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2.6.20

ISABEL - PARTE XV


foto  minha



- É claro que vamos ter saudades vossas. Mas quando estivermos instalados mando a morada, e depois Braga não é no fim do mundo. Fico muito feliz por terem vindo. O Paulo gostava de convidar o seu sucessor para jantar. Mas acontece que não vive em Lisboa e ainda não chegou. Na verdade não nos lembramos dele. Os pais são nossos amigos, mas o filho parece que é um tanto aventureiro. Viajou muito. As visitas aos pais são esporádicas e rápidas. A mãe disse-me há dias que tinha esperança que ele agora assentasse. Coitada é mãe. 
Fez uma pausa e acrescentou:
- Bom, deixemos o homem em paz e vamos para a mesa.
O jantar decorreu com a animação própria de amigos que se estimam e sentem prazer em estar juntos.
Isabel falou das recentes férias, da cidade que não conhecera até aí, e de tudo o que nela lhe agradou. Contou, que visitara as grutas da Ponta da Piedade, recentemente consideradas no estrangeiro como um local "Tão bonito que até dói", e que a deixaram maravilhada.  E terminou.
- Incrível como viajamos tanto para o estrangeiro e temos localidades tão bonitas no nosso país que não conhecemos.
- Lá isso é verdade. Conheceste a história do mês que há-de vir? - perguntou Paulo.
- Mês que há-de vir? Não. Mas contaram-me porque é que lá chamam condelipas às conquilhas.
- Condelipas? - estranhou Amélia. Tens que me contar essa.
- Depois. Fiquei curiosa com essa história do mês que há-de vir. Podes contar Paulo?
- A Maria conta. Foi ela que nos contou.
Conta, conta – pediram todos.
A jovem não se fez rogada:
-Parece que em tempos remotos, havia em Lagos o costume, de sempre que chegava o mês de Maio, as damas da cidade, darem a um cavaleiro, todas as suas jóias de ouro para que as passeasse pela cidade. Um certo dia um cavaleiro menos honesto, e mais amigo do alheio,  fugiu com todo o ouro. Consta que alguns mais desconfiados diziam que estava a ir longe demais, e outros mais crédulos respondiam. “Quanto mais longe mais brilha”. Quando perceberam que tinham sido roubados, ficaram tão envergonhados que nunca mais ousaram falar do mês de Maio. Desde então em Lagos, a seguir a Abril, é o mês que há-de vir.
Hoje já quase ninguém  fala disto, mas a história foi contada na televisão pelo Professor José Hermano Saraiva, e imortalizada no livro "À descoberta de Portugal" 
- Não conhecia essa história - disse Isabel
- Pudera. Não deve ser coisa de que se orgulhem - comentou Afonso.
Todos riram e Amélia insistiu:
-Agora conta lá isso das conquilhas serem... conde quê?
- Condelipas.
-Isso.
Isabel contou a origem do nome e a conversa mudou de rumo. Até porque a refeição chegara ao fim.
Marta levantou-se.
- Vamos para a sala – disse. Tomaremos lá o café, e conversamos mais um pouco
Pouco depois Isabel perguntou pousando a chávena vazia sobre a mesa.
- Quando partem?
- Por mim íamos amanhã mesmo – respondeu Marta. Mas o Paulo ainda vai ter que reunir com o seu sucessor para o pôr ao corrente de tudo. E ainda não sabemos quando chega. Mas esperamos partir na  próxima semana.
-E essa Avis-rara, se é como dizem tão aventureiro, decerto é solteiro, - disse Amélia baixando a voz e depois de olhar de soslaio para Afonso, não fosse ele ouvi-la.
- Decerto que sim, - riu Marta. Ou a mãe não estaria tão ansiosa para que o rebento assentasse.
Riram as quatro.
Pouco depois despediam-se. Absorta nos seus pensamentos Isabel estremeceu quando Amélia disse.
- Que se passa? Onde estás que não nos ouves? Isto é muito estranho em ti. Tanto mais que toda a noite te senti meio ausente. Acho que anda mouro na costa. Amanhã, vais ter de me contar tudo.
O carro estacionou à sua porta e Isabel apressou-se a sair.