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24.6.24

24 DE JUNHO, DIA DE S. JOÃO

 


O S. João que hoje se comemora um pouco por todo o país, com maior intensidade no Porto e em Braga, que o têm por padroeiro.

A verdade é que os maiores festejos - exceto os religiosos - ocorreram ontem dia 23, véspera do dia do Santo. Há uns sessenta anos atrás, não existia TV, embora ela tivesse chegado a Portugal, em mil novecentos e cinquenta e sete, só uma escassa minoria possuía a caixinha mágica, que iria alterar os costumes e tradições. E para falar verdade, nem sentíamos na altura que fizesse muita falta. Nas noites quentes de Verão, o povo sentava-se à porta de casa, olhando as estrelas, sonhando com um futuro melhor para os catraios que brincavam na rua, saltando ao eixo, jogando à macaca, ou correndo atrás de uma bola feita de trapos, ou de bexiga de porco.

Pelos Santos Populares, na Seca da Azinheira, o pessoal residente, juntava-se no início da rua das "casas novas". Era assim que nós chamávamos ao grupo de casas que existiam na Seca e onde habitavam os empregados de escritório, os encarregados, os eletricistas e os ferreiros. Nós vivíamos a uns trezentos metros, num barracão de madeira isolado, mas um dos eletricistas era irmão do meu pai, e tinha dois filhos um pouco mais velhos que eu, daí que no Verão, quando o pai não aproveitava a noite para cavar ou regar o quintal, íamos para as "casas novas" brincar com os primos e as outras crianças aí residentes, enquanto os pais se entretinham em conversas sobre a vida e os seus problemas.

No S. João, o meu pai, fazia todos os anos, um enorme balão de papel colorido.

Lembro-me que levavam umas tochas feitas com desperdícios, embebidas em petróleo, que enquanto ardiam mantinham os balões no ar. Quando se apagavam o balão começava a perder o ar quente que o mantinha lá em cima e acabava por cair atraído pela gravidade.

Os mais velhos faziam uma fogueira no meio da rua, e sentados junto ao muro, do quintal da casa mais próxima, contavam histórias, enquanto davam um olhinho pelos mais novos. E nós, crianças, corríamos atrás dos grandes besouros, que sempre apareciam nesta altura do ano. E fazíamos rodas à volta da fogueira e quando ela ficava mais fraca, obtínhamos permissão dos pais para a saltar. Convivíamos.

Todos se conheciam, todos se ajudavam. No dia seguinte cumprimentavam-se, comentavam a noite anterior, e acabavam com um "No São Pedro lá estaremos".

Eu tenho saudades desse tempo. Não da repressão, nem da miséria em que vivíamos, mas da ligação que havia entre as pessoas.

Hoje juntam-se às centenas, às vezes milhares, todas no mesmo espaço, em concertos, ou no futebol, saltam, gritam, mas não se conhecem, e quando o evento acaba, são de novo desconhecidas. Estão juntas e simultaneamente estão sozinhas. Estão ligados ao mundo, através dos seus telemóveis e das redes sociais, mas não sabem o nome de quem está ao seu lado.

É como se as pessoas se tivessem transformados em ilhas. Podem estar distantes, ou mesmo ali ao lado, mas não se tocam. Vivem em prédios de vários andares e não conhecem às vezes nem o vizinho do lado. Não há convívio. Não se respeita o outro, a vida humana deixou de ter valor, os homens matam-se pelos motivos mais fúteis.

É urgente que a Humanidade pense em ser ponte. Em união. Em AMOR.

Bom S. João para todos

11 comentários:

Citu disse...

Feliz día de san juan. Te mando un beso y te deseo una buena semana.

Pedro Coimbra disse...

E dia de aniversário da minha mãe.
Boa semana

chica disse...

Feliz dia de São João,Elvira!
beijos, chica

Fatyly disse...

Uma narrativa muito bonita com um final soberbo!
Beijos e um bom dia

Tintinaine disse...

Aqui não há S. João, só há S. António e S. Pedro! Eu para ser ainda mais diferente só festejo o S. Tiago. Para mim o 25 de Julho é o meu porto seguro!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
A evolução tecnológica foi muito boa mas infelizmente deixa para trás também muitas coisas boas .

JR

Janita disse...

Obrigada, Elvira!
E o meu, é sempre especial!

Um abraço.

Andre Mansim disse...

Aqui nós herdamos as festas juninas, de vocês aí de Portugal.
E eu gosto muito! Minha esposa é apaixonada por festa junina.
Gostei de ver que você se lembra com carinho.

Tenha uma ótima semana.
Um grande abraço carinhoso!

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Também, tenho saudade dos festejos juninos de antigamente: família, amigos e vizinhos reunidos em torno da fogueira, crianças a brincarem, adivinhações, arrasta pé e as conversas boas. Hoje em dia tá tudo diferente!
Abraços e feliz São João!

São disse...

É interessante que João, tão asceta, tenha virado tão festeiro.

Beijinho

cantinho disse...

Estamos na época das festas populares.
Um abraço.
♥️