O Gazela, por muitos considerado o mais belo navio bacalhoeiro
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Mas em Portugal as condições de vida eram cada dia mais degradantes. Enquanto o governo exportava para os países em conflito, principalmente para a Alemanha, açúcar, tabaco e volfrâmio, em Portugal havia racionamento para alguns, e fome para a grande maioria.
Os pobres viam-se privados dos bens mais elementares. E quando um despacho Salazarista obrigou à diminuição de salários, a indignação ferveu.
Na Seca do Bacalhau, foi necessário substituir o lenhador, que por demais idoso, já não tinha forças para manusear os pesados troncos de azinheira. O escolhido foi o Manuel, que deixava assim de trabalhar na safra, e passava para o armazém da lenha.
Naquela altura, todos os fogões na seca, eram a lenha. Entre a “malta” dos homens, e a oficina onde se faziam as peças de serralharia, havia um armazém sempre cheio de troncos de azinheira e pinheiro, que chegavam em camiões e eram depois cortados, rachados e transformados em pequenos cavacos, que eram o combustível, dos grandes fogões das “maltas”, mas também dos pequenos fogões de todos os residentes na seca, incluindo os caseiros das duas quintas. O trabalho do Manuel, consistia não só em preparar esses troncos, serrando-os primeiro em bocados mais pequenos, numa enorme serra de rodear, rachando-os depois em pequenos cavacos, trabalho para o qual usava não só um machado, como também quando os troncos eram mais duros, uma cunha de aço e duas marretas, uma de oito quilos e outra de dezasseis, que ele baptizara de Segunda-feira.
Depois dos troncos transformados em cavacos, havia que transportá-los até ao seu destino em carros de mão.
Foi nessa altura que ganhou o apelido que o acompanhou o resto da vida, “Manel da Lenha”. E como durante todo o ano havia gente a morar na Seca, o Manel passou a ter trabalho o ano inteiro, e deixou de ir à aldeia.
O nosso Manel, com ordenado certo todas as semanas, e sem a companhia da mãe (Piedade, continuava agarrada à aldeia onde nasceu) tornou-se num homem diferente. Amigo de borga, e de mulheres, gastava tudo o que lhe sobrava, nas "casas de meninas" em Lisboa.