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2.7.14

ISABEL PARTE X


No dia seguinte, acordou tarde e com a cabeça pesada. O sono fora povoado de sonhos. Sonhos esquisitos, em que via um homem com o rosto encoberto, envolto em neblina. Ela sabia que o homem era Fernando era o seu corpo, o seu jeito, mas quando o rosto se tornava visível era um desconhecido com uns profundos olhos cinzentos. Depois o rosto ia-se esfumando e ficava de novo encoberto e ela voltava a ter a certeza de que era Fernando, mas então a neblina desaparecia e ela via uma figura masculina com um pé em cima de uma muralha, o corpo inclinado para a frente e o rosto voltado para o lado contrário. Era o mesmo desconhecido? Ou era outro? De uma coisa ela tinha a certeza. Não era Fernando. Mas então o homem endireitava-se e afastava-se e embora ela não lhe visse o rosto sabia que era o falecido marido.
Levantou-se, tirou uma mala que estava em cima do roupeiro e colocou-a em cima da cama. Depois abriu o roupeiro e escolheu umas calças de ganga e um top sem mangas para a viagem. Dobrou cuidadosamente o resto da roupa e meteu na mala.
Abriu uma gaveta separou duas peças de roupa intima meteu as restantes num saquinho de algodão florido, atou com a fita de cetim rosa e guardou-a igualmente na mala.
De seguida dirigiu-se à casa de banho e meteu-se no duche. Deixou que a água lhe percorresse o corpo esbelto durante alguns minutos, tentando afastar da mente a recordação do sonho esquisito que tanto a inquietava. Inutilmente. A água acalmava o corpo mas não o espírito.
Lembrou-se do Paulo. Que diabo teria acontecido para pedir transferência? Paulo era o diretor comercial de uma grande superfície. Era também o encarregado das campanhas publicitárias da empresa e fora o seu primeiro cliente. Ele acreditara no talento de uma jovem inexperiente e dera-lhe a oportunidade que a maioria dos jovens não tem. Foi um risco para ele e uma bênção para ela. Graças a esse primeiro trabalho, bem sucedido viera uma boa carteira de clientes. Paulo era um homem de quarenta e cinco anos, completamente apaixonado pela esposa e pela filha. Uma jovem que ia em breve, entrar para a Universidade. E agora? Decerto a empresa continuaria a trabalhar com ela. Pelo menos até ao fim do ano, data em que terminaria o atual contrato.
O telemóvel tocou. Isabel fechou a água enrolou-se na toalha e dirigiu-se ao quarto. A meio do corredor o aparelho calou-se e ela pensou que quem quer que fosse ligaria de novo, e voltou para a casa de banho.
Espalhou pelo corpo uma generosa camada de creme hidratante, com gestos automatizados pelo hábito, enquanto o pensamento lhe fugia para o sonho. Que quereria o seu subconsciente dizer-lhe? Porque é que o rosto de Fernando, não era visível, como em sonhos tantas vezes aparecera ao longo de muitos anos? E porque é que no fim do sonho ele se ia embora? E aqueles olhos cinzentos? Porque é que lhe apareciam no sonho, se apenas os tinha vislumbrado durante segundos?
- Esquece,- murmurou sacudindo a cabeça.


Continua


O próximo capítulo será postado no Sábado. 

13 comentários:

Olinda Melo disse...


Belíssimo texto, cara Elvira, que nos mostra o seu grande talento na escrita.

Tenho de vir actualizar-me em relação a este conto, o que farei em breve. Pelo que já li sei que é de nos prender até à ultima sílaba.

Entretanto, no sábado espero estar aqui para saber as respostas às questões colocadas no fim do texto...

Bjs

Olinda

Edum@nes disse...

O sonho misterioso continua!
quando o ia atender se calou
Isabel, no duche toda nua
quando o telefone tocou...

Para colher a flor...
chegará sem demora
anda por lá novo amor
a espreitá-la a toda a hora?

Tenha um bom dia amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

Bell disse...

Aguardo o que vem por ai...

bjokas =)

São disse...

Porque será que dizemos "esquece" quando sabemos perfeitamente que o tema não nos sairá da mente? :)

Beijinhos para si e para a sua menina, a quem desejo o melhor do mundo

Silenciosamente ouvindo... disse...

Após uma prolongada ausência dos
blogues e ainda com muito pouco
tempo para estar ao computador,
não quis deixar de visitar o seu
blogue. Estive a ler os seus
últimos textos, e fiquei mtº.
agradada com os mesmos.
Vou voltar.
Desejo que esteja bem.
Bj.
Irene Alves

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde,
O conto é cativante, é misteriosos o Fernando não mostrar o rosto, possivelmente ela sabia que o sonho tinha mais com o Paulo do que com ele.
Fique bem
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Estou gostando do conto, me assustou um pouco, pois você está criando esse conto e eu já vivenciei tal pesadelo, mas ninguém acredita, deixa pra lá....
Beijos
Lua Singular

ONG ALERTA disse...

Continuamos lendo...
Beijo Lisette.

RENATA CORDEIRO disse...

Quando dizemos "esquece" parece que desejamos dizer exatamente o contrário.
Estou adorando a história.
Beijos, Elvira,
Renata

Lilá(s) disse...

Vim actualizar-me... belíssimo texto, cada vez com mais suspense!
Bjs

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
CREIO QUE A ISABEL NÃO VIU NO SONHO O ROSTO DO FERNANDO, POR SER UM AVISO DE QUE NOVOS TEMPOS SE APROXIMAM DELA, TOMARA.
CADA VEZ MELHOR,
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Evanir disse...

Mais que uma mão estendida
mais que um belo sorriso
mais do que a alegria de dividir
mais do que sonhar os mesmos sonhos
ou doer as mesmas dores
muito mais do que o silêncio que fala
ou da voz que cala, para ouvir
é, a amizade, o alimento
que nos sacia a alma
e nos é ofertado por alguém
que crê em nós.
Sua amizade e carinho mesmo
que você não acredite me faz um bem
enorme.
Deus abençoe seu final de semana
deixo aqui meu carinho e todo sentimento ,
mais pur
o que trago na alma.
Beijos no seu lindo coração.
Evanir.

Duarte disse...

Hoje, por fim, pude deleitar-me com a tua narrativa: que capacidade a tua, tanto para criar situações como para descrevê-las. Bem sei, são experiencias da vida, mas nem sempre se é capaz de narrar assim, é um dom que possui o ser, TU.

Por fim pude por-me ao dia. A saúde dum familiar obrigou-me a estar algo ausente.

Um grande abraço, querida amiga