foto daqui
Esperança, a doce namorada, estava muito longe de si, e da sua nova
situação de homem rico. E casando com Laura podia juntar à sua a imensa fortuna
do sogro.
Além disso, Esperança era uma moça simples que talvez nem soubesse mover-se
no mundo em que ele agora se movimentava. Laura era uma mulher elegante, habituada a frequentar qualquer
lugar por muito chique que fosse. Movia-se na sociedade como peixe dentro de
água.
A ambição de Chico era maior do que ele, e a pouco e pouco foi encurtando as cartas para Portugal. No dia em que retirou do pescoço a medalhinha de ouro e a guardou numa caixinha,
sentiu-se um canalha e por momentos teve vergonha de si próprio, mas logo calou os ultimos resquícios de honra, escondendo a caixinha no fundo de uma gaveta no seu escritório. E casou com Laura. Graças à influência do sogro, o prestígio do
Chico cresceu tanto como os seus negócios.
Curioso foi que crescera também um sabor amargo, uma desilusão que não o
deixava ser feliz.
Tarde demais, dera conta de duas coisas. A primeira era que se vendera
miseravelmente por dinheiro, a segunda, era que Laura era egoísta, caprichosa e prepotente. Muito diferente da
meiga Esperança. Enquanto o pai era vivo, ainda se fora comportando. Porém com a sua
morte, foi como se se rompessem todas as cadeias que ainda a prendiam á
decência. Saía de casa a qualquer hora sem dar satisfações ao marido e quando
este lhe chamava a atenção para o facto de que não era correcto uma mulher
casada sair com outro homem que não o marido, ela ria-se dele dizendo que era
apologista do amor livre.
Pensou divorciar-se mas, naquela época, não era permitido o divórcio no
Brasil. E assim, naquele inferno, viveu dezoito anos.
Quantas vezes ao longo desses anos pensou em Esperança. E quantas vezes
pensou que estava a pagar o pecado de ter desprezado a mulher que tudo lhe
dera, física e moralmente.
Uma manhã, a polícia telefonou-lhe para o escritório a anunciar a morte de
Laura. Tivera um desastre quando conduzia a grande velocidade. Ela e o
companheiro tiveram morte imediata.
Não sentiu pena. Que Deus lhe perdoasse mas até sentiu um certo alívio. E
passaram-se mais três anos. Três anos em que travou árdua luta entre o desejo de voltar a Lisboa, e procurar a "sua" doce Esperança, e o pensamento de que ela estaria casada e feliz sem ele. Por fim, venceu a vontade de voltar a Portugal. Vendeu tudo,
transferiu o dinheiro – uma fabulosa fortuna – para um banco português e
comprou a viagem de regresso.
Não quisera vir de avião. A viagem seria demasiado rápida e ele precisava
de tempo para pensar. E agora, a poucos minutos do desembarque, só pensava numa
coisa. Rever Esperança, saber como estava, o que fazia.
Assim que desembarcou, apanhou um táxi e dirigiu-se a casa dela. Pelo
caminho foi olhando tudo. Quase não reconhecia Lisboa, tão diferente estava de
quando ele a deixou.
E pensava. Por certo Esperança teria casado, talvez tivesse filhos. Era o
mais lógico. Quem sabe nem mais lembraria dele. Ainda assim, ele queria
pedir-lhe perdão.
A primeira decepção, apanhou-a quando ao chegar ao lugar onde outrora fora
a casa da jovem, encontrou um moderno edifício. Ali ninguém sabia quem ela era
nem onde vivia.
-Foi melhor assim! – pensou. Que poderia eu dar-lhe agora? Dinheiro? E pode com dinheiro comprar -se o perdão, e a paz de consciência?
Logo, porém, afastou os seus pensamentos e murmurou:
- Tenho de encontrá-la…
Á margem:
Aos amigos que por aqui passam, as minhas desculpas pela minha ausência nos vossos cantinhos, na última semana. Mas uma semana que começou alegre com o aniversário da netinha que fez 5 anos terminou com o funeral da penúltima irmã de minha mãe, que faleceu dia 6, precisamente um dia depois do aniversário da morte de minha mãe.
