VENHO CONTAR-TE ESTRANGEIRO
Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal
Aos teus olhos tão estranhos vou mostrar-te
as aldeias esquecidas de Trás-os-Montes
onde os campos raquíticos não dão pão
Terras, só terras, sem água, sem luz
sem escolas
sem homens
que já se cansaram da fome
herdada
desde longínquas gerações.
Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal.
Aos teus olhos velados da cegueira
das campanhas turísticas.
Aos teus olhos que erram pelas praias
banhadas de sol.
Venho contar-te estrangeiro
As horas de incerteza e de
angústia
vividas pelo meu povo
que pela fome, o mar tornou seu escravo.
E...venho contar-te mais
desta terra onde nasci...
Onde os homens nascem
vivem
e morrem
sem consciência de terem vivido.
Terra de homens-escravos
do tempo
das máquinas
do dinheiro
da própria Vida.
Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal.
Deste país que já não é só de poetas
porque um dia
vividas pelo meu povo
que pela fome, o mar tornou seu escravo.
E...venho contar-te mais
desta terra onde nasci...
Onde os homens nascem
vivem
e morrem
sem consciência de terem vivido.
Terra de homens-escravos
do tempo
das máquinas
do dinheiro
da própria Vida.
Venho contar-te estrangeiro
do meu país
Portugal.
Deste país que já não é só de poetas
porque um dia
um punhado de homens acordou
quebrou as amarras do medo e lutou.
Era Primavera e os cravos floriram.
Na terra dos homens-escravos,
a Revolução nasceu.
Hoje festejamos a data!
quebrou as amarras do medo e lutou.
Era Primavera e os cravos floriram.
Na terra dos homens-escravos,
a Revolução nasceu.
Hoje festejamos a data!
E por isso hoje
Venho falar-te estrangeiro
no desalento que mata a esperança
no desemprego enraízado no meu país
onde o povo envelhece desiludido
olhando as pétalas secas dos cravos.
Hoje venho contar-te estrangeiro
Que há velhos abandonados
Em aldeias esquecidas
entregues à solidão
e às “aves de rapina”.
E acaso sabes que há crianças
que vão para a escola mastigando a fome?
E que pela fome e pelo desemprego
os homens do meu País
voltaram a ser homens-escravos
e a encontrar na emigração
A fuga para a sobrevivência.
Por isso hoje,
venho falar-te estrangeiro
da revolta
Que me rasga o peito
E me obriga a gritar.
venho falar-te estrangeiro
da revolta
Que me rasga o peito
E me obriga a gritar.
EU QUERO UM PORTUGAL MELHOR
PARA TODOS OS PORTUGUESES.
Elvira Carvalho
ESTE POEMA (SE ISTO É UM POEMA) É ASSIM UMA ESPÉCIE DE 2 EM 1. A PRIMEIRA PARTE FOI ESCRITA POUCO DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 74, E PUBLICADO A PRIMEIRA VEZ NUMA REVISTA EM 76. A SEGUNDA FOI ESCRITA AGORA. PORQUE ME APETECIA ESCREVER ALGO RELATIVO AO MOMENTO, MAS POR OUTRO LADO TIVE PENA DE DESTRUIR O QUE ANTES TINHA ESCRITO. POR ISSO FICOU ASSIM.
BOM FERIADO
ESTE POEMA (SE ISTO É UM POEMA) É ASSIM UMA ESPÉCIE DE 2 EM 1. A PRIMEIRA PARTE FOI ESCRITA POUCO DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 74, E PUBLICADO A PRIMEIRA VEZ NUMA REVISTA EM 76. A SEGUNDA FOI ESCRITA AGORA. PORQUE ME APETECIA ESCREVER ALGO RELATIVO AO MOMENTO, MAS POR OUTRO LADO TIVE PENA DE DESTRUIR O QUE ANTES TINHA ESCRITO. POR ISSO FICOU ASSIM.
BOM FERIADO
15 comentários:
Claro que "isto" é um poema. E bom.
Gostei muito, da primeira e da segunda parte.
Não conhecia esta tua costela de poeta. Acho que vale a pena explorá-la, pois tens veia poética em ti que chega e sobra para fazer boas coisas.
Um beijo, querida amiga Elvira.
Olá, Elvira!
Lindo poema, como forma de descrever o Portugal de então e o de agora.
Hoje os festejos do 25 de Abril já sabem a saudade, a lamento do que poderia ser e não é...com imensa pena e tristeza minha - e de tanta outra gente.
Um Bom 25 de Abril!
Abraço amigo
Vitor
Cara Elvira
As duas partes do poema estão tão bem integradas que se diria terem sido escritas de uma só penada.
Um relato poético que nos relembra o passado e o presente. Pelo meio o espírito do 25 de Abril...
Bj
Olinda
"Memórias" que convém não apagar.
Não é fácil... mas vamos mantendo a esperança.
Tudo de bom.
:)
;)
Cara Elvira
Ficou assim e ficou muito bem. O tempo da realização do sonho durou 37 anos. Desde há dois anos, temos um governo que pegou na máxima de Salazar: "um povo que tenha a coragem de ser pobre é um povo invencível" e a transformou em: "um povo obrigado a ser pobre é o melhor povo do Mundo". É claro que a frase é minha, mas a prática governativa impõe-me tal conclusão. E é por isso que o seu poema sintetiza tão bem esses dois tempos. Obrigada.
_________
Sobre o seu problema com os feeds não sei como ajudá-la, por ser algo a que não ligo lá em "casa". Tenho a certeza de que não vou dizer-lhe nada de novo, mas da busca na internet encontrei duas páginas que talvez a possam ajudar (embora já as deva ter consultado...)
http://ciudadblogger.com/2012/01/problemas-con-el-feed-de-tu-blog.html
http://www.elainegaspareto.com/2013/03/problemas-bo-blog-como-resolver.html
São memórias nossas que ñ devemos apagar.
Gostei do poema e da "garra" de quem o escreveu.
Beijo.
isa.
Abril não pode morrer.
Muito bem, Elvira!
Beijo :)
Ficou assim...e ficou excelente!
Apesar dos pesares, ergamos a esperança!
Bom fim de semana, amiga
Tamén na Galiza estamos a pasar malos tempos que fan lembrar aqueles anos 70.
Maloserá que non viren as tornas.
Ficou assim e ficou muito bem! maravilhoso Elvira!
Bjs
Olá, Elvira
Passei por cá com a ideia de me actualizar na escrita de Vidas Cruzadas (o que já fiz) e deparo-me com este belo texto poético, tão verdadeiro que impressiona quem o lê!
Muitos de nós andam revoltados e com vontade de gritar.
Veremos até quando aguentamos...
Uma boa semana.
Um abraço
E ficou muito bem- espelha o nosso povo e as suas provações. Obrigada pelo teu carinho
BS
Quando uma pessoa não tem paciência para rendas mas se serve das palavras para escrever a desdita dum Povo antes como hoje, isso é renda pura amiga.
Beijos
*
um retrato fiel,
deste pobre País,
sem chama,
sem rumo,
sem, sem !
,
um mar de luz,
fica,
*
Passei da parte IX, de Vidas Cruzadas, para ler o poema pela passagem do 25 de Abril.
Além de excelente romancista, nada deixa a dever com poetisa. Gostei e parabenizo-lhe.
Esta data, merece todas as homenagens.
Um abraço!
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