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25.10.21

UMA NOITE DE INVERNO - PARTE IV



Depois ele montou uma pequena oficina nas traseiras, e ela, voltou à costura. Como não tinham filhos, todos os anos faziam uma grande viagem. Passeavam sempre que podiam e lhes apetecia e os anos foram passando, mas se a idade, fez com que as labaredas da paixão, se fossem aos poucos transformando num fogo mais brando, eles estavam cada dia mais unidos, mais companheiros, mais cúmplices.

Mas tudo mudara há uns sete anos. Os primeiros sinais foram tão impercetíveis que quase nem se apercebeu. Uns momentos de ausência que ele até tomou por qualquer preocupação que a mulher tivesse com algum dos seus sobrinhos.
Luís lembrava-se de ouvir muitas vezes enquanto criança, a sua avó dizer; “a quem Deus não dá filhos,  dá o diabo sobrinhos” e os da mulher não eram lá grande coisa. Só apareciam a ver a tia, para pedirem dinheiro.

Depois, pequenas perdas de memória, primeiro raras, depois mais frequentes. A princípio nem o médico de família lhe ligou importância. Eram sintomas normais de envelhecimento. Afinal com a idade, toda a gente vai tendo essas pequenas perdas de memória, disse ele. E aconselhou-a, a passar a fazer uma lista das coisas para não se esquecer.

A determinada altura Alzira, tornou-se agressiva. Ele pensou que ela devia ter consciência de que algo de grave lhe estava a acontecer e estava revoltada. 
Perdeu a sua característica doçura, andava sempre irritada. E chorava com frequência, que ele bem via os seus olhos vermelhos. Uma fase que durou quase três anos. O médico receitou calmantes,  que ela não queria tomar, porque a deixavam meio a dormir o dia todo.

Depois, a agressividade foi trocada pela apatia.  Parecia que nada despertava o seu interesse. Progressivamente era como se aos poucos se fosse desligando do mundo que a rodeava.

E só nessa altura, o médico lhes passou uma credencial para um neurologista. Esperou algum tempo pela consulta no hospital, enquanto os sintomas se iam agravando.
Quando finalmente foi à consulta o diagnóstico não podia ter sido mais terrível para Luís, embora ele tivesse a noção de que Alzira, naquela altura, já não tinha discernimento para saber o que era ter Alzheimer.



13 comentários:

Emília Pinto disse...

Não esperava por isto, Elvira! E nem assim me lembro da história. Que tristeza, a minha e a do casal...tudo a correr bem e logo aparece esta terrivel doença. Mas, acontece com todos...quando menos se espera, lá vem um problema de saúde. Amiga, vamos lá....continuar à espera do desenrolar do caso. Boa noite e SAÚDE para todos aí em casa. Beijinhos
Emilia

Pedro Coimbra disse...

Um mal horrível que a tantos afecta.
E não são só os velhos.
Boa semana

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Com o mundo moderno a ficar cada vez mais velho, lembro que já são às dezenas os centenários no nosso país, não será de admirar que essa doença comece a ser cada vez mais conhecida e falada entre nós.
Uma boa semana e que Deus nos livre dessa maleita!

" R y k @ r d o " disse...

Uma doença terrível. A minha querida mãe falecida em 25 de Fevereiro passado sofreu dessa doença. Morreu com covid-19 ( maldita doença ) mas já nem os filhos, noras, genros, netas conhecia. Triste, muito triste.
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Saudações poéticas
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Maria João Brito de Sousa disse...

Quem pode prever uma desgraça destas, seja numa novela, seja na vida real?

Na minha ascendência directa, não há ninguém que não tenha morrido lúcido e bem lúcido, mas não será menos verdade que quase todos partiram muito cedo...

Forte abraço, amiga!

chica disse...

PUXA! Que triste isso! Tinha que vir algo pra estragar...Ou não? Vamos ver! bjs, chiuca

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Uma doença terrível dos nossos tempos!
Logo havia de acontecer a Alzira.
Aguardemos por melhores notícias.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Majo Dutra disse...

Um mal que assusta todos que estão na faixa etária acima dos cinquenta...
Agradeço o apoio que me deixou no Refúgio.
Boa semana. Abraço.
~~~~~

Daniela Silva disse...

É tão assustador :(
Beijinho

Cidália Ferreira disse...

Uma doença terrível para o doente e o cuidador!
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Faz dos teus dias, a banda sonora ...
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Beijos e uma excelente semana
Boa noite

teresadias disse...

Tinha que aparecer essa malvada doença para estragar a velhice do casal.
Acontece na vida real, porque não numa novela?!
Beijo Elvira, e muita saúde.