O casal desceu a rua da Gafaria, entrou na travessa da Biker, até ao cruzamento com a rua do Infante de Sagres, continuando por esta até à baixa, passando pela Praça Luís de Camões, Rua Garrett até se encontrarem finalmente na Praça Gil Eanes, onde se dirigiram ao café Oceano para tomar o pequeno almoço.
Eram jovens, e apesar de se terem conhecido há menos de um
mês, pareciam tão apaixonados que qualquer pessoa pensaria estarem juntos desde
a infância. Ele, era alto e magro, tão moreno que a sua pele apresentava um tom
quase azeitonado, de cabelos e olhos escuros. Tinha vinte e cinco anos e estava
de férias antes de entrar no último ano de medicina. Ela, de estatura mediana,
tinha os olhos castanhos, e os longos cabelos cor de trigo maduro, presos numa
única trança que lhe caía sobre o peito, de seios pequenos e firmes. Tinha
feito dezanove anos no mês anterior, e preparava-se para entrar no ISCAL a fim
de continuar os seus estudos.
Nenhum deles morava na cidade, onde ambos se encontravam de
férias. Conheceram-se quando ambos, decidiram conhecer as belas grutas da
Ponta da Piedade e no cais só estava um barco disponível que ambos partilharam.
Foi um passeio mágico que os deixou maravilhados. E desde aí passaram a andar
sempre juntos. Amor à primeira vista, e uma paixão avassaladora como só
acontece na juventude. Caminhavam de mãos dadas, parando de vez em quando para
um beijo rápido.
Gonçalo Bacelar, pertencia
a uma abastada família de Braga, onde vivia com os pais e Laura a irmã mais
nova. Ele e dois amigos de longa data, ambos estudantes como ele, tinham por
hábito todos os alugar um apartamento para férias no Algarve. Todos os anos
escolhiam uma cidade diferente e os três divertiam-se de dia na praia, de noite
namoriscando nos bares, mas nunca com a mesma jovem mais do que duas noites
seguidas. Nunca até agora algum deles se tinha apaixonado de modo a esquecer
por completo os amigos e a diversão.
Helena Cadeira, (Lena para a família e amigos) era a segunda
filha de um casal de agricultores de uma aldeia cheia de história, situada no
interior da Beira Baixa, a sul da Serra da Gardunha. Aí vivera, brincara, estudara até ao sexto
ano. Depois ia todos os dias para o Fundão onde completou o Secundário. Até aos
dezoito anos, tirando as viagens de estudo, o mundo dela terminava em Castelo
Branco, onde fora duas ou três vezes com o pai. Sonhava em conhecer outras
terras, especialmente a capital e o Algarve, mas os pais não a deixavam ir
sozinha, e o irmão sete anos mais velho, que como ela sonhava com outros
horizontes, terminados os estudos em Coimbra, lá se empregara como gerente, na
loja do pai da companheira, antiga colega de estudos, por quem se apaixonou e
com quem passou a viver, uma relação feliz, que já fora contemplada com o
nascimento de um filho.
Este era, pois, o primeiro ano em que a jovem estava de
férias longe dos olhares paternos, embora estivesse no mesmo apartamento com o
irmão, e a família que ele formara.
Enquanto comiam, os jovens faziam juras de amor eterno e
projetos para o futuro.
Eram os últimos momentos que estavam juntos. Uma hora mais
tarde, Gonçalo partiria, acabadas que eram as suas férias. Lena ainda ficaria mais
uns dias.
-Juras que não te vais esquecer de mim, - perguntou ela
abraçando-o, antes que entrasse no carro, onde os amigos já o esperavam.
-Ainda que quisesse, e não é o caso, não o conseguiria.
Levo-te aqui, - disse levantando a mão e apoiando-a sobre o coração.
-Telefona-me quando
chegares, - pediu ela quando ele já punha o carro em andamento.