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14.9.13
Comentário nº 12 000
Vitor Chuva
Com o post abaixo o Sexta atingiu o comentário nº 12 000 como podem ver na lateral. O que eu acho que é muito bom para quem não tem um grande grupo de seguidores e não apresenta no blogue textos de autores famosos que possam ser procurados. Daí que chegue à conclusão que os meus seguidores, são os melhores da blogoesfera.
Ora bem para comemorar o número eu decidi oferecer a quem fez o comentário, um dos meus contos. Que vou enviar de seguida para o nosso amigo Vitor Chuva.
Um enorme obrigada a todos os que me leem e deixam a sua opinião pois é com ela que me posso aperfeiçoar.
Bom fim de semana
Amanhã continua o "Entre duas datas"
8.9.13
ENTRE DUAS DATAS
foto da net
I
O dia amanhecera radioso. Era um belo dia de Setembro,
quando Setembro capricha ainda por nos dar um Verão, que a pouco e pouco se vai
despedindo. Quando ela abriu os olhos, o sol iluminava já a janela, como que a
dizer-lhe:
- Acorda preguiçosa. Não sabes que dia é hoje? É um grande
dia!
Ela sorriu. Sorriu para o sol, sorriu para o passarinho,
que naquele momento passou a cantar esvoaçando pela janela do seu quarto.
Levantou-se, foi até à janela e abriu as vidraças, deixando que o sol lhe
beijasse o rosto moreno. Na sua frente, o rio, maré cheia, águas calmas, mais
parecia um espelho, onde o céu se reflectia vaidoso. Tomou banho, vestiu a sua
melhor roupa e foi acordar a irmãzita que dormia na cama ao lado da sua.
Deu-lhe banho, o pequeno-almoço, e deixou-a a brincar à porta, enquanto
arrumava os quartos. Pouco passava das dez, quando a pequenita gritou alvoraçada:
- Mana, já se vê o barco, já lá vem...
Correu à janela. Era verdade. Do outro lado da ponte já se
via o barco. Resolveu ir até ao cais de desembarque. Porque o navio que se via
ao longe era um lugre da pesca bacalhoeira, que pertencia à Seca da Azinheira.
Andando devagar, com a irmã pela mão chegou até à velha ponte de madeira, que
servia de cais de desembarque da Seca. Ali já se encontravam muitas mulheres,
velhas e novas, bem como alguns homens idosos, e muitas crianças. Eram os pais,
as mulheres, e os filhos dos pescadores, que ali tinham ido esperá-los, a fim
de anteciparem de algumas horas, a visão dos entes queridos, que há mais de
seis meses, haviam partido, para os mares distantes, da Terra Nova, e Gronelândia.
Era assim todos os anos. Mas apesar de não ser novidade, ela ia lá sempre. E
sempre se emocionava como se fora a primeira vez. Não tinha lá ninguém e tinha
toda a gente. Nascida ali, conhecia todos os pescadores e a todos admirava.
Alguns, mais novos, tinham andado com ela na escola, foram companheiros de
brincadeiras. Depois ou por gosto, ou por falta de opção juntaram-se aos pais,
ou substituíram-nos, nos navios de pesca bacalhoeira. Com custo arrastada pela
irmã, cuja curiosidade a empurrava lá para a frente, chegou mesmo lá à ponta do
cais. Olhou à volta sem curiosidade. Sabia o que ia encontrar. Alentejanas,
algarvias, nazarenas. Algumas vinham da terra, outras à muito se tinham
radicado à volta da Seca, sabendo que tinham trabalho sempre que chegavam os
barcos. Todas vinham à espera de alguém. Um filho, um pai, um irmão, um noivo,
um marido...
O problema do feed por agora foi resolvido. Já repararam que me faltam 15 comentários para os 12.000? Pois é. Vamos ver quem fica com o número redondinho...
Bom fim de semana.
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5.9.13
CELESTE
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Mal o despertador tocou, Celeste saltou da cama. Lavou-se a correr e foi para a cozinha. Com gestos completamente automatizados, pegou no isqueiro e acendeu o fogão. Era noite ainda, mas Celeste trabalhava longe. Começou a fazer o almoço, para ela e para o marido. Uma lágrima soltou-se e veio cair no alguidar onde tinha as batatas para descascar. Estava cansada. Cansada daquela vida de miséria física e moral em que se encontrava. Onde tinham ficado os sonhos de menina? -Interrogou-se enquanto acabava de descascar as batatas. Onde a ilusão de um homem bonito, que se apaixonasse por ela e lhe desse uma vida de amor e felicidade?
