Humberto Delgado saudando a multidão no Porto.
Foto da net
Na Seca a safra já tinha
terminado e o pessoal que ali trabalhava todo o ano, voltara à rotina de
reparar tinas, caiar armazéns, reparar arames partidos e cortar o canavial. Um dos cunhados do
Manuel estava na tropa, e o outro conseguiu por esses dias empregar-se na CUF,
e embora continuasse a viver no barracão, como trabalhava no turno da noite,
dormia de dia, e Manuel deixou de contar com a sua ajuda. Os filhos estavam na
escola. A mais velha ia todos os dias para o Barreiro, já que na Telha a escola
era só até à 3ª classe. A Gravelina cuidava da casa, e da criação que entretanto
fora conseguindo, e por vezes dava uma ajuda na rega. Mas ele não gostava muito
de a ver no quintal. Ela continuava com problemas de saúde. Agora de vez em
quando tinha uns ataques que ninguém a segurava. Os vizinhos já falavam que ela
devia ter algum “encosto”, alguma promessa que decerto os pais fizeram e não
cumpriram e agora andavam a atormentar a filha.
Manuel não sabia se havia
de acreditar ou não. Mas lá que eram una ataques esquisitos eram. No último
esteve largos minutos desacordada e depois de repente, começara a gritar,
rasgara a roupa, arranhava-se e mordia-se e ele aflito até mandara as crianças
para casa do cunhado, para elas não verem assim a mãe. Depois que recuperou,
andou quase uma semana prostrada e sem forças. Agora estava bem mas e até
quando?
No 1º dia de Maio, a
Comissão Central da União Nacional decide rejeitar a reeleição de Craveiro
Lopes e propor a candidatura de Américo Tomaz.
Uns dias depois são
desencadeadas várias greves políticas que mobilizaram mais de 50 000
trabalhadores. A 10 desse mês, em conferência de imprensa no Café Chave de
Ouro, Humberto Delgado afirma que se for eleito demite Salazar. Enquanto isso
Américo Tomás entrega o processo da sua candidatura no STJ.
Dias depois, Humberto
Delgado visita o Porto, é entusiasticamente recebido por uma multidão de 200 000
pessoas. Porém quando regressa a Lisboa, a manifestação de apoio que o
aguardava em Santa Apolónia, foi reprimida pela polícia. Também o comício
realizado a 18 desse mês no Liceu Camões foi rodeado de fortes medidas de
segurança pelas autoridades.
A 29 de Maio o comício de
Humberto Delgado em Almada termina com o pacto de Almada, no qual Arlindo
Vicente desiste da sua candidatura em favor de Humberto Delgado.
Se o mês de Maio foi efervescente o de Junho não foi
mais calmo. Desde logo porque as eleições realizadas no dia 8 de Junho, “deram”
a vitória a Américo Tomaz o candidato do regime.
BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS ESTEJAM OU NÃO DE FÉRIAS.
ESTA HISTÓRIA VOLTA PARA A SEMANA
ESTA HISTÓRIA VOLTA PARA A SEMANA
20 comentários:
Hola Elvira:
Me encanta imponerme o recordar la historia de Portugal, gracias a tus escritos.
Un beso.
A superstição sempre imperou diante de problemas de saúde que ainda não foram diagnosticados. Continuo a acompanhar seus histórico, tão rico e detalhado. Bjs.
As eleições deram vitória a Américo Tomaz, embora se suspeite que o resultado foi manipulado pelo governo de Salazar... como convém a um ditador! ;)
Engraçado que estou a ler um livro em que a mulher também tem ataques desses! "Maus olhados" acreditava-se na época... :D
Beijocas, Elvira!
Que saudades que eu tenho do Salazar, amiga. E olhe que eu nasci muito depois dele morrer.
Há quem, apesar de ter vivido nos tempos doutra senhora, prefira o país que nós agora temos, com a gente que agora tem e, principalmente, a mentalidade que hoje em dia reina...
A Gravelina de volta à história trazendo à lembrança semelhanças, no "diagnóstico" das doenças com ataques. No Brasil, também diriam que era "encosto" e que teriam de se chamar um padre ou uma rezadeira.
Interessante momento político, em Portugal.
Bom final de semana, Elvira.Virei, para o próximo capítulo
Bejos
Promessas não cumpridas... que castigo para a próxima geração dos nossos políticos. Se assim pudesse ser, varreriámos a terra de uma linhagem inteira de sem-palavras. Não acredito nesse tipo de coisa. Acredito nas doenças da alma que afloram para o corpo, isso sim! Era tudo tão sofrido... e/ou ainda o é, mas agora existem as pílulas da felicidade.
Obrigada pela leitura!! Bom fim de semana!
Beijus,
E depois tivemos de "gramá-lo" durante umas dezenas de anos.
Felizmente que um dia ... o sol nasceu!
Beijinho amiguita
Seria muito bom que actualmente a Oposição também se unisse!!
Bom fim de semna, amiga
"Obviamente, demito-o."
A resposta do Humberto Felgado ficou célebre.
Elvira, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Estamos em 1958, não é? Identifico o ano por causa das eleições presidenciais em que Humberto Delgado foi candidato, mesmo sabendo que seria quase impossível ganhar... Mas marcou presença e já eram ventos de mudança a soprar.
O que teria a Gravelina? Emocionaram-me os cuidados do Manuel.
Bom domingo.
Bjs
Olinda
.
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. e assim . dia.a.após.dia . mês.após.mês . se conta uma história também nossa .
.
. um beijo meu .
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Beleza de texto Elvira! Sempre muito localizado no tempo! Acho que depois de acabar a saga de Manuel, você deve compilá-los em um livro e publicar. Tenho certesa que ficará muito interessante!
Um abração!
Continuo a acompanhar com todo o interesse este trabalho histórico rico em detalhes.
Boa semana
Beijinhos
Elvira
É com grande interesse que continuo a acompanhar a saga do Manuel. Apesar da narração das desgraças que lhe vão acontecendo, gostaria de sublinhar o que resulta evidente deste artigo: o carinho pelos filhos que leva Manuel a sacrificar-se para lhes dar uma escolaridade superior àquela que era obrigatória.
Beijos
Ainda ontem passei por essa praça onde Humberto Delgado saudou a multidão.
Será que ainda há Homens como o General Humberto Delgado?
Bem era preciso.
Tudo de bom.
;)
:)
Elvira,
Esta saga do Manuel é autêntico serviço público, há memórias que nunca deverão ser esquecidas.
Obrigado.
Beijo :)
Não tenho saudades nenhumas do passado, talvez porque ainda o vivi, mas relativamente aos nossos dias e ao nosso governo, obviamente demitia-o se isso estivesse na minha mão.
Abraço do Zé
Corre a vida numa tela
Fotograma verdade, fotograma mentira
A preto e branco bate um seco coração
Uma mulher diz que no amor é verdadeira…
Vem comigo ao cinema paraíso
Boa semana
Doce beijo
Minha querida
Mais um bocado da história do nosso País muito bem contada..,.e é bom para não esquecermos.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Ainda me lembro bem da expressão " ficou bem no exame da 4ª classe" Era assim que se dizia na minha aldeia. Continuo a acompanhar estas tuas aulas de história tão interessantes e só espero que a mulher do Manuel não tenha nada de grave. Os " encostos " também eram frequentes lá na minha aldeia e era um problema não se cumprir uma promessa. Um beijinho e muito obrigada pela partilha de factos tão importantes. Fica bem
Emília
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