A Surpresa
A praia fica uns dois metros abaixo do nível da Quinta. Por isso as águas do rio, nunca iam até às oliveiras, mesmo nas marés vivas de Agosto, ou quando estava mau tempo no Inverno. O mesmo não se passa do outro lado da azinhaga onde começa a Seca que ali naquele sítio está ao nível do rio.Daí que um pouco mais à frente onde as cassas e armazéns da Seca começam, o arame farpado dê lugar a uma parede de cimento que nós chamávamos muralha. Mas ali naquele canto, onde hoje apenas se vêm ervas, existia o grande barracão de madeira onde meus irmãos nasceram e onde habitámos durante toda a nossa infância. Por isso ele estava assente em pilares de cimento, com mais de mais de um metro de altura. Para que não acordássemos em dia de marés grandes, dentro de água.
Atravessei a azinhaga e mergulhei os pés na faixa de areia, agora bem pequena, e transportada para lá por camiões da Câmara, já que a areia original da praia, desapareceu toda com o empurrar do rio para o lado de cá pelos aterros da Siderurgia Nacional. Fui caminhando lentamente. As águas de tão calmas pareciam artificiais. O sol estava prestes a desaparecer no horizonte e deixava nelas um rasto avermelhado, como uma estrada de fogo.
Sentei-me na areia entre dois tufos de junco, e perdi-me nas minhas recordações. Lembrei-me daquela vez em que saí de casa para apanhar amoras naquelas silvas do outro lado da cerca, e fiquei presa nelas sem conseguir desenvencilhar-me dos picos que me prenderam a saia. Não me recordo que idade tinha, mas era muito pequenina. Chorei tanto com medo que ninguém me encontrasse. E os meus pais aflitos percorrendo a margem do rio pensando que eu teria ido para lá e quem sabe estaria afogada.
“Vi” o meu irmão, brincando sozinho com a areia, abrindo poços e fazendo construções, e a minha irmã escondendo-se com medo dos GNR, que vinham de vez em quando a cavalo até à Seca, onde se reuniam com a Guarda-fiscal, cujo posto ficava no topo norte da malta das mulheres. “Vi” o grande barracão lá bem no cantinho, encostado à cerca, e o portão que aí havia e que a minha mãe abria todas as manhãs para o pessoal que vinha do Barreiro a pé pela Caldeira do Alemão para trabalhar na Seca. Quando passava a última pessoa, a minha mãe fechava o portão e ia com ela para o trabalho na Seca. À noite saía um pouco mais cedo e vinha na frente para abrir o portão.
Lembrei do quintal enorme que meu pai cultivava, do feijão verde, que nós comíamos cru sempre que alguma vagem nos chamava a atenção, ou quando tínhamos fome e os pais ainda não tinham vindo do trabalho, os tomates as cenouras, e até as cebolas que comíamos, com um pouco de sal.
“Vi” o meu pai encostando uma escada de madeira ao barracão, subir ao telhado e colocar lá a bandeira do seu clube, naquele ano em que o Porto foi campeão na década de 50. Era tão raro naquela altura o F.C.P. ganhar alguma coisa.
O sol desaparecera no horizonte, o dia prestava-se para dar lugar à noite, e decidi regressar a casa.
Ao chegar à Quinta quedei-me surpreendida. Na minha frente levantava-se a mulher que me intrigara uma hora antes. E era afinal uma velha conhecida…
A praia fica uns dois metros abaixo do nível da Quinta. Por isso as águas do rio, nunca iam até às oliveiras, mesmo nas marés vivas de Agosto, ou quando estava mau tempo no Inverno. O mesmo não se passa do outro lado da azinhaga onde começa a Seca que ali naquele sítio está ao nível do rio.Daí que um pouco mais à frente onde as cassas e armazéns da Seca começam, o arame farpado dê lugar a uma parede de cimento que nós chamávamos muralha. Mas ali naquele canto, onde hoje apenas se vêm ervas, existia o grande barracão de madeira onde meus irmãos nasceram e onde habitámos durante toda a nossa infância. Por isso ele estava assente em pilares de cimento, com mais de mais de um metro de altura. Para que não acordássemos em dia de marés grandes, dentro de água.
Atravessei a azinhaga e mergulhei os pés na faixa de areia, agora bem pequena, e transportada para lá por camiões da Câmara, já que a areia original da praia, desapareceu toda com o empurrar do rio para o lado de cá pelos aterros da Siderurgia Nacional. Fui caminhando lentamente. As águas de tão calmas pareciam artificiais. O sol estava prestes a desaparecer no horizonte e deixava nelas um rasto avermelhado, como uma estrada de fogo.
