-De certo modo, passei o Natal com a família, - disse Anabela respondendo à
pergunta anterior.
- Como de certo modo? - perguntou ele disposto a saber mais sobre a jovem.
Ou passou com a família, ou com amigos, ou sozinha.
- Passei o Natal, com a minha afilhada e seus pais. São a minha família do
coração, mas não temos nenhuns vínculos sanguíneos, - respondeu cada vez mais
admirada com o tom quase carinhoso que o doente estava a empregar naquela
manhã.
“Tenho de perguntar à Isilda o que aconteceu nestes dois dias,” – pensou.
Nos quinze minutos que durou aquele tratamento o silêncio reinou entre
eles, fazendo com que Anabela serenasse. Ela não gostava de falar da sua vida,
e as constantes perguntas de Tiago, estavam a pô-la nervosa.
Terminado o tempo daquele tratamento, retirou a placa do calor e deu início
à massagem.
-Isso quer dizer que não tem qualquer familiar vivo?
Sobressaltou-se e respondeu com um seco “não” desejando que o doente não
continuasse com aquele inquérito.
Anabela constituía um verdadeiro mistério para o jovem. Sabia pelo seu tio, e
até pelo pouco que ela deixara escapar, naquele dia em que se irritara com ele,
que era uma mulher sofrida, todavia isso era muito pouco, para o que ele
desejava saber. Porém a forma como ela pronunciou aquele não, cortou qualquer
hipótese de uma nova pergunta e Tiago era demasiado inteligente, para não saber
quando recuar.
Decidiu mudar de assunto e esperar que nos próximos dias, pudesse fazer com
que ela confiasse nele, o suficiente, para então tentar saber algo mais.
- Não sei qual o programa de tratamentos que o meu tio lhe deixou, mas
sinto-me fisicamente muito mais forte e gostaria de iniciar a passadeira, o
mais breve possível.
-O plano de tratamentos indicado pelo doutor Azevedo, é aquele que tenho
vindo a fazer. Ele não estipulou quando o doutor iria para a passadeira, pois o
senhor estava demasiado fraco para se segurar de pé. Reconheço que está bem
melhor e podemos experimentar esta tarde, alguns passos. Se não sentir muitas
dores no braço esquerdo, já que terá de se agarrar às barras e aguentar o peso
do corpo nos braços, para tentar movimentar as pernas, podemos passar para essa
fase. Mas devo avisá-lo de que não deve estranhar, nem desanimar se nos
primeiros dias não conseguir movimentar as pernas.
Esteve muito tempo de cama e além disso, sofreu fortes lesões nas costas, e
uma cirurgia. Tem de se mentalizar que se os médicos disseram que pode voltar a
andar, é porque o pode fazer. O doutor sabe tão bem como eu, que o cérebro
comanda o corpo, e tem de trabalhar essa vontade.
- Não tenho feito outra coisa nos últimos dias.
O resto dos tratamentos decorreu em silêncio, cada um perdido em seus
pensamentos. Quando terminaram, Anabela trouxe a cadeira para junto da maca,
travou-a e preparou-se para ajudar o doente, porém Tiago recusou a ajuda, fazendo
descer o corpo e rodá-lo de forma a sentar-se, sustendo todo o seu peso na
força dos braços. Depois disse:
-Se destravar a cadeira, pode ir. Vemo-nos mais logo.
-Não quer que o ajude a ir para a cama, ou que chame o Joaquim para o
ajudar? – perguntou admirada.
-Não é preciso, obrigado.
E voltando a cadeira afastou-se em direção ao quarto.
8 comentários:
A esperança renasce.
Bfds
Pelo menos já vai havendo diálogo entre o paciente e a enfermeira, o que já é muito bom.
Melhor é o Dr. não se apressar demais, corre o risco da Anabela se fechar na sua concha. :)
Um abraço.
Muito bem, temos homem!
Talvez a curiosidade dele não seja inferior ou superior à dela, bem que ela gostaria de saber o vai dentro daquela cabeça dura. Com o tempo lá irá!
Bom dia
Está a ficar interessante esta proximidade.
JR
Devagarzinho as coisas acontecendo...Lindo! beijos, ótimo fds! chica
A passar por cá para acompanhar as histórias e desejar uma ótima semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Tudo a correr às mil maravilhas, por aqui :)
Espero que também os seus olhos tenham melhorado um pouco, Elvira!
Um abraço!
Já li um livro que tinha esse título: "Cicatrizes na Alma", Françoise Sagan.
Um abraço grande e saudoso...
Enviar um comentário