Regressou de Angola decidido a deixar o mar. A procurar outro rumo de vida, um novo futuro. Mas não era fácil. Mal terminara a primária, começou a ir para o mar. O seu pai era pescador, o seu avô fora pescador, e antes do seu avô, todos os homens da família tinham sido pescadores. Alguns tinham ficado por lá, desaparecidos em naufrágios. O mar mandara outros para terra, feitos cadáveres.
Ele não queria aquela vida. Não escapara do inferno da guerra, para acabar no fundo do mar. Mas que mais, sabia ele fazer? Nunca aprendera outra profissão. Todavia, acreditava que nunca era tarde para dar uma volta no seu destino.
Arranjou trabalho numa oficina de automóveis. Começou por lavar carros. Quando não tinha que fazer, ia ajudar os mecânicos. Comprou livros para aprender a teoria, a prática ia aprendendo-a no dia a dia.
Alzira, a mulher era modista. Tinha uma boa clientela, não lhe faltava trabalho. Era uma boa mulher. Asseada, poupada, e trabalhadora. Mas, embora isso não fosse pouca coisa, para ele não chegava. Não que estivesse a pensar separar-se, ou tivesse deixado de amar a mulher. Mas que estava desiludido com a vida matrimonial, isso era um facto.
Num tempo, em que a sociedade dizia, que a honra da mulher estava no meio das suas pernas, elas não aprendiam a ser mulheres. Eram educadas para serem boas esposas, e mães. Aprendiam de meninas, a cozinhar, arrumar uma casa, costurar, a cuidar dos irmãos mais novos, para que mais tarde, soubessem cuidar dos filhos. As mães diziam às filhas que era sua obrigação “servir” o marido quando lhe dava a vontade, para que ele não procurasse na rua, o que a mulher não lhe dava em casa.
Ensinavam-lhes que o sexo era algo sujo, que a mulher só devia consentir, porque era necessário para perpetuar a espécie. Alzira fora criada nesses preceitos. A igreja também punha o carimbo de pecado, em tudo que não fosse estritamente necessário para a procriação. Ninguém ensinava à mulher, que o sexo era um complemento do amor, e que o seu corpo tinha os mesmos direitos a desfrutar da intimidade, que o dos homens.
Com o homem era diferente. A eles tudo era permitido. Eles estudavam, viajavam, frequentavam bordéis. Aprendiam a tirar todo o prazer que o corpo lhes podia dar.
Com a mesma tenacidade com que lutava para melhorar a sua vida profissional, Luís propôs-se ensinar à esposa, que entre duas pessoas que se amam, nada é sujo ou pecaminoso, que era errado pensar no sexo apenas como meio de procriação. Se assim fosse a natureza se encarregaria de castrar os desejos dos estéreis, o que não acontecia pois casais que não podiam ter filhos desfrutavam da relação sexual, com o mesmo prazer dos outros.
Foi um pouco difícil mudar a mentalidade da mulher, mas com todo o amor que lhe tinha, e uma boa dose de paciência, conseguiu tornar a vida intima do casal mais empolgante.
13 comentários:
Tempos de obscuridão. Embora hoje os tempos seham de luz a jorros ahahahahahah
Boa noite, Elvira
O homem era um conquistador e a mulher uma vadia.
E ainda há gente que assim pensa.
Outros tempos, outras vontades. Nas aldeias do Minho, onde eu passei os primeiros da minha vida, as mulheres só faziam o que o padre mandava. Faziam o pecado, iam ao confesso e levavam uma lavagem ao cérebro que lhes tirava a vontade de repetir.
Continuo a seguir este "Uma Noite de Inverno" com muito interesse.
Um grande abraço, Elvira!
Tempos bem diferentes, pensamentos bem estranhos... Lindo capítulo! bjs, chica
A Elvira tem uma veia de pedagoga. :)
Abraço e muita saúde.
Gostei do episódio. Estou curiosa para saber como se vão dar, intimamente, futuramente! :))
-
Nunca deixem que vos destruam a autoestima
-
Beijos, e uma excelente tarde :)
Mais um bom capítulo que gostei de ler
.
Saudações cordiais.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Houve uma luz muito ténue que se acendeu na minha mente.
Mais um capítulo ou dois e já fico com a certeza se li esta história ou não.
Um abraço, Elvira.
IrBoa noite Elvira,
Eram outros tempos e ainda bem que este marido já tinha ideias avançadas para a época.
Beijinhos e saúde.
Ailime
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Tempos tristes para as mulheres, aqui muito bem descritos.
Excelente capítulo, Elvira!
Beijo
A igreja até incentivou o desaparecimento do banho, pois era imoral, o uso da água devia ser limitado às partes livres do corpo, como as mãos e o rosto.
Um abraço e saúde!
Enviar um comentário