Bom, não sei quando terei uma nova história para vos apresentar, dado o estado dos meus olhos, além de outros problemas, como o provocado pelo antibiótico para a infeção urinária que me vai obrigar a procurar hoje mesmo nova ajuda médica e o tempo limitado que posso estar no pc. De modo que vem aí uma outra história das mais antigas. Os leitores de 2016 recordar-se-ão dela, embora haja na história pequenas alterações. Porém os leitores mais recentes, não a conhecem até porque foi uma das que acabei por apagar pouco tempo depois da sua publicação. É uma historia pequenina apenas 7 episódios.
I
A noite estava muito fria. Era inverno. Lá fora a temperatura devia rondar os zero graus. A um canto junto à janela, a braseira aquecia a sala. As janelas de vidro, estavam abertas, contrariamente às persianas corridas que apenas deixavam passar uma nesga de ar gelado, contudo necessário para a renovação de ar, por causa da braseira acesa.
Na sala um casal via televisão. A mulher de cabelos grisalhos, e olhar parado, brincava com os dedos como se neles tivesse um qualquer objeto, que mexia e remexia. Devia ter uns setenta anos, era de baixa estatura, e figura roliça. O rosto ostentava ainda restos do que teria sido um rosto senão belo, pelo menos muito gracioso. Os olhos que teriam sido brilhantes e vivos, eram verdes, como dois
lagos de águas paradas.
Junto dela, o homem ligeiramente mais velho, alto e magro, calvo, de olhos escuros e barba grisalha. A televisão transmitia um programa de variedades, mas o casal parecia nem dar por isso. O homem olhava a mulher com um misto de amor e piedade. Parecia estar pendente dela, enquanto ela se mostrava totalmente ausente.
Ele conhecera-a nos bancos da escola. Foi a sua primeira e única namorada. Porque fora a única mulher que ele amara na vida, além da sua mãe. Casaram-se muito jovens. Ele estava na tropa em Leiria, quando soube que tinha sido destacado para a guerra nas colónias. Foi um choque, e resolveram casar à pressa, porque ele tinha medo de morrer, sem viver o amor que sentia por ela.
Tinha vinte e um anos, ela acabara de fazer dezoito.
Dois dias depois de casados, ele voltou ao quartel donde só saiu na hora do embarque com destino a Angola.
Chegou a Luanda num longínquo dia de Março de mil novecentos e sessenta e quatro. Depois de dois dias na cidade, que mal deram para umas cervejas no famoso café Rialto e um passeio pela ilha, lá foi com o destacamento para as margens do Lungué-Bungo, no leste de Angola, e por lá ficou vinte e seis meses, apenas com um mês de férias ao fim de um ano.
Como ele gostaria de ter vindo à metrópole nesse mês, rever a terra, os amigos, e principalmente a sua amada Alzira. Infelizmente o dinheiro não abundava e teve que se contentar com uma ida até ao Luso, (a cidade mais próxima, do acampamento, embora ficasse a quase 200 quilómetros ), duas ou três idas ao cinema e uns copos com outros camaradas também de férias.
Às vezes sentia a tentação de se deitar com alguma das belas mulatas que viviam perto do acampamento.
Afogar nuns momentos de prazer, as saudades de casa, os medos das emboscadas, a dor da perda de algum companheiro menos afortunado.
Porém, lembrava-se da esposa, e embora não tivesse pretensões de santidade, pensava que umas horas de prazer com uma desconhecida, não substituiriam o amor, nem mitigariam a saudade que tinha, da mulher que amava.
E o desejo, não era mais forte do que ele, que moldara a sua força na anterior vida de pescador, em bravas lutas com mares encapelados...
21 comentários:
Para já não me lembro de a ter já lido e vou seguir a leitura.
Muita força e as melhoras
um abraço e uma boa semana
Gábi
Não tenho ideia de ter lido esta história. Vou continuar a ler pode ser que entretanto me lembre. Para já gostei bastante deste capítulo.
As suas melhoras, Elvira.
Um abraço.
Gosto de seus contos Elvira e vamos seguir para ver o comportamento dele.
Mas cuide-se e esteja atenta as alterações.
Deus abençoe os procedimentos amiga.
Meu terno abraço de paz.
Eu julgo que sei o que é.
Porque na época me fez recordar um familiar, o Álvaro, e o seu filho Luís.
Vou continuar a ler para me certificar.
Boa semana
Tenho quase a certeza que não li, mas logo veremos!
Boa sorte na ida ao médico, espero que sejam apenas temores sem razão.
E uma boa semana!!!
Não me lembra de a ter lido.
As melhoras.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bom dia
Não me recordo da história , e até nem sei se nessa altura já era seguidor deste blog.
Vou com certeza seguir a história com todo o gosto.
JR
Desta vez, vou aproveitar e iniciar já a leitura :)
Tenho pirâmides e arranha-céus de leituras "penduradas" há muitos e muitos meses. Não lhes quero acrescentar mais nada.
Abraço grande, Elvira!
Pelo capítulo inicial, não lembro...Vou acompanhar!
TE CUIDA bem ,os olhos merecem suidados sempre!
beijos, tudo de bom,chica
Desta vez não vou dizer ...pela data, devo ter lido este conto, mas....fico caladinha que é melhor. Cuida-te, Amiga! Um beijinho e...gosto muito das tuas histórias, mesmo repetidas
Emilia
Não conheço a história. Já a seguir :)
Bwijinho, Elvira
Acho que ainda não tinha lido, ou não me lembro. Vou acompanhar!
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Sonhos, vontades, e outros desejos ...
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Beijos, e excelente semana.
A passar por cá para conhecer mais uma história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Gostei do tema e estou curiosa... Vou acompanhar.
Melhoras e boa semana. Abraço.
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Apesar de gostar de histórias novas, não me importo de ler histórias mais antigas até porque não conheço uma grande parte delas (ainda)!
Bjxxx
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Em 2016 já andava por aqui e o título "Uma noite de Inverno" não me é estranho, mas vou querer ler o próximo capítulo...
Um abraço e as melhoras para a Elvira.
Eu, como alguns leitores,
fiquei curioso. Vou pesquisar,
mas não sem antes deixar um
beijo e dizer que sinto saudades,
muitas.
Boa tarde Elvira,
Não me recordo desta história e gostei imenso do início, que poderia ter sido real.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Não li em 2016, mas vou ler em 2021.
O tema é forte!
Beijo Elvira, cuide bem de si.
Não me lembro tê-la lido antes, vou acompanhá-la, pois promete ser muito boa.
Abraços
Furtado
Sempre os valores... a família, o amor, lealdade e todos os outros que deveriam conseguir fazer de nós pessoas melhores, mais humanos e mais felizes. Sempre com um conteúdo virado para o ser e não para o ter e uma componente histórica que nos vai muito certamente transportar para um passado distante o suficiente para que a geração abaixo dos 50 o desconheça.
Um forte abraço de saudades
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