fiquei surpresa ao notar que não estava sozinha. Ali ao lado debaixo de uma oliveira, sentada no chão, uma mulher que me pareceu ainda jovem, mas que escondia a cara nos joelhos fletidos. Parecia que não tinha dado por mim e como eu também não estava interessada noutra coisa que não aquele regresso ao passado, resolvi afastar-me em direcção à água, não sem antes ter lançado um novo olhar à figura e me ter parecido achar-lhe qualquer coisa de familiar.
Continua
21 comentários:
que bom que a Elvira esteja de volta.
abraço
Boa noite Elvira.
Estimo as melhoras, eu também não ando muito bem.
Quero seguir esse conto que não li. Me avise. Tá?
Beijos
Lua Singular
Fico contente porque sua recuperação caminha e logo isso já é passado,
Seu conto é bastante acolhedor _um passeio que faço com prazer por caminhos beira rios e lugares frondosos,
Espero o próximo capítulo, Elvira
* estou com alguma dificuldade com o meu notebook quanto a configuração e posso demorar ,mas quando voltar me atualizo.
É que usar outros que não o nosso a gente não reconhece o teclado, demora mais é realmente péssimo rs
portanto não repare se demorar mais que o normal.
beijos
Cara Elvira
Muito me alegro pelo seu regresso. Espero que já esteja totalmente restabelecida.
Gostei deste primeiro episódio do 'Regresso ao passado'. Estou curiosa por saber 'quem' era aquela mulher...
Bjs
Olinda
Bom dia, querida!
Espero que se recupere totalmente, afinal a saúde é o que mais prezamos. Crises alérgicas e de sinusite não são fáceis (sou alérgica a muitas coisas e já tive sinusite). Fique bem!
Belo conto! Quando começou a narrar a saudade, me transportei no tempo lembrando de coisas que eram tão coloridas e especiais...
Vou querer ler o restante.
Abração esmagador e lindo dia.
Fique boa logo.
bjokas =)
Lindo teu conto e fico feliz estares melhor e bem! beijos, ótimo fim de semana,chica
Fiquei feliz ao saber que está melhor e de volta e triste, porque estava tão entretida na leitura e ela continua..., não teve desfecho. Mas acompanharei.
Beijos e melhoras sempre,
Renata
Fico feliz que se encontre melhor, Elvira.
Gostei do conto, ficarei atenta para saber o seu desenlace. Quem será essa mulher??
Beijo
Sónia
Fico feliz pelas melhoras.
Como dizia o meu avô...«irra, chiça, penico! Já chega.»
Continuação de rápida recuperação.
Tudo de bom.
Ainda bem que melhorou, embora eu - como não tive computador mais do que uma semana - não tivesse sabido dos seus problemas de saúde.
Abraço grande e que recupere bem rápido. Beijinhos à sua neta
Maria-regresso ao passado,
Crise alérgica desencadeou crise sinusite
Por causa de um medicamento trocado
As dores são uma grande chatice,
Graças a Deus o pior já passou.
A saúde já está recuperada
Amiga Elvira, às suas lides voltou
Com mais uma história engraçada!
Calor abrasador do pino do Verão.
Foi num fim de tarde de Setembro,
Tempos de menina, privilegiada situação
Sonhos lindos estaria vivendo
Apaixonado o seu coração.
Obrigado amiga Elvira, pela sua visita,
desejo-lhe um bom fim de semana, um abraço.
Eduardo.
Elvira
Folgo muito de a saber melhor de saúde.
Não me lembro, desta história, por isso, fico à espera dos desenvolvimentos - que prometem, atendendo à figura que introduziu no final do intróito.
Beijos
Olá, Elvira!
Ainda bem que o pior já passou; a saúde é o mais precioso dos bens, e sem ela tudo se complica - até as coisas mais fáceis.
E quanto à apneia do sono, tenho um amigo que sofre desse mal há já alguns anos, e tenho noção do desconforto e e incómodo que ela causa. No caso dele, aconteceu mesmo ficar com problemas sérios nas gengivas e dentes, devido ao aperto da máscara sobre a boca - e ainda anda a resolvê-los...Sei que não tem vida fácil, nem a mulher...
E agora fico à espera de saber aonde nos vai levar esse passeio rumo ao passado...
Um abraço e bom Domingo.
Vitor
Ainda bem que está de volta e melhor querida amiga!!!
Gostei do conto e fico à espera da continuação:))!
Bjs
Maria
Ainda bem que está de volta e melhor querida amiga!!!
Gostei do conto e fico à espera da continuação:))!
Bjs
Maria
Olá, estimada Elvira!
Feliz, muito feliz pelas suas melhoras e recuperação física.
Mais um conto, a que já nos habitou, e como sempre "uspense".
Toda a descrição, está muito bem feita, e até parece que estamos a ver toda a paisagem, tal como os "seus" movimentos e lembranças.
Aguardemos, então, para saber quem é aquela mulher.
Bom fim de semana.
Beijos com estima para todos, e em especial para a Nita e para si, que esteve, doentinha.
PS: há um texto no "Luzes e Luares", que já tem cerca de duas semanas. Mera indicação, porque não sei se recebeu a atualização do mesmo.
O melhor que li aqui foi a notícia das suas melhoras, amiga. Ainda bem que tudo se resolveu. O conto, como sempre, vai ser bom, pois voltar ao passado, àqueles temos duros, mas com a família presente é muito gratificante. Embora a lugares diferentes, fiz contigo também uma vista ao meu passado e parei em frente a uma casa que agora, ao olhá-la me deixa triste; não há vida dentro dela e isso abala-me um poco. Moro perto, mas evito passar por lá. Beijinhos e que a recuperação seja completa o mais depressa possível.
Emília
Muito bom que esteja melhor.
Isso é o mais importante.
Gostei do seu texto.
Bj.
Irene Alves
Também gosto de procurar uma sombra, para poder ler relaxadamente, enquanto o cantar do rio, lá em baixo, cria essa sinfonia de prazer...
Quanto ao teu estado, deduzo, pelo que nos vais dizendo, que as melhoras começam a ser notáveis, isso é o que realmente importa.
No próximo Inverno toma geleia real, verás como o teu estado melhora e livras-te deste desassossego.
Um argaço bem grande.
Dois regressos: o seu e o meu! Você já foi me visitar lá na Cadeirinha, o que muito me alegrou. Só hoje, pude vir e mais me alegro, por suas melhoras. "De quebra", leio as suas reminiscências, tão bem relatadas que é como e estivéssemos inseridos no cenário descrito...Gostei muito e fico a espera da continuação.
Um abraço, amiga Elvira,
da Lúcia
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