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6.7.12

MANUEL OU A SOMBRA DE UM POVO - PARTE XLI


 Humberto Delgado saudando a multidão no Porto.
Foto da net

Na Seca a safra já tinha terminado e o pessoal que ali trabalhava todo o ano, voltara à rotina de reparar tinas, caiar armazéns, reparar arames partidos e cortar o canavial. Um dos cunhados do Manuel estava na tropa, e o outro conseguiu por esses dias empregar-se na CUF, e embora continuasse a viver no barracão, como trabalhava no turno da noite, dormia de dia, e Manuel deixou de contar com a sua ajuda. Os filhos estavam na escola. A mais velha ia todos os dias para o Barreiro, já que na Telha a escola era só até à 3ª classe. A Gravelina cuidava da casa, e  da criação que entretanto fora conseguindo, e por vezes dava uma ajuda na rega. Mas ele não gostava muito de a ver no quintal. Ela continuava com problemas de saúde. Agora de vez em quando tinha uns ataques que ninguém a segurava. Os vizinhos já falavam que ela devia ter algum “encosto”, alguma promessa que decerto os pais fizeram e não cumpriram e agora andavam a atormentar a filha.
Manuel não sabia se havia de acreditar ou não. Mas lá que eram una ataques esquisitos eram. No último esteve largos minutos desacordada e depois de repente, começara a gritar, rasgara a roupa, arranhava-se e mordia-se e ele aflito até mandara as crianças para casa do cunhado, para elas não verem assim a mãe. Depois que recuperou, andou quase uma semana prostrada e sem forças. Agora estava bem mas e até quando?
No 1º dia de Maio, a Comissão Central da União Nacional decide rejeitar a reeleição de Craveiro Lopes e propor a candidatura de Américo Tomaz.
Uns dias depois são desencadeadas várias greves políticas que mobilizaram mais de 50 000 trabalhadores. A 10 desse mês, em conferência de imprensa no Café Chave de Ouro, Humberto Delgado afirma que se for eleito demite Salazar. Enquanto isso Américo Tomás entrega o processo da sua candidatura no STJ.
Dias depois, Humberto Delgado visita o Porto, é entusiasticamente recebido por uma multidão de 200 000 pessoas. Porém quando regressa a Lisboa, a manifestação de apoio que o aguardava em Santa Apolónia, foi reprimida pela polícia. Também o comício realizado a 18 desse mês no Liceu Camões foi rodeado de fortes medidas de segurança pelas autoridades.
A 29 de Maio o comício de Humberto Delgado em Almada termina com o pacto de Almada, no qual Arlindo Vicente desiste da sua candidatura em favor de Humberto Delgado.

Se o mês de Maio foi efervescente o de Junho não foi mais calmo. Desde logo porque as eleições realizadas no dia 8 de Junho, “deram” a vitória a Américo Tomaz o candidato do regime.

BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS ESTEJAM OU NÃO DE FÉRIAS.
ESTA HISTÓRIA VOLTA PARA A SEMANA

20 comentários:

esteban lob disse...

Hola Elvira:

Me encanta imponerme o recordar la historia de Portugal, gracias a tus escritos.

Un beso.

MARILENE disse...

A superstição sempre imperou diante de problemas de saúde que ainda não foram diagnosticados. Continuo a acompanhar seus histórico, tão rico e detalhado. Bjs.

Teté disse...

As eleições deram vitória a Américo Tomaz, embora se suspeite que o resultado foi manipulado pelo governo de Salazar... como convém a um ditador! ;)

Engraçado que estou a ler um livro em que a mulher também tem ataques desses! "Maus olhados" acreditava-se na época... :D

Beijocas, Elvira!

Anónimo disse...

Que saudades que eu tenho do Salazar, amiga. E olhe que eu nasci muito depois dele morrer.
Há quem, apesar de ter vivido nos tempos doutra senhora, prefira o país que nós agora temos, com a gente que agora tem e, principalmente, a mentalidade que hoje em dia reina...

