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29.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE VI





No início do tratamento, Alzira passou mal. Tinha tonturas, náuseas e até vómitos. Mas o médico tinha avisado que seriam efeitos passageiros e assim foi, já que duraram apenas dez dias.

 O pior é que as melhoras não apareciam e a maldita doença parecia continuar a agravar-se. Ela, já não era a mesma mulher de antes. Os seus olhos tinham perdido o brilho, o corpo ganhou peso, a conversa cessou quase por completo, os movimentos perdiam coordenação. A compaixão que Luís sentia pela esposa, ia se incorporando cada vez mais no amor de outrora.
Voltaram ao neurologista, que resolveu combinar com o inibidor de colinesterase a Memantina.

Mas também este medicamento era um paliativo, pois não havia qualquer certeza de que pudesse melhorar a situação de Alzira. E a verdade é que não melhorou. Ainda assim, na consulta seguinte, o médico disse-lhe que tinha que continuar a fazer o tratamento, pois embora a ciência não conhecesse ainda outros medicamentos, o tratamento poderia evitar um sofrimento maior. e um aceleramento mais rápido da doença.

E tinham-se passado sete anos desde os primeiros sintomas. Agora Alzira,  está totalmente perdida, num mundo onde o marido não consegue chegar. Não faz nada sozinha, desde a higiene à alimentação, é ele quem tudo lhe faz.

Luís sente-se muito cansado.
Não tem irmãos, os seus pais já morreram, não tem filhos. Os cunhados ou já morreram ou estão emigrados, e os sobrinhos desde que a tia perdeu a noção das coisas e deixou de lhes dar dinheiro, nunca mais a foram ver. A mulher que foi tudo para ele na vida, companheira, mulher, amiga, amante, está presa algures, numa qualquer masmorra do seu cérebro doente. 
Sem esperança de se conseguir libertar. 

 E ele interroga-se: -" E se de súbito me acontece alguma coisa? Afinal estou com setenta e quatro anos. O que vai ser de Alzira? Quem cuidará dela?"


Nota:
 Eu sei que esta história é dura. Que mexe convosco. Porque alguns conhecem alguém que é portador da doença, e quase todos, transportamos connosco o secreto receio de vir a padecer dela.  Acredito que seja atualmente a doença mais temida pela humanidade. Esta história é totalmente fictícia. Foi inspirada numa notícia que ouvi onde se dava conta de que a doença aumentava em todo o mundo.
Peço-vos que não deixeis de ler o final na próxima quarta feira, já que dia 1 é dia de Todos os Santos. Talvez se surpreendam e descubram que as histórias de amor não deixam de o ser, mesmo quando a vida nos é madrasta.






12 comentários:

Emília Pinto disse...

Sim, Elvira, uma história dura, porque todos nós sabemos os males dessa terrivel doença. Conheci uma senhora, irmã de minha cunhada que partiu muito cedo, acometida desse mal; esteve uns 10 anos acamada, no mundo dela, cuidada em casa pelo filho, nora e marido. Mas o mais triste é que esse filho, com cinquenta e poucos anos está a ficar como a mãe; já não sai da cama e há muito não fala; parece que não é Alzheimer, mas é parecido. Muito, muito triste, Elvira, mas, cá estarei para saber o fim desta história que, apesar de triste, é uma grande história de amor. Obrigada, querida Amiga! Um beijinho e uma saúde satisfatória para todos vós
Emilia

Pedro Coimbra disse...

A minha madrinha e o meu marido a quem sempre chamei padrinho.
E já vão quase nos noventas.
Um horror.
Bfds

Joaquim Rosario disse...

Um bom fim de semana e cá ficamos á espera desse final

JR

Maria João Brito de Sousa disse...

Cá estarei para ler o último capítulo desta Noite de Inverno, a menos que o meu coração pare de pulsar ou o meu computador se desintegre.

Já cuidei de pessoas com demência, conheço bem a dureza de tudo isto.

Forte abraço, Elvira!

Tintinaine disse...

Cá voltarei na quarta-feira para ver o desfecho!
Bom fim de semana!

chica disse...

Realm,ente é dura, mas apesar de fictícia, para tantos é real e nofundo, todos a tememos. Vamos esperar o final na 4 feira! beijos, lindo dia e fds! chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um problema dramático.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Janita disse...

Um drama que afecta muitos casais.
Conheço de perto um caso assim. Uns amigos desde que me conheço, lá no Alentejo. O meu amigo António cuidador da sua mulher, a minha amiga Margarida, é como o personagem Luís e a Alzira.
A solução, seria a que vi recentemente no filme baseado num livro que li e tenho aqui perto de mim: "O Diário da Nossa Paixão" da autoria de Nicholas Sparks. O internamento de ambos numa Instituição, até porque é impensável para o cuidador que ama a companheira, internar a doente e ficar sozinho. O meu amigo diz que é o que vai fazer, quando houver vaga lá no Lar. Ele está pele e osso e a Margarida, que toda a sua vida foi Rijo de apelido e rija de temperamento, está gorda, apática e distante. Aquilo já não é viver, é vegetar.

Desculpe, Elvira, mas não pude evitar falar neste caso que conheço bem e tanto me dói.
Um abraço.

- R y k @ r d o - disse...

Passando, gostando de ler, e deixando saudações e votos de Bom fim de semana.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Cidália Ferreira disse...

Uma doença comum a muita gente. Mais do que se julga!

*
Não é fantasia nem invenção
*
Beijos e um excelente fim de semana.

Majo Dutra disse...

É duro, mas é a realidade de tantos.
Faleceu assim, há uns anos em Viseu, a mãe de amigos meus, uma senhora de quem gostava muito. Acabou por ser internada, não queria comer, dizia sempre que já tinha comido.
Partiu em pele e osso...
Bom fim de semana. Tudo pelo melhor. Abraço.
~~~~~

teresadias disse...

Dura de verdade é a terrível doença que mata doente e cuidador.
Esta história ficcionada alerta consciências.
Beijo.