Pedro
saiu do consultório como se fosse perseguido por mil demónios. Quatro meses.
Quatro meses eram tudo o que lhe restava. E a mãe? Tinha que pensar na mãe.
Entrou num café e pediu uma água. Precisava acalmar-se. A mãe não podia vê-lo
assim. De uma coisa tinha a certeza. A mãe não ia saber o que se passava. Ele não
ia fazer a mãe passar por esse sofrimento. Uma boa ideia seria uma viagem.
Queria que a mãe o recordasse assim como era hoje e não que o visse no sofrimento final. Morrer jovem já era mau suficiente para não querer ver o sofrimento da sua velha e amada mãe.
Finalmente,
mais calmo, pagou a água e dirigiu-se a casa.
-
Olá mãe, que tal o seu dia? - Perguntou com estudada naturalidade, enquanto se
inclinava para a beijar.
-
Que disse o médico das análises filho? Foste lá, não foste? - Perguntou ela
ansiosa.
-
Claro que fui, mãe. E não te preocupes está tudo normal. Disse que ando nervoso,
preciso de me distrair, talvez mudar de ares durante uns tempos. Nada que já
não me tivesse dito antes.
Sentia
remorsos da maneira como estava a enganar a mãe, mas consolava-o o pensamento
de que assim ela não sofreria tanto.
-
Estive a pensar que vou tirar umas férias e vou para qualquer lado, descansar.
-
Acho bem, filho. Claro que me custa estar longe de ti, mas se é pela tua saúde,
acho bem.
-
Mas a mãe não fica longe. Vai comigo - disse antevendo a resposta da mãe.
-
Isso não, filho. Eu só seria um estorvo para ti. Nunca estarias descansado, e
acabarias por levar a mesma vida que aqui. Vou escrever à minha irmã Rosa, para
que venha passar um tempo comigo. E tu poderias ir para a casa da Palmira, a
irmã do teu pai. A casa é grande e ela está sempre a convidar-nos. E aqueles
ares de lá são muito bons para a saúde.
De
repente Pedro pensou que nunca tinha ouvido a mãe dizer a palavra falecido,
quando se referia a seu pai. Dizia sempre o teu pai, ou o meu homem, como se
nunca tivesse aceitado a sua morte e continuasse à espera que ele chegasse a
qualquer momento. Lembrou da tia Palmira, da sua simpatia e pensou que talvez
fosse boa ideia ir para lá. Depois se não se desse bem poderia sempre recorrer
a um hotel.
-
Seja minha mãe. Amanhã falo com o patrão e peço férias.
Continua
BOM FIM DE SEMANA
14 comentários:
Estará o Pedro, de férias em casa da tia Palmira!Terá acontecido o milagre e o Pedro continua a viver. Isso que com certeza iremos saber, nos próximas capítulos de vidas cruzadas. Textos escritos e publicados por Elvira Carvalho. Bom fim de semana, para você amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.
Fico esperando...
Bom fim de semana, amiga
Vamos esperar que o Pedro saia desta!
Abraços Elvira!
Mariangela
Sempre existe esperança. Vamos ver que caminho dará. Bjs.
E pára sempre no momento em que eu queria continuar a leitura...
Beijo.
isa,
Difícil decisão a de mentir, mas perfeitamente compreensível.
Abraço do Zé
Olá, Eelvira!
História dramática e pesada, esta - e sobretudo muito bem contada:Que tendo sido verdade ou pura ficção, terá acontecido com tanta gente.
Estou a gostar, e cá fico à espera do próximo capítulo.
Bom resto de Domingo, e abraço amigo.
Vitor
Olá amiga, adorava continuar a leitura, embora pelo titulo, tudo me leva a crer, que os exames não são dele, mas do jovem que encontrou no consultório. Agora fico em pulgas. Beijos com carinho
Bom dia, estimada Elvira!
Como estão?
Sabe que tirei a fotografia do seu Pedro, ou melhor do Pedro da sua história, para juntar a outras que tenho de pessoas amigas?
Então, o Pedro vai viajar. Está a dar a volta à história. Nunca se sabe quem poderá encontrar lá pelas bandas da casa da tia.
O rapaz, está sã, que nem um pero. Basta olhar para a carinha dele.
Agradeço o seu engraçadíssimo comentário.
Boa semana.
Beijos para todos e saúde.
Elvira,
Consegue sempre colocar os ingredientes necessários para manter a história viva. Muito bem.
Beijo :)
Será que não contar nada à mãe é a melhor coisa a fazer? Adiar o inevitável nunca me pareceu ser uma boa ideia...
Desejo-lhe uma semana de muita paz e tranquilidade. Estou aguardando o destino que dará a Pedro. Bjs.
Achei bem não contar à mãe, porque milagres existem e assim evita sofrimento às pessoas que o amam. Quem sabe, ele não se cura? Tenho esperanças que sim!!! História muito bem contada, Elvira, como sempre. Um beijinho e fica bem.
Emília
Terrível, viver com o sentimento da proximidade do fim
Beijinho Elvira
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