Juntou duas postas de bacalhau às batatas e o sal , quase sem dar por isso absorta nas suas recordações.
Celeste era uma mulher bonita, sem ser nenhuma beleza estonteante. Era pequena, de pele trigueira, com aquela cor das pessoas que vivem à beira-mar. Tinha o cabelo preto e uns olhos castanhos, que muitas vezes se enchiam de lágrimas. Era uma menina ainda, com toda a inocência dos seus quinze anos quando conheceu aquele que era o seu marido.
Afonso era um homem bonito. Mais velho e mais vivido, não foi difícil apoderar-se do coraçãozinho de menina que batia no peito da Celeste.
Casaram um ano depois. Celeste já carregava no ventre um filho. Ainda menina, teve que aprender a ser mãe, e a cuidar daquele pequeno ser, que Deus lhe quisera enviar.
Depressa se apercebeu que o marido não era o príncipe com quem sonhara. Um dia, tinha o filho três meses, Afonso saiu depois do jantar, deixando-a em casa com o filho, e só regressou depois da meia-noite completamente bêbado.
Como se fora um autómato, Celeste apagou o fogão, escorreu a água ás batatas e dividiu a comida pelos dois termos. Pegou as duas lancheiras, que estavam em cima do aparador, colocou um termo em cada uma, juntou uma carcaça do dia anterior, uma pêra e um garfo. Encheu uma garrafa de meio litro de tinto e colocou numa das lancheiras. Foi ao quarto e acordou o marido. Na volta pôs um pano de cozinha em cada lancheira e fechou-as.
Tirou as chaves que estavam na porta, pegou na carteira, e na lancheira, e atirou um seco até logo, saindo de seguida. Não foi ao quarto despedir-se do marido. Há muito que não trocavam um beijo carinhoso.
Enquanto se dirigia à paragem do autocarro, na cabeça fervilhavam as recordações, dos olhos soltavam-se as lágrimas.
O filho crescera e saíra de casa. Nunca se sentira lá muito bem, nem tivera uma relação de amor com o pai. E assim que se empregou, arranjou uma casita e foi morar sozinho. A sua vida ficara então mais triste, sem a presença do filho.
Já lhe ocorrera pedir o divórcio. Porém o medo e a vergonha sempre a faziam desistir da ideia.
Recordou a primeira vez que o marido lhe batera. E a desculpa , com que teve que encobrir, perante a família, a vergonha e a dor que sentia tanto ou mais do que os hematomas. E os dias sem lhe falar. Dias em que ela lhe gritava o nome de manhã antes de sair de casa, e não se falavam mais.
Como agora que não se falavam desde que há oito dias ele lhe tinha voltado a bater. E tudo por causa do álcool. Mordeu os lábios para abafar um soluço ao lembrar - se daquela noite. Ela já dormia, quando Afonso chegou. E estava tão cansada que nem deu por ele se deitar. Acordou com o peso do marido em cima dela. E aquele bafo nauseabundo de bêbado. Quis empurra-lo, fugir da cama. Mas não conseguiu. Ele era muito mais forte e puxara-lhe os cabelos com violência. Virou o rosto e isso enfureceu mais " a besta". Porque Celeste não reconhecia mais o marido naquele selvagem. Quando consumados os seus intentos se virou para o lado e adormeceu, ela levantou-se e meteu-se debaixo do chuveiro. Esfregou o corpo com raiva, enquanto as lágrimas se misturavam à água. Voltou para a cama, e acomodou-se tentando não tocar no marido. Não dormiu mais. E agora enquanto esperava pelo autocarro, pensava que rumo dar à sua vida. O amor que sentira um dia por aquele homem, já sofrera muitas alterações. Foi raiva, medo, ódio, desprezo e agora era também nojo.
De repente saído do nada, veio-lhe à memória, o poema.
Anda Luísa,
Luísa sobe...
sobe que sobe,
sobe a calçada...
Sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo que pensava, se o poeta saberia da sua existência.
É que aquela Luísa era ela...
Este conto já foi postado em Janeiro de 2010. Mas como ultimamente a violência doméstica não para de aumentar, ainda ontem li que um homem de 80 anos matou a mulher, que já vinha sofrendo de violência doméstica desde o inicio do casamento há 44 anos. Por outro lado são poucos os que me acompanham dessa época, e os resistêntes se quiserem podem relê-lo.
Uma boa semana para todos
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