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28.2.16

MANEL DA LENHA - PARTE XIX

                   
                    Três dos navios da seca

No dia 20 de Junho, dia em que a segunda filha faz 1 ano, precisamente três horas antes, nasce o tão almejado filho. O rapaz esperado desde o primeiro momento enchendo de alegria e orgulho o seu coração. Podia agora cumprir a promessa que fizera em pequeno. Dar ao filho o nome do filho do patrão, que sempre o tratara como amigo e lhe ensinara a ler.
Nesse dia quase não dormiu. Dividido entre a contemplação do filho, e  da mulher, que parecia mais cansada que das outras vezes, atento às duas raparigas, uma extremamente franzina, – não pôde ser amamentada como devia, por causa da nova gravidez – e a mais velha a caminho dos 3 anos e sempre a querer ver e brincar com a irmã, como se ela fora um boneco. Manuel estava alerta com ela. Lembrava-se do susto que apanhara uns meses atrás, quando fora dar com ela a meter pão na boca da irmãzita, e esta quase sufocada já a ficar negra. Tivera que lhe pegar pelos pés, virá-la de cabeça para baixo, e dar-lhe umas palmadas nas costas, até que por fim saltaram os pedaços de pão. E o pior foi a cara de anjinho da garota, quando disse na sua linguagem ainda trapalhona que “a mana estava a chorar, devia ter fome”. Ficou desarmado sem coragem de a castigar. Mas a partir daí o berço da menina ficou protegido por uma cancela na porta do quarto.
No mês seguinte foi a vez do Varandas ver nascer o seu primeiro rapaz.
O tempo que roda, passando sempre pelas mesmas datas numa rotina sem limite, trouxe de novo os navios e reiniciou a safra. Com três filhos pequenos, e sem ninguém que cuide deles, a mulher do Manuel não pode ir trabalhar.
E ele não consegue com o seu salário, sustentar a família.  Começou a semear alguns legumes que ajudariam, mas sem água potável perto, só à mercê da chuva, não conseguira mais do que uns raquíticos pés de couve galega. O resto do terreno estava livre de chorões e silvas, pronto para ser cavado e semeado, mas ele desistira de o fazer, pela falta de água. Fazia-lhe falta um poço. Se ele tivesse um poço, outro galo cantaria.
Era urgente que a mulher pudesse ir trabalhar, e assim o Manuel escreveu à mãe, pedindo-lhe para deixar a aldeia e vir viver consigo. Piedade já não tinha idade para trabalhar no campo, não tinha família na aldeia, nada a prendia lá.
E foi assim que no fim de Outubro, a Piedade veio viver para o grande barracão. Tomava conta dos netos e a nora podia voltar ao trabalho, apesar dela achar que a nora não estava lá muito bem de saúde.
 E o Natal desse ano não foi um Natal feliz para o nosso Manuel, apesar do rapazinho que tanto desejara. É que a mulher nunca mais fora a mesma desde o parto. Emagrecera imenso, tinha grandes olheiras, parecia estar sempre com dores. Manuel estava muito preocupado.