Sentei-me na areia entre dois tufos de junco, e perdi-me nas minhas recordações. Lembrei-me daquela vez em que saí de casa para apanhar amoras naquelas silvas do outro lado da cerca, e fiquei presa nelas sem conseguir desenvencilhar-me dos picos que me prenderam a saia. Não me recordo que idade tinha, mas era muito pequenina. Chorei tanto com medo que ninguém me encontrasse. E os meus pais aflitos percorrendo a margem do rio pensando que eu teria ido para lá e quem sabe estaria afogada.
“Vi” o meu irmão, brincando sozinho com a areia, abrindo poços e fazendo construções, e a minha irmã escondendo-se com medo dos GNR, que vinham de vez em quando a cavalo até à Seca, onde se reuniam com a Guarda-fiscal, cujo posto ficava no topo norte da malta das mulheres. “Vi” o grande barracão lá bem no cantinho, encostado à cerca, e o portão que aí havia e que a minha mãe abria todas as manhãs para o pessoal que vinha do Barreiro a pé pela Caldeira do Alemão para trabalhar na Seca. Quando passava a última pessoa, a minha mãe fechava o portão e ia com ela para o trabalho na Seca. À noite saía um pouco mais cedo e vinha na frente para abrir o portão.
Lembrei do quintal enorme que meu pai cultivava, do feijão verde, que nós comíamos cru sempre que alguma vagem nos chamava a atenção, ou quando tínhamos fome e os pais ainda não tinham vindo do trabalho, os tomates as cenouras, e até as cebolas que comíamos, com um pouco de sal.
“Vi” o meu pai encostando uma escada de madeira ao barracão, subir ao telhado e colocar lá a bandeira do seu clube, naquele ano em que o Porto foi campeão na década de 50. Era tão raro naquela altura o F.C.P. ganhar alguma coisa.
O sol desaparecera no horizonte, o dia prestava-se para dar lugar à noite, e decidi regressar a casa.
Ao chegar à Quinta quedei-me surpreendida. Na minha frente levantava-se a mulher que me intrigara uma hora antes. E era afinal uma velha conhecida…
Continua
16 comentários:
bom dia
como diz Victor Espadinha. " Recordar é viver "
um bom dia a todos !
JAFR
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Recordações fazem viver e ao final o reencontre... Vamos indo contigo! bjs, chica
Ia dizer que já li isto, mas nada me fez ainda acordar a memória. Vamos em frente!
Siga em frente, estou a gostar porque me faz lembrar os meus 20 aninhos por essas paragens!
Com o meu abraço.
Bom dia. Muito bom, vou continuar seguindo :)
Hoje: [ Natureza Instigante, enamorada...]
Bjos
Uma boa Terça-Feira
Adoro estes relatos do passado, Elvira. Afinal, também dos meus tempos de jovem, que não dos mesmos lugares.
Este capítulo fez-me recordar os do Manuel da Lenha !
Estou a gostar e intrigado sobre a mulher desconhecida !
Abraço
Amiga Elvira está recordando,
as suas aventuras de outroras
pequenina foi apanhar amoras
ficou presas nas silvas, chorando
PS: Os olhos fazem-me doer,
essas letras mais miudinhas
se puder faça-as maiorzinhas
para eu melhor as poder ler!
Tenha um bom dia, com as suas recordações. Um abraço,
Eduardo.
Que texto mais lindo, amei :D
http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/
Tão bom parar para recordar o passado, adoro fazer o mesmo.
Linda historia Elvira, quero saber tudinho.
Beijinho minha querida amiga.
Ah, recordações. Quase sempre guardamos as boas, as que nos enchem a alma por algum motivo e nunca se desvanecem.
Boa tarde Elvira :-)
Penso como se deveu sentir prendida nas silvas cando era unha menina, sei desa sensación porque eu apanho moras para facer confitura e moitas vezes também teño ficado un pouco presa nelas, pero ja de maior, claro. Admiro esa maneira de deijar a historia en suspennse ata o próssimo episodio. Moi ben, Elvira. Qué bo entretemento poder facer historias ó seu gusto e con esa facilidade. Moitos parabéms! Aperta grande.
As memórias que a memória insiste em guardar.
Abraço
Ainda não lembro se já li. Vamos continuar aguardando.
Abraços,
Furtado
Relembrar faz bem à alma!!!bj
Quem será a velha conhecida? A intriga a apimentar logo o início da história...
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