11 comentários:
Antes de mais os meus sentimentos pela perda da sua tia; despedidas definitivas são sempre muito tristes, amiga. Não tens que pedir desculpas, pois se os amigos não aparecem é porque têm motivos para isso. Embora condene a atitude do Chico e muito, ele já teve o castigo que a vida acaba por dar, mas gostaria que encontrasse Esperança ainda viva para que ela tivesse agora um pouquinho de alegria. Um beijinho e até breve. Aqui estarei para saber o que aconteceu. Força amiga! beijinhos
Emília
Antes de mais, lamento pela tia e exulto pela neta! Beijinhos!
Estou a gostar da história da Esperança. Livra-te de dares um final infeliz à novela!!
Beijinhos verdes.
Tenho andado com pouco tempo disponível para a blogosfera mas foi com tudo o prazer que vim colocar em dia a leitura destas maravilhosas histórinhas, já simpatizei com a Esperança espero bem que haja um final feliz rsrsrrs.
Beijinhos
Oi Elvira,
Tá ficando muito lindo o seu conto.
A parte: o meu com 10 dias e hoje tem 31 anos. Que benção!!
Beijos
Lua Singular
Os meus sentimentos pela morte de sua tia e que ela esteja em paz!
Dico esperando o reencontro...
Bom resto de dia
Elvira
tia é segunda mãe. Dói na mesma. Sinto muito.
___
sobre o "episódio de hoje" e parafraseando Gedeão, diria que cada qual é seus caminhos; às vezes divergem, outras vezes convergem, como creio sucederá às suas duas personagens.
Forte abraço
Olá, estimada Elvira!
Nunca compreendi, nem compreendo a morte, sendo a pessoa nova ou velha.
Os meus sentimentos pela morte da sua tia, que, provavelmente, já seria idosa, mas era da família, e está tudo dito.
Se estava a sofrer, Deus fez o que melhor entendeu.
Quanto ao seu conto, sempre, pensei que a Laura tinha de "morrer", ou, arranjaria outro homem, embora, menos rico, mas de quem ela gostasse, mesmo, para continuação da história.
Na vida real, há casos muito semelhantes a este. Agora, vamos ver o que vai fazer o Chico para saber da sua adorada Esperança.
Boa semana.
Beijinhos para todos.
A esperança dos olhos verdes,
Aquela que dizem ser a última a morrer
Desejos, alegrias e prazeres
Desgostos e mágoas fazem sofrer,
Longe da doce namorada
Podia juntar a sua fortuna à do sogro
Homem rico se casando com Laura.
Dinheiro atrai mais dinheiro,
É assim quase como a água
Nunca corre do rio para o ribeiro
Mas sim do ribeiro para onde faz menos falta.
Eu posso justificar,
Corre de todos os regatos
Rios e ribeiros para o mar.
Obrigado pela sua visita,
Sempre com as suas lindas histórias
Nos presenteia a amiga Elvira.
Boa tarde para você, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo
Olá, Elvira!
Nesta vida não se pode ter tudo - diz o ditado - como por vezes parece ser possível de acontecer.E agora que o Chico deu disso conta, oxalá que ainda vá a tempo de dar uma alegria a quem sempre o quis só a ele.
Os meus sentimentos pela momento triste da morte da sua tia; a lei da vida não perdoa...
Um abraço e boa semana.
Vitor
Querida amiga, a tua sensibilidade levou-te de momentos de euforia aos de desagrado, de pena de dor. A vida apresenta-se com essas duas caras fazendo-nos, por vezes, penar. Ainda bem que também flui esse momento de satisfação e alegria.
Sabes que gosto daquilo que escreves e do modo como argumentas cenas e personagens. Como sempre, tens-me intrigado, mas espero que sejas boazinha e remates a obra com gestos de bondade…
Aquele abraço amigo
Oi Elvira
Ausente durante um período demoro a voltar aos cantinhos que gosto_obrigada pela presença que me proporcionou voltar ao seu blog agora um pouco modificado .
Para entender o conto da menina dos olhos verdes voltei ao primeiro capítulo e pude perceber que a vida reserva muitas surpresas e nem sempre conseguimos domar nossos desejos frente os acontecimentos que nos apresenta.
Um amor que se perde... se reencontra e agora vamos aguardar o final da história...
Um abraço e boa semana Elvira
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