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2.6.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE L

 

-De certo modo, passei o Natal com a família, - disse Anabela respondendo à pergunta anterior.

- Como de certo modo? - perguntou ele disposto a saber mais sobre a jovem. Ou passou com a família, ou com amigos, ou sozinha.

- Passei o Natal, com a minha afilhada e seus pais. São a minha família do coração, mas não temos nenhuns vínculos sanguíneos, - respondeu cada vez mais admirada com o tom quase carinhoso que o doente estava a empregar naquela manhã.

“Tenho de perguntar à Isilda o que aconteceu nestes dois dias,” – pensou.

Nos quinze minutos que durou aquele tratamento o silêncio reinou entre eles, fazendo com que Anabela serenasse. Ela não gostava de falar da sua vida, e as constantes perguntas de Tiago, estavam a pô-la nervosa.

Terminado o tempo daquele tratamento, retirou a placa do calor e deu início à massagem.

-Isso quer dizer que não tem qualquer familiar vivo?

Sobressaltou-se e respondeu com um seco “não” desejando que o doente não continuasse com aquele inquérito.

Anabela constituía um verdadeiro mistério para o jovem. Sabia pelo seu tio, e até pelo pouco que ela deixara escapar, naquele dia em que se irritara com ele, que era uma mulher sofrida, todavia isso era muito pouco, para o que ele desejava saber. Porém a forma como ela pronunciou aquele não, cortou qualquer hipótese de uma nova pergunta e Tiago era demasiado inteligente, para não saber quando recuar.

Decidiu mudar de assunto e esperar que nos próximos dias, pudesse fazer com que ela confiasse nele, o suficiente, para então tentar saber algo mais.

- Não sei qual o programa de tratamentos que o meu tio lhe deixou, mas sinto-me fisicamente muito mais forte e gostaria de iniciar a passadeira, o mais breve possível.

-O plano de tratamentos indicado pelo doutor Azevedo, é aquele que tenho vindo a fazer. Ele não estipulou quando o doutor iria para a passadeira, pois o senhor estava demasiado fraco para se segurar de pé. Reconheço que está bem melhor e podemos experimentar esta tarde, alguns passos. Se não sentir muitas dores no braço esquerdo, já que terá de se agarrar às barras e aguentar o peso do corpo nos braços, para tentar movimentar as pernas, podemos passar para essa fase. Mas devo avisá-lo de que não deve estranhar, nem desanimar se nos primeiros dias não conseguir movimentar as pernas.

Esteve muito tempo de cama e além disso, sofreu fortes lesões nas costas, e uma cirurgia. Tem de se mentalizar que se os médicos disseram que pode voltar a andar, é porque o pode fazer. O doutor sabe tão bem como eu, que o cérebro comanda o corpo, e tem de trabalhar essa vontade.

- Não tenho feito outra coisa nos últimos dias.

O resto dos tratamentos decorreu em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Quando terminaram, Anabela trouxe a cadeira para junto da maca, travou-a e preparou-se para ajudar o doente, porém Tiago recusou a ajuda, fazendo descer o corpo e rodá-lo de forma a sentar-se, sustendo todo o seu peso na força dos braços. Depois disse:

-Se destravar a cadeira, pode ir. Vemo-nos mais logo.

-Não quer que o ajude a ir para a cama, ou que chame o Joaquim para o ajudar? – perguntou admirada.

-Não é preciso, obrigado.

E voltando a cadeira afastou-se em direção ao quarto.

 

8 comentários:

Pedro Coimbra disse...

A esperança renasce.
Bfds

Janita disse...

Pelo menos já vai havendo diálogo entre o paciente e a enfermeira, o que já é muito bom.

Melhor é o Dr. não se apressar demais, corre o risco da Anabela se fechar na sua concha. :)

Um abraço.

Tintinaine disse...

Muito bem, temos homem!
Talvez a curiosidade dele não seja inferior ou superior à dela, bem que ela gostaria de saber o vai dentro daquela cabeça dura. Com o tempo lá irá!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Está a ficar interessante esta proximidade.

JR

chica disse...

Devagarzinho as coisas acontecendo...Lindo! beijos, ótimo fds! chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar as histórias e desejar uma ótima semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

Tudo a correr às mil maravilhas, por aqui :)

Espero que também os seus olhos tenham melhorado um pouco, Elvira!

Um abraço!

Anete disse...


Já li um livro que tinha esse título: "Cicatrizes na Alma", Françoise Sagan.

Um abraço grande e saudoso...