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

A Gravelina de volta à história trazendo à lembrança semelhanças, no "diagnóstico" das doenças com ataques. No Brasil, também diriam que era "encosto" e que teriam de se chamar um padre ou uma rezadeira.
Interessante momento político, em Portugal.

Bom final de semana, Elvira.Virei, para o próximo capítulo
Bejos

Luma Rosa disse...

Promessas não cumpridas... que castigo para a próxima geração dos nossos políticos. Se assim pudesse ser, varreriámos a terra de uma linhagem inteira de sem-palavras. Não acredito nesse tipo de coisa. Acredito nas doenças da alma que afloram para o corpo, isso sim! Era tudo tão sofrido... e/ou ainda o é, mas agora existem as pílulas da felicidade.
Obrigada pela leitura!! Bom fim de semana!
Beijus,

Kim disse...

E depois tivemos de "gramá-lo" durante umas dezenas de anos.
Felizmente que um dia ... o sol nasceu!
Beijinho amiguita

São disse...

Seria muito bom que actualmente a Oposição também se unisse!!

Bom fim de semna, amiga

Nilson Barcelli disse...

"Obviamente, demito-o."
A resposta do Humberto Felgado ficou célebre.
Elvira, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Olinda Melo disse...

Estamos em 1958, não é? Identifico o ano por causa das eleições presidenciais em que Humberto Delgado foi candidato, mesmo sabendo que seria quase impossível ganhar... Mas marcou presença e já eram ventos de mudança a soprar.

O que teria a Gravelina? Emocionaram-me os cuidados do Manuel.

Bom domingo.

Bjs

Olinda

. intemporal . disse...

.

.

. e assim . dia.a.após.dia . mês.após.mês . se conta uma história também nossa .

.

. um beijo meu .

.

.

Andre Mansim disse...

Beleza de texto Elvira! Sempre muito localizado no tempo! Acho que depois de acabar a saga de Manuel, você deve compilá-los em um livro e publicar. Tenho certesa que ficará muito interessante!

Um abração!

Lilá(s) disse...

Continuo a acompanhar com todo o interesse este trabalho histórico rico em detalhes.
Boa semana
Beijinhos

Fátima Pereira Stocker disse...

Elvira

É com grande interesse que continuo a acompanhar a saga do Manuel. Apesar da narração das desgraças que lhe vão acontecendo, gostaria de sublinhar o que resulta evidente deste artigo: o carinho pelos filhos que leva Manuel a sacrificar-se para lhes dar uma escolaridade superior àquela que era obrigatória.

Beijos

Anónimo disse...

Ainda ontem passei por essa praça onde Humberto Delgado saudou a multidão.

Será que ainda há Homens como o General Humberto Delgado?

Bem era preciso.

Tudo de bom.

;)
:)

AC disse...

Elvira,
Esta saga do Manuel é autêntico serviço público, há memórias que nunca deverão ser esquecidas.
Obrigado.

Beijo :)

Zé Povinho disse...

Não tenho saudades nenhumas do passado, talvez porque ainda o vivi, mas relativamente aos nossos dias e ao nosso governo, obviamente demitia-o se isso estivesse na minha mão.
Abraço do Zé

O Profeta disse...

Corre a vida numa tela
Fotograma verdade, fotograma mentira
A preto e branco bate um seco coração
Uma mulher diz que no amor é verdadeira…

Vem comigo ao cinema paraíso


Boa semana


Doce beijo

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Mais um bocado da história do nosso País muito bem contada..,.e é bom para não esquecermos.


Um beijinho com carinho
Sonhadora

Emília Pinto disse...

Ainda me lembro bem da expressão " ficou bem no exame da 4ª classe" Era assim que se dizia na minha aldeia. Continuo a acompanhar estas tuas aulas de história tão interessantes e só espero que a mulher do Manuel não tenha nada de grave. Os " encostos " também eram frequentes lá na minha aldeia e era um problema não se cumprir uma promessa. Um beijinho e muito obrigada pela partilha de factos tão importantes. Fica bem
Emília