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24.7.14

ISABEL PARTE XIX


                                           foto da net

Isabel permaneceu nos correios durante um bom bocado. Depois de expedir as cartas, dirigiu-se aos expositores de livros, e fingindo escolher um, lá permaneceu por quase meia hora, e quem sabe não teria ficado mais tempo se entretanto não chegasse a hora do encerramento. Tinha medo de voltar a encontrar Miguel. Não se reconhecia. Ela que enfrentara com coragem a morte do marido daquela forma brutal. Que lutara pelos seus sonhos mesmo quando não dormia para cuidar dos pais. Que era feito daquela mulher forte, a quem a vida madrasta não assustava? Quem era aquela mulher que tremia feito criança assustada na presença de um quase desconhecido?
Entrou no prédio e dirigiu-se ao elevador
- Boa tarde menina, - saudou a porteira que se dirigia para a porta da rua com um balde e uma esfregona.
- Boa tarde D. Rosa. Desculpe não a tinha visto. E dizendo isto abriu a porta do elevador.
- Não faz mal menina. Tenha cuidado ao sair do elevador, o chão pode não estar seco ainda.
- Terei cuidado. Até logo e obrigada pelo aviso
- Até logo menina. Vá com Deus.
Isabel fez subir o elevador. Muitas vezes subia a escada. Afinal embora o prédio fosse de 10 andares ela vivia logo no 2º.
A conversa com a porteira tivera o condão de a desviar dos seus pensamentos e sentia-se agora mais calma.
Quando em 2007 ela fora morar para o prédio já a D. Rosa lá estava. Era uma mulher sozinha. O marido morrera há anos e o único filho que tivera emigrara para França. Queria fugir dum futuro sem esperanças. Lá casou e lá foi pai por duas vezes. A princípio vinha sempre a Portugal, todos os anos em Agosto. Depois os filhos começaram a crescer, foram para a escola, arranjaram amigos e foram-se desinteressando das férias em Portugal. Afinal lá é que era a sua terra e lá estava o seu futuro. Se a nora fosse portuguesa, decerto faria pressão para vir ver a família. Mas não era. Aos poucos as visitas foram rareando. A última vez que viu o filho e os netos foi no funeral do marido. Nessa altura o filho insistiu em levá-la, tinha lá boa vida comprara casa nova e até tinha um quartinho para a mãe. Mas ela não quis. Costumava dizer “Vivi aqui toda a vida, quero repousar aqui". E depois eles têm lá a sua vida os seus costumes e eu ia para lá servir de estorvo. São outras terras, outras modas."E burro velho não aprende línguas".Aqui, tenho a sorte de ter este trabalho, tenho a casa, não pago renda, os inquilinos são como amigos, tratam-me com carinho que mais hei-de querer?”
Um dia Isabel perguntou-lhe: - Mas não tem saudades deles?
-Ai menina, se tenho. É uma mágoa sem tamanho. Mas sabe a minha avó sempre dizia. Quando casamos uma filha, ganhamos um filho, quando casamos um filho perde-mo-lo.
- Nem sempre D. Rosa, nem sempre.
- Claro, menina há excepções. Mas do mesmo modo que uma filha puxa o marido para nós, a nora também puxa o marido para a família dela.
Isabel gostava dela. Talvez fosse a solidão das duas que as aproximava.
Tomou um duche rápido, envolveu-se num roupão de seda e dirigiu-se à cozinha.
Não lhe apetecia cozinhar. Procurou no frigorífico as sobras. Tinha um pouquinho de frango assado. Também um restinho de arroz branco. Meia alface, um pimento, e um tomate.
Na dispensa havia sempre uma latinha de milho. Decidida fez uma salada de frango.

Continua

Bom fim de semana.
Tenho andado a caminho de Lisboa, com o maridão que tem andado em exames médicos e que foi ontem operado a uma catarata. A cirurgia correu bem e segunda feira vai ser operado ao outro olho. O tempo para os blogues e visitas tem sido por isso mais curto. As minhas desculpas

12 comentários:

Unknown disse...

Gostei de conhecer D. Rosa que diz a respeito de casar os filhos está, na maioria das vezes, certo.
Espero a continuação.
Boa sorte.
Beijos,
Renata

Bell disse...

Que de tudo certo com a cirurgia do seu marido.

Uma pena qdo os filhos esquecem de seus pais.

bjokas =)

lis disse...

Oi Elvira
Voltando ao nosso convívio e as crônicas contos poemas e o carinho dos amigos,
Que tudo corra bem em tudo que fizeres,
Volto depois para pegar pé no seu conto.
um abraço

madrugadas disse...

Por vezes a vida prega-nos destas coisas. Os filhos casam e os pais ficam mais sós, Tristes e isolados.
Hoje tanto faz ser um filho ou uma filha a situação é sempre igual.

Edum@nes disse...

Queria fugir dum futuro sem esperança,
é a que, actualmente, se vive Portugal
o filho de Dona Rosa tinha emigrado para França
de Isabel que seja feliz o final!

Um abraço.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa noite,
A Dona Rosa é uma pessoa simpática, como todas as mães tem algum receio de perder o contacto com filho(s), a realidade é que os filhos podem esquecer tudo mas nunca esquecem o amor que a mãe lhe deu e da comida cozinhada pela mesma.
Dia feliz
AG

http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

Existe Sempre Um Lugar disse...

Votos para que tudo corra bem com o seu marido e que a recuperação seja perfeita e rápida.
AG

http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

Duarte disse...

Há muito que não via esta palavra escrita, "puxa", quantas coisas recordo lendo aquilo que escreves.
A minha avó também dizia o mesmo, mas com outras palavras. Com razão, pois a mulher é a que acaba por levar a família aos familiares. Creio que, neste caso, eu fui uma excepção, talvez por estar ausente da terra.
Um grande abraço e que tudo saia bem quanto ao teu marido.

Mônica disse...

Elvira Melhoras pro seu marido. Gostei da história. Vou reler. Com carinho Monica

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Novos personagens vão chegando, e a história vai ficando cada vez mais rica e preenchida. Só falta mesmo que a Isabel se cedida...

E boa recuperação para o marido. Também eu fui operado há uns meses a uma catarata, e dentro dalgum tempo serei a outra.

Um abraço e bom fim de semana.
Vitor

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
ESTOU GOSTANDO MUITO E ME PARECE QUE LOGO IZABEL E MIGUEL VÃO SE ENCONTRAR NOVAMENTE. TOMARA.
SORTE PARA TEU MARIDO QUE TUDO CORRA BEM COM ELE.
ABRÇS
v
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Tô quase chegando perto, amanhã leio mais dois, pois estou gostando.
Não gostaria de morar sozinha nesse imenso mausoléu.
Beijos no coração
Lua Singular