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1.4.13

VIDAS CRUZADAS - PARTE VII




 Quando voltou, duas horas mais tarde, a tia Rosa já tinha chegado, com o seu inseparável Tomé, um gato siamês que quase não se mexia de tão gordo que estava. A mãe já estava com o almoço pronto para pôr na mesa. Depois de beijar a tia, comentou:
- Gordinho o bichano, tia.
- Que queres, ficou assim depois de castrado. Já me tinham dito, mas o malandro não parava em casa antes da operação.
- Coitado...
 – Vamos almoçar que se faz tarde – interrompeu a mãe com a terrina da sopa na mão.
O almoço foi servido com as duas mulheres sempre tagarelando. Absorto nos seus pensamentos, Pedro isolou-se da conversa e foi com sobressalto que sentiu a mão da tia no seu braço, seguida da pergunta:
- Não me estás a ouvir, rapaz?
 – Desculpe tia, estava a pensar nas férias...
 – Então vê se me arranjas por lá namorada, que eu bem sei o desgosto que a minha irmã sente de nunca mais te resolveres a criar o teu ninho. Sabes que és um caso raro na nossa família? Nunca ninguém esteve solteiro até à tua idade.
- Ora tia, quando chegar a hora, eu penso nisso...
 – Quando chegar a hora? Mas rapaz estás quase com trinta anos.
 
 Incomodado com o rumo da conversa, Pedro levantou-se dando o almoço por terminado.
- Vês o que fizeste, mulher? - A voz da mãe fez-se ouvir em tom de reprovação. - Por tua causa não comeu o suficiente.
- Ora essa! Mas eu não disse nada demais. Não me digas que o teu filho fez votos de castidade. Ora se ele não é padre...
 – Nada disso, minha mãe. Não quis comer mais para não me dar o sono a conduzir. Pelo caminho paro em qualquer lado e como mais alguma coisa. Vou pôr as malas no carro. A distância é grande, e a mãe sabe que não gosto de velocidades.
E dizendo isto voltou costas às duas mulheres, que continuaram a conversar. Tratou de meter a bagagem no carro e voltou para se despedir. Abraçou primeiro a tia, fazendo-lhe recomendações em relação à mãe, e por fim abraçou esta, apertando-a com força junto ao peito.
- Que se passa, filho? Sinto-te estranho desde ontem. Parece que me escondes alguma coisa.
- Nada mãe, é que é a primeira vez que vou de férias sem a sua companhia – enquanto tentava tranquilizar a mãe, não pôde deixar de pensar que coração de mãe não se engana nunca.
Arrancou e sem olhar para trás ergueu a mão num adeus. Sabia que as duas mulheres iriam estar ali acenando até o carro desaparecer na curva da estrada.


DESEJO-VOS UMA EXCELENTE SEMANA

15 comentários:

LopesCaBlog disse...

Tanta leitura para eu por em dia.
Boa semana

Luma Rosa disse...

Elvira, alguma coisa haverá de sacudir a calma de Pedro. Fiquei pensando se assim me comportaria se soubesse que estava às portas da morte. Bem, aos próximos capítulos... sabe que gosto de finais felizes! :) Boa semana!! Beijus,

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Para além da história em si mesma, que é interessante e prende quem a lê,está também muitíssimo bem contada;flui com naturalidade e segurança - e tem sabor a coisa autêntica, conseguindo mostrar-nos que o descreve - o que não é pequeno feito...Parabéns!

Abraço amigo, e fico à espera de mais.
Vitor

lis disse...

Oi Elvira
O Pedro está tentando seguir em frente sem preocupar seus familiares em particular sua mãe,mas certamente sofrendo mais.
Uma história comovente ,estou gostando amiga.
deixo abraços e votos de boa semana

Anónimo disse...

Aproveito para me despedir, pois a minha vida vai mudar. Assim que tiver de novo acesso à net, voltarei. :)

Beijinhos e tudo de bom! :)

Unknown disse...

Uma leitura agradável de uma história de vida.
Quantas nós associamos a casos que conhecemos e que se desenrolaram de modo diferente.

abuelacris disse...

Un abrazo amiga ¿todo bien?

Edum@nes disse...

O bichano foi castrado
Ficou mais mansinho
Lá em casa sossegado
Está agora mais gordinho.

O Pedro foi embora
De viagem ainda não voltou
O esperam a qualquer hora
Sua mãe algo estranho notou!

Obrigado pela sua visita amiga Elvira,
boa quarta-feira para você,
um abraço
Eduardo.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Ele quer guardar para si, os problemas para não preocupar a família, principalmente a mão. É angustiante, uma situação dessas. Vamos aguardar o desenrolar da novela. Estou atenta, ao próximo capítulo.
Um forte abraço, Elvira amiga.
da Lúcia

Andre Mansim disse...

Elvirinha, me perdoe o sumiço! Mas as coisas estão corridas e tenho deixado de visitar os blogues dos amigos que gosto tanto.

Quanto ao texto... Maravilhoso como sempre né?

Um beijão e fique com Deus!

José Lopes disse...

Uma despedida dolorosa...
Cumps

Anónimo disse...

Olá, querida Elvira!

Como estão?

Ora, o "seu" Pedro está preocupado com a saúde, ou a falta dela.

Vamos lá a ver, as voltas, que esta sua narrativa vai ter. Podem ser muitas, de facto, mas "morte", NUNCA!

As mães nunca se enganam e sabem, sempre, o que é melhor para os/as filhos/as.

Resto de dia feliz e sem chuva (já não posso com este tempo).

Beijos, com amizade.

rosa-branca disse...

Ai amiga...já virei mais uma parte da história, mas continuo em pulgas, para ler o resto. A amiga sabe prender e bem o leitor. Estou a adorar. Boa semana e beijos com carinho

Luma Rosa disse...

Elviraaaaaaaaa!!
Passando para lhe desejar uma excelente semana!!
Beijus,

Duarte disse...

O guião está bem levado e os feitos vão-se sucedendo com naturalidade. Que capacidade criativa a tua!
Ainda que tudo aquilo que tão bem narras bem pode estar associado ao dia a dia. Gosto.
Um abraço bem grande